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Bares da Praça da Mandioca são proibidos de colocar mesas na rua e movimento cai 70%

Da Redação - Isabela Mercuri

Quem passou pela Praça da Mandioca na última semana pode perceber que ela está diferente. Sem mesas ou cadeiras nas calçadas, o movimento caiu drasticamente (pelo menos na parte de cima). No último dia 27 de dezembro, terça-feira, pouco depois do natal, o Ministério Público Estadual passou uma orientação para a Prefeitura de Cuiabá que, já no fim da gestão Mauro Mendes, notificou todos os estabelecimentos da ‘Lapa Cuiabana’.

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Para Mário César, proprietário há dez anos do ‘Azambuja Bar’, o que fica bem em frente à Praça, a notificação tentou atingir algumas pessoas, mas acertou outras. “Não vou dizer que não tem baderna. Tem. Mas é ali pra baixo. Nos bares aqui de cima só vem o pessoal tradicional, nunca teve briga, nada. Lá pra baixo que ficam os jovens, que badernam, urinam na porta dos moradores”, reclamou.

“Lá embaixo”, onde Mário Cesar se refere, é a Rua Ricardo Franco. Ali estão estabelecimentos que abriram recentemente, frequentados por pessoas mais jovens, aos finais de semana e mais tarde do que o que costumam abrir os bares de cima. “Eu abro às 17h e fico até meia noite, uma e meia da manhã no máximo. Aí o pessoal lá de baixo abre às dez e vai noite afora”, comenta o proprietário do Azambuja.

Segundo Mário, seu movimento caiu 70% após a proibição de colocar suas mesas na Praça. “E eles, que são os que fazem a baderna, não foram prejudicados porque o povo lá fica de pé. O meu público é mais velho, não tem como não ficar sentado”, lamenta.


Elzio Pacheco, comerciante (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto) 

A reclamação é a mesma de Elzio Pacheco. O empresário abriu seu bar, "Cantinho da Mandioca Espeto Pub" há apenas cinco meses, mas é morador da Praça há 63 anos. “Não tem como falar que diminuiu o movimento. Acabou. Noventa e nove por cento das pessoas não querem ficar na área interna do bar, e sim na rua”, lamenta.

Segundo Pacheco, a notificação veio depois que um dos moradores da Rua Pedro Celestino (onde está seu bar), que tem uma construção na Ricardo Franco (rua “de baixo”) não conseguiu passar de carro e ficou irritado. “Ele disse que juntou vinte e nove assinaturas pedindo pra tirar as mesas e liberar a rua”, lembra.

“Nós estamos conversando com o Major, com a Associação de Moradores, mas todos estão falando que vai ser muito difícil reverter a situação. Eu disse pra ele, se ele tem 29 assinaturas, tenho certeza que eu consigo muito mais dos clientes pedindo para voltar a ter mesas”, afirma. Pacheco também concorda que a parte de baixo é a mais prejudicial. “Tinha que ter uma união entre os comerciantes de cima e de baixo, mas eles [os de baixo] falam que não fazem parte da Mandioca, que fazem parte do Beco, que são independentes”, lamenta.

Leoni Magalhães é morador da parte de baixo há três anos. Aos setenta e dois, o ex-policial afirma que o abaixo-assinado foi bem vindo. “Tinha muita prostituição, drogas e anarquia. Tem que pelo menos regulamentar isso”, afirmou. O morador confirma que a reclamação partiu de um dos moradores do local, com quem ele compactua o pensamento.


Leoni Magalhães, morador (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

“Eu só vou dizer uma coisa pra você. Você gostaria de abrir a sua janela duas da manhã e ver homem beijando homem, e mulher beijando mulher? Só isso, não preciso dizer mais nada”, lamentou. Para Magalhães, o barulho também é um dos fatores que mais incomoda. “Veio aquela Roberta Sá, e outros, e colocaram o palco bem aqui na porta do meu quarto. Quem aguenta isso?”.

Leonardo Figueiredo, o ‘Bigode’, é um dos comerciantes da rua de baixo. Segundo ele, a notificação foi para todo mundo. “Como todo mundo colocava mesa, acabávamos colocando também, a pedido dos clientes. Mas não trabalhávamos com garçons nas mesas, como fazem os outros estabelecimentos”.

O empresário acredita que, apesar de não trabalhar da mesma forma que os outros – o Bigode tem música ao vivo dentro do estabelecimento – a notificação pode prejudicar a todos. “É ruim para o movimento geral da Praça e pode, se mantida a longo prazo, desmotivar as pessoas de visitarem o local”, lamentou.

Além da diminuição do movimento, a proibição de mesas fez com que não acontecesse, também, o tradicional réveillon dos moradores. “A gente sempre faz a virada de ano na Praça para os moradores, mas esse ano eu fiquei na Prefeitura a tarde toda e não consegui liberação. Eles deixaram fazer a festa, mas sem mesa e cadeira. Como a gente ia cear sem mesa? Ainda mais os moradores daqui, que são quase todos da terceira idade?”, contou Luiz Carlos Dorileo, morador e proprietário do Bar Don Luiz, aberto há oito anos no local. Para ele, o movimento também caiu 60% depois da notificação.


Luiz, proprietário do bar Don Luiz (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Diante de tantas opiniões que se contradizem, o que quase todos buscam é o diálogo. Para Maurides de Sá Costa, cuiabano tradicional, professor e que passou a infância na Mandioca, a palavra chave é a regulamentação. “Tem que regulamentar, estipular um horário. Tem gente que prefere que a Praça não seja habitada, mas eu não concordo. Se não for habitada, a região morre”, finalizou.


Praça da Mandioca (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Outro lado

A Prefeitura de Cuiabá foi procurada e, via assessoria, informou que este foi um dos últimos atos da Secretaria de Ordem Pública da gestão passada, e ainda não existe nenhuma sinalização do atual prefeito, Emanuel Pinheiro (PMDB) sobre o que será feito no espaço.

“Isso vai ser estudado, afinal de contas estão tomando pé da situação agora. A equipe de transição preparou, só que muitos secretários, como é o caso do Salles [Secretaria de Ordem Pública] ainda estão tomando pé da situação, e isso deve ser discutido e decidido não só pela pasta dele, mas pela cultura, de serviços e limpeza urbana, etc”.
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