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Terça-feira, 16 de abril de 2024

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INSTRUÇÃO ENCERRADA

"Rodrigo Claro sempre apresentava descontrole emocional", diz tenente Ledur em audiência

12 Mar 2020 - 14:23

Da Redação - Vinicius Mendes / Da Reportagem Local - Arthur Santos da Silva

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

A tenente Izadora Ledur Souza Dechamps, que responde um processo sobre a morte do aluno soldado Rodrigo Claro, torturado no treinamento dos Bombeiros na Lagoa Trevisan, em novembro de 2016, é ouvida pelo o juiz Marcos Faleiros da Silva, da 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, na tarde desta quinta-feira (12).

Várias sessões de Instrução sobre o caso foram adiadas diversas vezes. Ao juiz Ledur afirmou que a denúncia contra ela não corresponde à verdade. Além disso, a tenente disse que Rodrigo "sempre apresentava descontrole emocional".
 
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A audiência foi iniciada às 14h, no Fórum de Cuiabá, e encerrada às 16h22. Apenas Ledur foi ouvida hoje. Esta é a primeira vez que a militar fala à Justiça sobre o caso, após sucessivos adiamentos. Apenas no ano passado as audiências foram reagendadas três vezes.

14h00 - Ledur chegou para o interrogatório acompanhada de seu advogado Huendel Rolim. O juiz Marcos Faleiros questionou a tenente se os fatos apontados na denúncia são verdadeiros. Ledur respondeu que não, que "as informação da época não foram devidamente esclarecidas".
 
Segundo a militar, a denúncia corresponde “ao ânimo do momento”. Ela disse que os aprovados no concurso, teoricamente, deveriam ter aptidão física. Ou seja, era preciso saber nadar. Segundo ela, os manuais dizem que o treinamento precisa ser continuo, progressivo e o mais próximo do real possível.
 
“O grupo de alunos seria teoricamente preparado [...] eu não posso entregar um aluno que não vai salvar [...] os exercícios devem simular a realidade [...] no treinamento nós não ensinamos a nadar”, disse. 

15h01 - Para a tenente o processo seletivo dos Bombeiros era falho, pois aprovava candidatos com aptidão pra nadar 25 metros, independente da técnica. Ela continuou a relatar ao magistrado como funcionava o treinamento. Segundo a militar, o manual de instrução cita os "caldos", que são afogamentos controlados.

Ledur ainda explicou que é previsto o treinamento de nado resistido, quando há a simulação de um bombeiro carregando alguém. Ela afirmou que todos os alunos, incluindo Rodrigo, foram submetidos a este treinamento. Ao falar sobre Rodrigo, a tenente disse que ele seria "descontrolado".

“A diferença é o comportamento de resposta do aluno [...] ele tinha um descontrole psicológico quando passava por qualquer dificuldade, o Claro sempre apresentava descontrole emocional [...] no dia que foi aplicado o nado resistido era pra ele apresentar uma resposta, uma técnica prevista na matriz curricular”, afirmou a militar.

15h53 - A tenente afirmou ao juiz que em nenhum momento houve indício de afogamento. Somente depois ela notou descontrole emocional de Rodrigo.

Ledur contou que Rodrigo foi auxiliado por colegas no retorno do nado, mas, de novo, sem apresentar afogamento. Ela mostrou fotos tiradas no dia, que segundo ela, comprovam que Rodrigo estava bem, apenas cansado.

"Ele saiu andando, subiu na moto e foi embora [...] Quando chegamos no Batalhão o coronel me informou e fomos para a policlínica", disse.

Segundo a militar, Rodrigo sofreu uma convulsão após receber medicação. Ela contou que num primeiro momento acompanhou Rodrigo com o padrasto dele. A tenente disse que logo depois a mãe chegou "começando as acusações". O soldado aluno morreu cinco dias depois.

"Ser bombeiro, ser policial militar, é colocar nossa vida em risco [...] O que eu cobrava não era nada de excepcional, era o mínimo", disse.

16h22 - O representante do Ministério Público, promotor Marcos Regenold, mencionou o depoimento de outros alunos, que contaram sobre atos abusivos de Ledur durante os treinamentos.

Ele cita que foram relatados casos de afogamentos, retirada de bóia, entre outros atos. O promotor ainda disse que em um dos depoentes descreveu casos de vômito de água após a travessia. Ledur, no entanto, negou as afirmações dos depoimentos. A audiência então foi finalizada.

Com o depoimento de Ledur foi encerrada a instrução processual, abrindo agora para diligências complementares e alegações finais.
 
O caso
 
Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e faleceu por volta de 1h40 do dia 16 de novembro de 2016. Ele teria sido dispensado no final do treinamento do curso dos bombeiros, após reclamar de dores na cabeça e exaustão. O jovem teria passado por sessões de afogamento e agressões por parte da tenente Izadora ledur.
 
O Corpo de Bombeiros informou que já no Batalhão ele teria se queixado das dores e foi levado para a policlínica em frente à instituição. Ali, sofreu duas convulsões e foi encaminhado em estado crítico ao Jardim Cuiabá, onde permaneceu internado em coma, mas acabou falecendo.
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