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Ex-servidor da Seduc afirma que Guizardi era ríspido e grosseiro na hora de exigir propina

Da Reportagem Local - Paulo Victor Fanaia Teixeira

A Sétima Vara Criminal retomou na tarde desta sexta-feira (16) as audiências da ação penal oriunda da “Operação Rêmora”, que apura esquema de fraudes e propinas na Secretaria de Estado de Educação (Seduc). São interrogados os ex-servidores Fábio Frigeri e Juliano Haddad.

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Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), a participação de Fábio Frigeri na organização criminosa ocorria por meio do "núcleo de agentes públicos" do esquema. Além deste, havia o "núcleo de operação" e o "núcleo de empresários". Caberia à este réu administrar o andamento do esquema.

Fábio Frigeri está preso desde o início de maio, quando deflagrada a primeira fase da “Operação Rêmora”. Desde então, colecionou derrotas em pedidos de liberdade, em sede de habeas corpus, em todas as esferas do jurídico.

Confira abaixo trechos do depoimento de Fábio Frigeri:

A audiência se iniciou com cerca de 1h de atraso por conta de um advogado. O interrogado afirma que conheceu Giovani Guizardi em um almoço coletivo, este teria se apresentado como um membro do governo, um representante do grupo que poderia atender o depoente caso necessário. Estiveram neste almoço Permínio Pinto, Giovani Guizardi e Wander Luiz dos Reis.

Meses depois, solicitaram que Frigeri fosse levado para o gabinete da Seduc para conversar com Guizardi. “Ele falou que estava precisando montar um grupo político e precisava de auxílio para bancário débitos de campanha”, para tanto, precisaria aumentar sua rede contatos com o empresário.

“Eu não vi nada de errado naquele momento, não sabia o que era o grupo político que ele estava montando”, disse o réu. Passados três meses, alguns empresários procuraram Frigeri para relatar situações envolvendo a abordagem de Giovani Guizardi. “Até então não tinha informação sobre a situação”. O dono da Dínamo trataria eles de forma ríspida e grosseira, exigindo dinheiro para quitar dívidas de campanha. “Fiquei um pouco assustado”.

“Não tinha ideia daquilo ali, do que estava acontecendo”, disse Frigeri, que teria procurado Permínio para relatar a situação. “Ele falou que tomaria providências”, afirma. Diz que o próprio secretário achou aquilo estranho. Passado alguns dias outro empresário procurou Frigeri, relatando as ameaças que sofriam de Guizardi.

Adiante o réu narra que entrou em contato com Sguarezi, que demonstrava ter conhecimento do que ocorria. "Eu peço perdão doutora, pois eu não sabia que estava sendo omisso". "Quanto você ganhava para ser omisso?", dispara a juíza. O réu esquiva da resposta no começo, mas com insistência, responde. "Do Giovani e do Sguarezi eu nunca recebi nada. Somente da Seduc (salário)". Frigeri conta que deu salário na Seduc era de cerca de R$ 9.270.

Frigeri, assim como Permínio, diz que não quer incriminar nem acusar ninguém, mas que ouvia falar que Guizardi era uma pessoa problemática, temperamental e com histórico de problemas com drogas.

15h01 - Guizardi teria causado grandes constrangimentos na Seduc, pois fazia promessas sem sentido, sobre coisas que não dependiam daquela pasta. Empresários estavam reclamando da atitude dele. Diante disso, o secretário Permínio teria dito que tomaria uma atitude.

Certa feita, ao fim do dia, Permínio teria pedido uma carona para Frigeri. Quase chegando em casa, o secretário pede para desviar o carro e irem para o Buffet Leila Malouf para que Frigeri relatasse tudo o que estava vivendo dentro da Seduc para Alan Malouf. "Queria falar um pouquinho sobre essas mentiras montadas dentro dos processos, inclusive mentiras nas delações premiadas, mentiras que destruíram minha família... Pediram minha prisão...", neste momento o réu chora e pede desculpa.

"O MPE disse que eu era chefe de uma organização criminosa que eu não participei. Meu filho mandou aquilo para minha esposa querendo saber o que era. A mídia coloca essas mentiras de maneira avassaladora. As mentiras das testemunhas do MPE recebem muito mais foco da mídia que as nossas testemunhas", reclama Frigeri. Por fim, lamenta e diz que a situação é horrível.

15h05 - Ele segue reclamando que a imprensa dá demasiado foco para "as mentiras de Maradona e Ricardo Sguarezi, os piores empresários que existem para se fazer negócio". "É uma 'contação' de história para destruir a vida da gente", resume. "Empresário que vem aqui e mente que deu cheques e aí você vê que os cheques foram sacados por ele mesmo. Mentira de empresários como Antônio de Deus".

15h44 - Diz que a conclusão das interceptações foi manipulada e afirma não saber qual a formação do oficial escolhido para cuidar do estudo destes áudios, lançando sombra sobre a qualidade do estudo. Frigeri afirma que adulteraram diálogos seus com seu pai. “Eu fiquei triste com esse profissionalismo (da equipe de análise dos áudios)”. Adiante, diz que tudo o que fez foi seguir ordens da secretaria e que ele não tinha como barrar Guizardi dentro da secretaria.

Frigeri diz que ficou apavorado quando viu, já no CCC, vídeo de Giovani Guizardi recebendo propinas em uma reunião com empresários. Depois diz que lá para cá perdeu seus dois empregos, momento em que volta a chorar. Diz que estar no CCC é muito difícil, principalmente nas primeiras  noites.

Afirma que recebeu ameaças na prisão. A primeira de uma pessoa descontrolada, agressiva e que tomada diversos medicamentos controlados, Giovani Guizardi. “Na primeira vez eu relevei. Ele estava em um momento difícil e fazia uso de medicamentos”.

A segunda ameaça foi mais forte, relata Frigeri, quando Guizardi lembrou os réus da ação que eles tinham família lá fora.

A terceira teria sido pior, quando Guizardi lembrou que Frigeri possuía três filhos “lá fora” (do CCC). “Fiquei muito preocupado, me calei e nunca discuti”.

A quarta ameaça foi quando Guizardi lhe chamou para seu quarto e, já mais calmo que antes, disse que o grupo tinha contratado quatro detetives e anotado os horários e trajetos do dia a dia de sua família. “Achei que se eu fosse arrogante ou ignorante naquele momento seria pior”.

Diz que Guizardi é pessoa “extremamente agressiva e descontrolada” e que já brigou com agentes do CCC. “É bipolar e tem sérios problemas”.

Adiante, o réu acusa o Gaeco de atuar de maneira escusa. "O Marco Aurélio foi um cara muito agressivo comigo, chegou chutando a porta, chutando minha cadeira, dando tapas na mesa, tanto que meu advogado na época, Arthur, precisou intervir e dizer que se a conversa fosse naqueles termos a gente iria embora", diz e em seguida garante que por conta disto nunca sentiu-se seguro suficiente para firmar acordo de delação premiada. "Senti que ninguém ali oferecia proteção para minha família".

Narra que teve seu primeiro e único contato com Nelson Leitão no hotel Paiaguas, logo após as eleições. Frigeri também nega que tivesse sido indicado pelo deputado, mas sim por Permínio.

17h30 - Juliano Jorge Haddad é o segundo réu a ser interrogado hoje e o último nesta ação penal. Ele afirma que a denúncia é falsa em relação a sua pessoa. Narra que é professor universitário no curso de engenharia civil e que concorreu à um cargo na Seduc referente a gestão de orçamentos, área em que é especializado.

Sagrou-se vencedor na disputa e foi chamado para atuar na Seduc. Foi encaminhado para a comissão de Licitação. Diz que em algumas licitações solicitou que não participasse pois conhecia alguns dos proprietários das empresas que disputavam o certame.

Adiante, relata em detalhes como atuava na emissão de pareceres para realização de obras na pasta.

Sobre as fraudes na pasta em que atuava, Haddad é categórico. “Não tenho participação e não tenho conhecimento”. Nega que saiba qualquer coisa sobre corrupção naquela secretaria.

Sobre Luiz Fernando Rondon, o réu diz ser seu parente, mas sem qualquer intimidade.

Ao juízo, diz que nem Wander nem Frigeri lhe solicitaram que fizessem qualquer intervenção em desfavor de algum empresário.

Por fim, à sua defesa diz que todas as suas planilhas foram inseridas ao sistema da Seduc e que ninguém o solicitou qualquer alteração fraudulenta em suas funções ordinárias.

A audiência é encerrada.

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