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Notícias / Criminal

Mensagens sobre transferência de WT e líderes do CV ao antigo Carumbé citam R$ 100 mil e ex-secretário de Segurança; veja

Da Redação/ Colaborou, Max Aguiar

Interceptações realizadas no celular de Willian Aparecido da Costa Pereira, vulgo Willian Gordão, revelaram suposto esquema executado para transferência de lideranças do Comando Vermelho da Penitenciária Central do Estado ao Centro de Ressocialização de Cuiabá, antigo Carumbé, em junho de 2020. De acordo com as investigações, R$ 100 mil deveriam ser pagos no estacionamento de um supermercado em Cuiabá. Na troca de mensagens, há citação de pedido de autorização da permuta ao então secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamante. Procurado pela reportagem, o ex-secretário negou envolvimento no caso. Veja os prints ao final da matéria. 

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O esquema seria para beneficiar Paulo Witer Farias, o WT, apontado como tesoureiro-geral do CV em Mato Grosso, e os conselheiros Jonas Gonçalves Junior, vulgo Batman e Fábio Aparecido Marques do Nascimento, vulgo Lacoste. Houve a tentativa de transferir o líder máximo do grupo, Sandro Silva Rabelo, o Sandro Louco, mas a permuta em relação a ele não foi possível.

A trama criminosa teria sido oferecida a Gordão pelo policial penal Luiz Otavio Natalino, que já o ajudava a entregar celulares aos faccionados. Otávio informou que tinha contato direto com o então diretor do Centro de Ressocialização de Cuiabá, Winkler de Freitas Teles, e que ele poderia garantir a troca.

Nos diálogos interceptados, é possível notar que a motivação da transferência foi porque Paulo WT foi espancado dentro da PCE por faccionados rivais e, por isso, precisava ir para o Carumbé, cuja segurança é mais branda, sendo, inclusive, chamado de “shopping” pelos criminosos.

Luiz Otávio, então, envia a Gordão prints de conversas entre ele e o diretor do CRC, Winkler. No diálogo, Winkler informa que o “secretário” deveria dar o aval da permuta, cobrando R$ 20 mil por cada preso, fora a parte dele. O pagamento deveria ser feito em espécie, ao segurança do secretário. O local combinado: o estacionamento de supermercado situado no bairro Santa Rosa, em Cuiabá, onde a então autoridade pública moraria.

Gordão, que também é apontado como uma das lideranças da facção em MT, concorda com os valores sugeridos por Winkler, e envia o nome de cinco detentos para a transferências. Primo de Gordão, Paulo Winter Farias, vulgo ITA ou WT, os conselheiros Lacoste e Batman, além de outros dois.

Winkler, então, elabora o pedido de permuta no dia 12 de junho, solicitando a transferência ao secretário Alexandre Bustamante. Pessoa identificada por “Sales” também aparece nas conversas como sendo primordial para a execução do plano.

No dia 16, Bustamante concede o requerimento e dá parecer positivo ao protocolo n° 93120076-12062020. “Sr Winkler de Freitas Telles, pedido de permuta, “parecer favorável positivo” da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso. Os reeducandos terão que arcar com a escolta para a transferência, com urgência para o centro de ressocialização “CRC”. Tendo a data de transferência concedida na data inicial de 16 de junho de 2020, e tendo prazo até a data de 3 de julho de 2020”, diz trecho do documento, requerido por Winkler enquanto diretor, e concedido por Bustamante e Leovaldo Sales, então secretario de ordem pública.

Confirmada a negociação, Luiz Otávio envia a Gordão prints das mensagens que trocara com Winkler, comprovando os valores pagos e a possibilidade real de efetivar a transferência. “Desses prints é possível perceber que WINKLER encaminha cópia de ofício solicitando a permuta dos presos e informa que o valor seria R$ 20.000,00 por cada preso, totalizando R$ 100.000,00”, anotou a PF no relatório investigativo.

Em seguida, a PF identificou outras mensagens contendo texto de “parecer favorável positivo” de Bustamante, autorizando a permuta ao CRC.

A PF, então, interceptou que Gordão fez diversos saques, no mesmo período da concessão do pedido. “Com base na análise dos dados apresentados, é possível estabelecer uma forte indicação de que os valores recebidos em depósitos e posteriormente sacados por Willian estão diretamente relacionados à negociação referida”.

Atualmente, Winkler está exercendo o cargo de Presidente da Fundação Pública Nova Chance (FUNAC), instituição do Governo do Estado de Mato Grosso, que tem como objetivo a reinserção social de pessoas que estão em privação de liberdade e os egressos do Sistema Penitenciário.

Outro lado

Em janeiro de 2023, Bustamante foi exonerado pelo governador Mauro Mendes do cargo de secretário de segurança, e atualmente labora como advogado. Procurado pela reportagem, ele negou os indícios apontados no relatório policial, mas se limitou a dizer apenas que “isso não existe”. Mais tarde, ele publico uma nota  alegando que não teve participação em nenhuma negociata de transferência de presos.

E que, durante o período em que esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública, não teve qualquer contato com os envolvidos nas supostas irregularidades, e no período acredita que estas transferências não ocorreram.

"Temos a convicção de que houve um equívoco na análise das informações ou que seu nome foi envolvido de forma errônea ou maliciosa pelos responsáveis e os envolvidos na investigação. Causa surpresa que os documentos, que se tornaram públicos, que mencionam a transferência de presos, não tenham sido verificados antes de a operação ser deflagrada", diz trecho da nota.
 
Procurada, a assessoria da Secretaria se manifestou por meio de nota, com o seguinte posicionamento: 
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) acompanha o andamento da Operação Ragnatela e pode implementar medidas administrativas, caso sejam necessárias. Esclarece ainda que o servidor Winkler de Freitas Teles não foi alvo de medida cautelar no âmbito da Operação. Quanto ao servidor Luiz Otávio Natalino, ele já foi afastado de suas funções. A Sesp ressalta que todas as medidas legais serão adotadas no âmbito administrativo.

Operação Ragnatela

O caso foi relevado no âmbito da Operação Ragnatela, deflagrada nesta quarta-feira (5) contra esquema comandado pelo CV, que lavou milhões de reais provenientes do tráfico, por meio de estabelecimentos comerciais de fachada, como o Dallas Bar, o Strick Pub, dois lava-jatos e um restaurante.

Segundo as investigações, o vereador Paulo Henrique Figueiredo (MDB), o cerimonialista da Câmara Municipal de Cuiabá, Rodrigo Leal, Rodrigo Anderson de Arruda Rosa, agente de Regulação de Fiscalização da Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil de Cuiabá, e o secretário adjunto da Secretaria Municipal de Ordem Pública e Defesa Civil de Cuiabá, Benedito Alfredo Granja Fontes estariam envolvidos no esquema, cujas atribuições seriam liberar alvarás para que o CV pudesse realizar shows de funkeiros nacionais com objetivo de lavar o dinheiro.





Atualizada às 17h09
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