Casar ou não casar? Atores descobrem que a maioria das histórias não tem final feliz
Raquel Mützenberg - Especial para o Olhar Conceito*
Com um bate-papo sincero sobre a relação do casal, o prólogo de “Amor Eterno” é delicioso. Os atores Claudia Ventura e Alexandre Dantas estão no palco, horas antes da cerimônia do seu casamento, dividindo com o público a dúvida de casar ou não. Eles resolvem rever contos de Arthur Azevedo sobre o amor,mas descobrem que a maioria das histórias não tem final feliz.
As intervenções com a plateia são bem dosadas e têm função na narrativa. A identificação com o casal no palco é inevitável, cativando a confiança até de quem um dia já se decepcionou. O ator Alexandre Dantas lança a pergunta: “alguém aqui é separado?”. Várias mãos orgulhosas se erguem. O ator escolhe uma senhora para questionar o motivo da separação: “Ah, ele arranjou outra, e bem mais nova!” – confessa aos risos.
As situações que o amor (ou a falta dele) cria são satirizadas pelo casal de atores, que utilizam música e apenas duas cadeiras para encenar os oito contos de Artur de Azevedo. Ela, Claudia Ventura, se destaca pela atuação e o tempo da comédia muito bem acertado.
Casados na vida real, muito do que há no espetáculo é resultado de suas experiências juntos. Eles trazem à cena a discussão do primeiro beijo que ele roubou dela, mas o “descarado”, como ela diz, esqueceu. A diretora Inês Viana trabalhou a dupla durante dois meses buscando valorizar os contos de Artur Azevedo e, ao mesmo tempo, pinçando momentos do casal que seriam úteis à cena.
A sonoplastia está sempre presente e tem um papel importante na narrativa. Os atores também cantam bastante em cena, sempre colaborando ao tom da comédia. O cenário é basicamente duas cadeiras, que se transformam em palco, bolsa, ônibus, carro, e tudo o que for preciso para que a estória seja contada.
A opção pela simplicidade do cenário, explicam os atores, é para que a produção não seja cara. No final do espetáculo, já quando a plateia saía do teatro, um espectador grita: - “Ela não vai jogar o buquê?!”. Dantas, muito sincero responde: - “Não, porque não temos patrocínio para isso”.
Durante o bate-papo os atores abordam as questões financeiras do campo teatral e confessam que o espetáculo foi planejado para ser um produto com boa aceitação de público. As gargalhadas durante toda a peça confirmam a expectativa da Companhia Falácia.
* Raquel é atriz e jornalista e não perde um espetáculo deste Palco Giratório por nada. Para nossa alegria, divide suas impressões com os leitores do Olhar Conceito. Veja mais críticas no blog Três Movimentos