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Militares acusados de matar tenente Scheifer só serão interrogados na Justiça em outubro

Da Redação - Vinicius Mendes

O juiz Marcos Faleiros da Silva, da 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, marcou para o dia 5 de outubro de 2020 os interrogatórios dos réus cabo Lucélio Gomes Jacinto, sargento Joailton Lopes de Amorim e cabo Werney Cavalcante Jovino, denuciados pela morte do tenente Carlos Henrique Scheifer, ocorrida em maio de 2017. O motivo do adiamento foram as medidas adotadas pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso como prevenção contra o coronavírus.

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A morte de Scheifer ocorreu há quase três anos, mas até hoje os réus não foram interrogados na Justiça. As audências já haviam sido remarcadas em novembro do ano passado, para ocorrer no final do mês de maio deste ano. 

Inicialmente elas ocorreriam nos dias 9, 11 e 13 de dezembro, no entanto, o juiz Marcos Faleiros cancelou as três em novembro, pois foi convocado pelo presidente do Tribunal de Justiça para participar das atividades referentes à Inspeção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no final do ano passado. Em despacho do último dia 27 de março, no entanto, o magistrado disse que é necessária a redesignação das sessões.

"Certifico que, em decorrência das medidas adotadas pelo Poder Judiciário de Mato Grosso para enfrentamento da situação de emergência em saúde pública, com o objetivo de prevenir o contágio pelo novo Coronavírus – Covid 19, faz-se necessária a readequação das pautas de audiência da Justiça Militar, razão pela qual remeto os autos para redesignação de sessão de instrução para oitiva das testemunhas e interrogatório dos Réus, que havia sido marcada para o mês de maio".

No último dia 1º de abril foi publicado o despacho com as novas datas das audiências. No dia 30 de setembro de 2020 devem ser ouvidas as testemunhas major PM Saulo Pellegrini Monteiro, capitão Sávio Pellegrini, major PM Lucélio Ferreira Martins Faria Franca, tenente-coronel PM Januário Antônio Edwirges Batista e 3º sargento PM Saulo Ramos Rodrigues.

A audiência seguinte deve ocorrer no dia 1º de outubro de 2020, quando serão ouvidas as testemunhas 1º sargento PM Leonildo Morbeques, 2º sargento PM Izaías Ferreira Lobo, major PM Orlando Vinicius de Souza Coutinho, 3º sargento PM Lúcio Eli Morais, 1º sargento PM Domingo Sebastião Viana dos Santos, cabo PM Diogo Muzzi Busato, 1º Sargento PM Paulo Damacena Meira e sargento PM Leandro Zuqueti.

Os réus cabo PM Lucélio Gomes Jacinto, sargento PM Joailton Lopes de Amorim e cabo PM Werney Cavalcante Jovino devem ser ouvidos no dia 5 de outubro de 2020. Neste mesmo dia, além deles, devem ser ouvidas as testemunhas Wellington Bessa A. da Silva e Fernando de Souza Neves.

Os relatos
 
As cinco testemunhas de acusação ouvidas em abril de 2019 relataram o cenário em que se deu a morte de Scheifer. A equipe do Bope, integrada pelos militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim, Werney Cavalcante Jovino e chefiada por Carlos Henrique Scheifer, teria ido ao distrito de União do Norte, próximo a Peixoto do Azevedo (695 km de Cuiabá), em maio de 2017, para atuar em uma operação contra uma quadrilha de roubos a banco, na modalidade novo cangaço.
 
De acordo com os relatos, a equipe de Scheifer foi de aeronave até a localidade e pouco depois que chegou teria recebido informações, de um suspeito que foi abordado em um posto de gasolina, sobre o local onde estariam alguns dos membros da quadrilha.
 
A equipe de Scheifer teria ido até esta residência informada e lá teriam realizado a abordagem que resultou na morte de Marconi Souza Santos, isso por volta do meio-dia. Jacinto teria sido o autor do disparo que matou Marconi, justificando que o suspeito estaria armado.
 
Segundo o tenente Herbe Rodrigues da Silva, que testemunhou, uma arma foi encontrada do lado de dentro da casa, nos fundos, enquanto o corpo de Marconi teria sido encontrado do outro lado do muro, fora da propriedade. Herbe disse que ele próprio entregou a arma a Scheifer.
 
Outras equipes da Polícia Militar, de regiões próximas, foram acionadas para dar apoio a esta operação. O soldado Vizentin, que auxiliava no recolhimento dos materiais abordados, disse à Justiça que teria visto o cabo Jacinto andando de um lado para o outro, nervoso, e dizendo “este tenente é muito legalista”, se referindo a Scheifer.
 
Os policiais localizaram um veículo, que seria dos suspeitos, que foi abandonado em uma região de mata. Já no período da tarde, a equipe do tenente-coronel Jonas Puziol foi juntamente com a equipe de Scheifer até o local onde estava o veículo, e lá Scheifer teria pedido a ele que fosse embora do local e levasse a viatura do Bope, na tentativa de simular para os bandidos que a polícia teria deixado o local.
 
Momentos mais tarde os policiais da região começaram a receber por rádio a informação de que um policiai estava ferido, e pediam informações sobre o hospital mais próximo. De acordo com as testemunhas, Scheifer teria chegado ainda com vida ao hospital, em Matupá, mas logo veio a óbito.
 
Em seu depoimento o sargento Antônio João da Silva Ribeiro teria dito que, no hospital, os três membros do Bope teriam ido sozinhos a uma sala, onde conversaram. Ele disse que os três aparentavam estar abalados, mas quando tentou se aproximar, para saber como se deu a morte de Scheifer, Jacinto teria dito para que ele se afastasse.

Os integrantes do Bope então teriam inventado a versão de que Scheifer teria morrido pelo tiro de um suspeito, o que foi desmentido depois pela perícia. Os policiais militares ouvidos ainda relataram que eram impedidos de ir ao local onde Scheifer morreu, por outros membros do Bope que já estavam no local, por que seria uma região de risco. Os militares que foram ouvidos ontem também disseram que desde o início desconfiavam da versão dada pelos três policiais do Bope.
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