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Sem falar em delação premiada, advogado Roberto Tardelli deixa defesa de Marcel de Cursi; veja entrevista

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Polêmico e obstinado em suas manifestações, o advogado paulista e ex-membro do Ministério Público, Roberto Tardelli, está oficialmente desligado da defesa do ex-secretário de Fazenda de Mato Grosso, Marcel de Cursi, preso preventivamente desde setembro de 2015 no Centro de Custódia da Capital (CCC), acusado de articular o mais polêmico caso de corrupção da justiça estadual, a “Operação Sodoma”. O advogado falou com Olhar Jurídico na manhã nesta sexta-feira (22), se negou a confirmar acordo de delação premiada, mas admitiu que Cursi tomou decisão que contraria a defesa.

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O advogado Roberto Tardelli, que compõe o escritório de advocacia “Tardelli, Giacon e Conway”, em São Paulo, afirma que deixa a defesa de Marcel de Cursi “por questões meramente contratuais” e que seu “desligamento foi total”, isto é, não mais representa o ex-secretário em nenhuma ação ou recurso no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT). Questionado se a decisão de Cursi tem a ver com eventual acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual (MPE), nega. “Até onde sei, não tem”.

Quem substituirá Marcel de Cursi em sua defesa, a partir de agora, Tardelli não sabe responder, mas admite que “a defesa tinha planos de prosseguir” e que a decisão de Cursi foi pessoal, tomada somente por ele.

O profissional lembra que passou a atuar na defesa do ex-secretário de Estado em setembro de 2015 e que até o momento continua “crendo na absoluta inocência de Marcel”. Em nome de seu escritório, prossegue em seu entendimento. “Estamos convencidos de que sua prisão, mais do que injusta, é abusiva”.

Roberto Tardelli tornou-se figura conhecida no jurídico Estadual tanto pelas inflamadas manifestações (sem sucesso) junto a Segunda Câmara Criminal, reivindicando habeas corpus a seu cliente, quando pelos insistentes pedidos de sigilo nas ações penais da “Sodoma”, todos negados pela magistrada Selma Arruda, que insistia que a publicidade era a regra.

O advogado, que também defende a esposa de Cursi, Marnie Almeida Cláudio de Cursi, veio às pressas para Cuiabá, em junho deste ano, quando esta fora vítima de um sequestro relâmpago, ensejado por “um sórdido vazamento seletivo de informações, estratégico e criminoso”, critica Tardelli. Aliás, ferrenho opositor a atuação da imprensa na cobertura dos escândalos da “Sodoma”, por diversas vezes defendeu que a mídia prestava desserviço ao andamento processual.

“Desde o começo do processo da Operação Sodoma, suplicávamos a decretação do sigilo processual e nunca fomos ouvidos; aliás, fomos desmoralizados, atacados e ofendidos. Pois bem, esse é o resultado do evisceramento que se confundiu (perdão, não, não se confundiu) com transparência”, afirmou. Sobre a ação penal em si, insistia se tratar de “um processo criminal ‘patológico’ e que nasceu de uma apreciação infantilizada da realidade a partir de um 'falso delator'", em referência ao empresário João Batista Rosa.

Questionado se possui outro cliente no Estado, aproveita para fazer uma avaliação pessoal de seus dias na região. “Minha estadia em Mato Grosso me rendeu excelentes amigos, a melhor aquisição que poderia fazer. Me rendeu a gentil atenção da imprensa, que algumas vezes não compreendeu exatamente o que se passava, mas tentou fazer seu papel. Me rendeu conhecer internamente o TJMT, me possibilitou debater no STF/STJ. Foram muitos momentos de intensa vibração. Além do que, pude conhecer a piraputanga, comer do Mahalo, almoçar na Chapada, com pessoas queridas. Estou aberto para retornar ao MT, sempre que for chamado, seja para advogar, seja para debater, seja mesmo para rever os bons amigos que pude fazer”, finaliza.

Marcel de Cursi:

Segundo o Grupo de Atuação Especial em Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Marcel de Cursi seria o “mentor intelectual” de um esquema de fraudes instalado no seio do executivo Estadual entre os anos de 2013 e 2014, durante a gestão Silval Barbosa (ex-chefe e hoje vizinho de cela). A suposta quadrilha teria lucrado R$ 2,6 milhões por meio da cobrança de propina em troca de incentivos fiscais do Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).

Não bastando, poucos meses depois fora novamente denunciado. O Ministério Público Estadual (MPE) instaura a “Operação Sodoma II”, que aponta Cursi como atuante ativo em uma compra fraudulenta de terreno avaliado em R$ 13 milhões. A fonte das cifras seriam empresas que mantinham contratos com o Estado.

Além das ações oriundas da “Operação Sodoma” que tramitam na Sétima Vara Criminal, sob a rigorosa batuta da magistrada Selma Rosane Arruda, Marcel de Cursi ainda é réu em ação civil, acusado de compor articulação criminosa que teria rendido a empresa JBS Friboi cerca de R$ 73.563.484,77.
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