O advogado Julio Cesar Domingues Rodrigues, delator da Operação Ventríloquo, entregou ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado Gaeco (Gaeco) vídeo de uma gravação de uma reunião feita com o deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB). No material, é possível ouvir o parlamentar cobrando um suposto dinheiro desviado.
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A conversa é sobre parte dos R$ 9,4 milhões pagos pela Assembleia Legislativa ao HSBC, em 2014, valor relativo a uma dívida do órgão sobre o seguro saúde dos servidores. Ao final da reunião, o agora deltor pergunta se está sendo ameaçado. Confira:
Romoaldo: “O que ta pegando?”
Júlio: “Isso aqui está igual f*** de português, já choveu uns 10 p**, 10 vezes na b*** e não peguei ninguém”.
Romoaldo: “Mas não acertou?”
Julio: “Acertar de que jeito, Joaquim não aumenta nada para mim”.
Romoaldo: “Mais eu tenho culpa?”
Julio: “Eu achei que é, é eu falei assim, eu solto um pouco aqui, mas o Joaquim aumenta um pouco aqui e eu passo essa boiada. Mas não tem jeito. Joaquim já pagou o banco e falou ‘o seu é 2,5% e da seus pulos’”.
Romoaldo: “Fez o certo”.
Julio: “E o ‘Dico’ acompanhou as reuniões. Então não tem matemática que feche”.
Romoaldo: “Você procurou eu da primeira vez, você não falou nada disso”.
Julio: “Não Tem matemática que feche. Foi falado, né deputado. Foram fases, eu até falei com o ‘Dico’. Foi o.... começo com o João Emanuel, pois passa pelo, pelo ‘Dico’, depois passou pelo senhor”.
Romoaldo: “A conversa é o seguinte, o que ta pegando”?
Julio: “O que ta pegando é que não tem. Não Tem dinheiro”.
Romoaldo: “Apareceu... em conta... eu encabecei”.
Julio: “Eu trouxe isso aqui, para nós fazer conta. Nove e meio. Para o senhor vê como não sou eu. É a maquina. Não tem como. Vezes 2,5%. 2,5% deu duzentos e pouco. Tira cento e sessenta e dois, cem sessanta e dois. Setenta e cinco e quinhentos, meus honorários”.
Romoaldo: “Eu não sei... eu nunca perguntei”.
Após contas, Júlio Cesar comenta sobre sua intenção.
Julio: “Então não sou eu deputado, eu queria muito sabe assim... queria ter te dado um milhão, um milhão e meio”.
Ambos discutem por alguns minutos e diálogo segue, até Julio questionar sobre uma possível ameaça.
Júlio: “O dinheiro ta lá. Juntaram o Joaquim, ameaçaram o Joaquim várias vezes. Pra cancelar negócio. É não sei o que, não sei o que, não seio que. Entendeu. Juntaram o Joaquim numa sala”.
Romoaldo: “Eu não vou ter prejuízo”.
Julio: “Ameaçaram o negócio”.
Romoaldo: “Eu não vou ter prejuízo, eu não vou ter, você vai ter, Joaquim não foi ameaçado não. Nunca”.
Julio: “Eu já tomei prejuízo, bastante”.
Romoaldo: “Não tem”...
Julio: “O senhor está me ameaçando”?
Romoaldo: “Não, estou ameaçando ninguém não... prejuízo”.
Julio: “Que tipo de prejuízo eu vou ter”?
Romoaldo: “Prejuízo... prejuízo é o nome da gente”.
Julio: “Que tipo de prejuízo, deputado, eu vou ter”?
Romoaldo: “Você é menino novo, cara novo, eu não vou nem mais atrás disso. Vai lá no Riva e vocês acertam isso”.
Ao final da discussão, o advogado é dispensado e deixa o local da reunião.
Conforme o Ministério Público, no período compreendido entre os anos de 2013 e 2014, em Cuiabá, os investigados Francisvaldo Mendes Pacheco, Julio Cesar Domingues Rodrigues, José Geraldo Riva, Anderson Flavio de Godoi, Luiz Marcio Bastos Pommot, Joaquim Fábio Mielli Camargo, bem como outros agentes e Parlamentares Estaduais (inserido aqui Romoaldo Junior), constituíram uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o fito de saquear os cofres públicos, notadamente os recursos públicos da Assembleia Legislativa.
Consta ainda que, formatada a organização criminosa, inclusive com clara divisão de papéis, no período compreendido entre fevereiro e abril de 2014, os investigados subtraíram dinheiro público no montante de R$ 9.480.547,69 (nove milhões, quatrocentos e oitenta mil e quinhentos e quarenta e sete reais e sessenta e nove centavos), em proveito próprio e alheio (peculato-furto), valendo-se da facilidade que proporcionava a condição de funcionários públicos de alguns de seus membros.
Consta, finalmente, que no mesmo período adrede citado, os investigados, em continuidade delitiva, ocultaram e dissimularam a natureza e a origem dos valores provenientes de infração penal (lavagem de capitais).
Julio Cesar Domingues Rodrigues, José Geraldo Riva, Anderson Flavio de Godoi e Luiz Marcio Bastos Pommot já haviam sido denunciados pelos crimes mencionados, cuja ação penal encontra-se em fase final de instrução processual.
Com relação aos Parlamentares, as investigações se encontram em andamento perante o TJMT, em face do foro por prerrogativa de função.
As investigações revelaram que o outrora colaborador Joaquim Fabio Mielli Camargo ocultou, dolosamente, o envolvimento nos fatos pelo deputado estadual Romoaldo Aloisio Boraczynski Júnior e pelo seu assessor Francisvaldo Pacheco.