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Notícias / Cinema

Entre filmes cada vez mais ‘barulhentos’, a melhor produção nacional do ano soa discrepante

Felippy Damian

Continuando no mesmo ritmo da coluna da semana passada, hoje comentaremos outro filme que tem no áudio um elemento de importância singular para a recepção, tanto no que se refere ao sentido das inserções e do tratamento do áudio, quanto na ambientação que este proporciona. Em tempos em que os filmes apostam cada vez mais no barulho, utilizando aportes publicitários comuns aos videoclips, O som ao redor soa discrepante e ousado, tecendo com zelo quase religioso a linha tênue do necessário.

Assim como Truffout que escrevia e, posteriormente, realizava seus filmes, o pernambucano Kleber Mendonça Filho anda sobre os mesmos trilhos. Já reconhecido como crítico de vários veículos distintos, Kleber lançou o documentário Crítico (2008) e no início de 2013, seu primeiro longa de ficção O som ao redor. Com a proposta clara de detalhar e trabalhar o som em autonomia das demais atividades, ele cria para si uma nova possibilidade narrativa, o que é evidenciado pela sua assinatura do desenho de som junto ao Pablo Lamar. A iniciativa, dentre outras virtudes, permite uma certa irresponsabilidade narrativa da fotografia e direção de arte, que contribuí, e muito, para a construção autoral.

Não veremos aqui nem o silêncio das últimas obras de Haneke, nem as parcerias melodiosas estranhamente bem-sucedidas como de David Lynch e Angelo Badalamenti, ou de Alejandro Iñárrito e Gustavo Santaolalla. As sequências iniciais podem induzir o público a esperar uma linguagem de documentário, linguagem que logo acaba tomando forma através da fotografia e arte realistas, que lembram de longe o neo-realismo italiano, influencia contundente o Cinema Novo.

Veja a crítica completa.
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