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Notícias / Criminal

Gaeco cita que esquema era sofisticado e usou falso escritório em Nova York para atuação

Da Redação - Paulo Victor Fanaia Teixeira

“Almoços e jantares em hotéis caros, viagens internacionais, utilização de um ‘falso dono de um Banco Chinês’ e locação de imóvel luxuoso”, é “surpreendente o mise-en-scène" (teatro, fingimento) empregado pela organização criminosa para enganar suas vítimas, avaliou o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). A expressão consta da denúncia ofertada a magistrada Selma Rosane Arruda, da Sétima Vara Criminal na tarde desta segunda-feira (12). De acordo com as investigações, toda essa atuação "sofisticada", que contava com a participação do ex-vereador João Emanuel Moreira Lima, servia “para dar a aparência de negócio lícito e seguro” e "seduzir as vítimas". Entenda:

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A denúncia está relacionada à operação “Castelo de Areia”, realizada pela Polícia Judiciária Civil. Ao todo, foram denunciadas oito pessoas por constituição de organização criminosa e estelionato. Entre os nomes estão o juiz aposentado Irênio Lima Fernandes (pai de João Emanuel) e o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima (irmão do ex-vereador), os empresários Walter Dias Magalhães Júnior, Shirlei Aparecida Matsouka Arrabal e Marcelo de Melo Costa; o contador Evandro José Goulart; e o comerciante Mauro Chen Guo Quin.

“Todo este estratagema utilizado pela organização criminosa evidencia às escâncaras que não estamos tratando de mera fraude civil, mas de verdadeiro e típico estelionato, restando demonstrado o dolo abinitio. Aliás, alguns dos ora denunciados, ao serem interrogados, admitiram que nenhum dos supostos empréstimos internacionais foi concretizado”, avalia o Gaeco.

Consta na denúncia, que os acusados praticaram golpes milionários por intermédio das empresa American Business Corporation Shares Brasil Ltda e Soy Group Holdin America Ltda. As referidas pessoas jurídicas atuavam, em tese, no ramo de mercado financeiro com a captação de recursos no exterior, cujas taxas de juros teriam, supostamente, valor inferior ao praticado no Brasil, atraindo, assim, o interesse de investidores, agricultores e empresários.

Em determinado trecho, o Gaeco destaca “a forma sofisticada pela qual os investigados seduziam suas vítimas já que, conforme descoberto pelos diligentes Delegados de Polícia, eles mantinham um endereço eletrônico que remetia a uma suposta localização de uma sede da empresa em Nova Iorque que, em verdade, trata-se da localização de um colégio, residências e pequenos comércios”.

Outra estratégia ilícita supostamente utilizada pelo grupo criminoso seria o envolvimento de um homem oriental, Mauro Chen Qin, “para dar a aparência de negócio lícito e seguro”. Chen Qin “se apresentava como dono de um banco estrangeiro, e atuava diretamente na tratativa dos empréstimos fraudulentos”. Em outro trecho, apontam que a utilização de um “falso banco chinês” servia “para impressionar e dar maior credibilidade à ação dos integrantes da organização criminosa”.

Conclui o Gaeco: “chega a ser surpreendente todo o mise en scène empregado pelos investigados para ludibriar suas vítimas (almoços e jantares em hotéis caros, viagens internacionais, utilização de um “falso dono de um Banco Chinês”, locação de imóvel luxuoso, etc)”.

Modo de atuação:

Ainda de acordo com o Gaeco, a suposta organização criminosa tem o seguinte modus operandi: inicialmente captavam pessoas que tinham interesse em obter empréstimos com juros menores ou de investir em empreendimentos imobiliários; em seguida acertavam o valor do suposto empréstimo ou do investimento, que são sempre de valores altíssimos; firmavam pré-contratos do suposto empréstimo/investimento; e, após, solicitavam determinada quantia (sempre valores altos, proporcionais ao valor do suposto empréstimo) que, segundo eles, era necessária para a concretização do empréstimo/investimento; após receber os valores repassados pelas vítimas começavam a dar 'desculpas', não empregavam os valores conforme prometido e tampouco devolviam as quantias pagas pelas vítimas”, diz a denúncia.
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