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Pedidos de falência caem, mas cautela ainda prevalece

Valor Econômico

Indicadores de solvência das empresas brasileiras mostraram melhora gradual no último trimestre de 2012, com recuo dos pedidos de recuperação judicial e das requisições de falência na comparação com o terceiro trimestre do ano, segundo a Serasa Experian. Economistas, no entanto, veem os dados com cautela e observam que a receita das empresas continua a ser afetada pelo baixo ritmo de crescimento da atividade, com recuperação em velocidade bastante aquém da imaginada.

A alta e resistente inadimplência dos consumidores e a queda das concessões de crédito livre para pessoa jurídica também afetaram as companhias no ano passado. Em 2012, os pedidos de recuperação judicial saltaram 47% e as falências requeridas 11%, de acordo com dados divulgados ontem pela Serasa.

Segundo a Boa Vista Serviços, o ano passado foi a primeira vez em que houve aumento das falências decretadas, de 8,3% em relação ao ano anterior, desde a aprovação da Lei de Falências, em 2005.

Para Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa, os pedidos de falência recuaram entre o terceiro e quarto trimestres mais por uma questão sazonal, em função do aumento das vendas com o Dia das Crianças e o Natal, do que por causa da recuperação do crescimento doméstico. Entre outubro e dezembro, foram registrados 427 pedidos de falência, 100 a menos do que o requerido no terceiro trimestre do ano passado. Na comparação com igual período de 2011, no entanto, houve aumento de 2,9%.

"As empresas tiveram mais encomendas no último trimestre por causa das festas de fim de ano, o que melhora a geração de receita, mas é uma reação por causa da sazonalidade. Temos alguns setores, como bens de consumo, com sinais de recuperação, mas isso não se aplica de forma geral à atividade", afirma.

Para Almeida, bancos mais seletivos na concessão de crédito também prejudicaram a capacidade de financiamento das empresas. Nos cálculos dessazonalizados e deflacionados pela LCA Consultores, a média diária de concessão de empréstimos para pessoa jurídica caiu 2,5% entre outubro e novembro. No acumulado do ano até novembro, o recuo é de 3%, afirma Wermeson França, economista da consultoria. Além disso, segundo Almeida, da Serasa, a desvalorização do câmbio aumentou o passivo das empresas que tinham dívida em moeda estrangeira, o que pode ter agravado esse cenário.

Flávio Calife, da Boa Vista Serviços, nota que nos dados compilados pela instituição, houve também aumento expressivo das solicitações de recuperação judicial, de 54,8% em 2012, na comparação com o ano anterior. "Esste é um pedido que parte da própria empresa, em uma tentativa de reestruturar o negócio. Como as empresas estão mais endividadas, esse instrumento foi mais utilizado", afirma.

O baixo crescimento em 2012, em torno de 1%, é um dos motivos para essa dificuldade, afirma Calife, mas em sua opinião, a inadimplência persistentemente alta também afetou o fluxo de receitas dessas companhias, porque aumenta o calote tomado pelas empresas. Ontem, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) divulgou que a inadimplência no varejo avançou 1,9% em 2012 ante 2011.

Para a economista do SPC Brasil, Ana Paula Bastos, apesar do avanço, o indicador não é preocupante. "O nível de desemprego está baixo e os ganhos salariais têm crescido acima da inflação, o que possibilita ao consumidor ter maior controle sobre o orçamento e uma maior capacidade de quitar os débitos. "

Para Almeida, da Serasa, os indicadores de solvência das empresas devem melhorar gradualmente ao longo de 2013, reflexo da expectativa de aceleração da atividade econômica. "Os juros continuarão baixos, e podemos esperar alguma redução da inadimplência do consumidor. Isso se refletirá de forma lenta e gradual no fluxo de caixa das empresas e, então, nos indicadores de solvência", afirma. No entanto, como as perspectivas para 2013 já foram revistas para baixo e há bastante cautela por parte das empresas, essa retomada também será mais lenta do que anteriormente previsto.

França, da LCA, acredita que esses dados só devem refletir a melhora da atividade no segundo semestre do próximo ano, já que há alguma defasagem entre recuperação e situação de solvência das empresas. Ainda assim, segundo França, a perspectiva de expansão da economia e destravamento do crédito para as pessoas jurídicas melhorará a situação de crédito das companhias. Para Calife, da Boa Vista, o mercado de trabalho aquecido e o bom resultado esperado para o varejo devem levar os pedidos de recuperação judicial a subir menos em 2013 que no ano anterior. (Colaborou Lucas Marchesini, de Brasília)
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