01 Set 2015 - 17:00
Da Assessoria
Cerca de 15% dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa no Complexo Pomeri, em Cuiabá, foram aprovados para a etapa final da 11ª Olimpíada Brasileira de Ciências da Matemática das Escolas Públicas, média superior a de colégios de renome no país. A prova está marcada para o dia 12 de setembro e os melhores colocados receberão bolsas de estudo e de iniciação científica.
Direitos Humanos], que até mesmo cede alguns professores para nos ajudar”. Dos sete alunos aprovados, três já foram reintegrados às famílias por bom comportamento. Todos serão comunicados para participar da segunda etapa.
Entre o grupo de aprovados da Escola Estadual Meninos do Futuro está R.C.S, 16 anos, que nem acreditou quando ficou sabendo da classificação. Teve que pedir à mãe que procurasse na internet para que ambos se convencessem do resultado. Há um ano na unidade, ele conta que sempre gostou de matemática, ao contrário de esporte. Tímido, tem vergonha de expor o seu passado de delitos e garante que quer continuar estudando matemática após deixar o complexo, pensando em um futuro como professor ou pesquisador.
Já o colega L.G.A.F., também de 16 anos, tem na família um motivo a mais para gostar de números: o pai é matemático. Apreendido há cinco meses após roubo a uma residência no interior de Mato Grosso, ele relatou que a vontade de adrenalina e dinheiro o motivaram a cometer o ato, mas nada foi tão doloroso quanto à decepção da família. Por conta disso, vê na Olimpíada uma possibilidade de voltar a orgulhar seus familiares. “Não havia feito boas escolhas, porém agora vai ser diferente”.
G.R.P.S. é o único reincidente do quarteto de jovens classificados na competição. Ele já havia passado um ano na unidade por conta de um homicídio, porém após ser reintegrado voltou a entrar em conflito com a lei. Foi apreendido tentando assaltar uma lotérica, em Tangará da Serra. Aos 16 anos, voltou para o Complexo Pomeri.
“Eu estava tentando juntar dinheiro rápido para vir para Cuiabá, arranjar uma casa e morar com a minha namorada, já que o pai dela desaprovava o namoro por eu já ter cumprido pena. Porém, fiz a pior escolha e acabei provando que ele estava certo. Se eu tivesse apenas trabalhado durante todo este tempo que estou aqui já teria conseguido o que eu queria e também teria convencido meu sogro”.
Diferente dos colegas, ele confessa que nem gosta tanto de matemática, mas como pensa em fazer alguma engenharia quer se esforçar para apreender tudo o que for possível. O namoro continua, mas ela não é a única pessoa da qual sente saudade. “Tenho um sobrinho de um ano e alguns meses que quase não vi. Mas, agora vou dar a volta por cima”.
O exemplo
Aos 37 anos, Erli da Silva tem a missão de preparar os internos para a fase final da Olimpíada de matemática. A professora aposta em aulas dinâmicas e utiliza os elementos do dia a dia para fazer com que os adolescentes se apaixonem pela matemática. “Eles são muito aplicados, tudo o que passamos eles querem fazer e aprender mais. Às vezes pedem material para estudar fora do horário”.
Erli vem de uma família com pouca estrutura e conta que trabalha desde os seis anos para ajudar a mãe e os seis irmãos. Foi quando um deles acabou preso que o desejo de dar aulas despertou dentro dela. “Eu visitava ele no presídio e via que precisava fazer alguma coisa para mudar essa realidade. Ele mesmo dizia que eu deveria dar aulas lá.”
Como casou cedo ela demorou a começar uma faculdade, mas por meio de um programa de bolsas do Governo Federal conseguiu concluir os estudos. “Eu dei aula em outras escolas, mas o meu desejo sempre foi vir para cá. Eu entendo a história deles e acredito que somente com conhecimento o futuro poderá ser diferente.”
Há dois anos Erli é uma das professoras e incentivadoras dos garotos, que para ela podem ter um futuro promissor desde que recebam as devidas oportunidades. “Eu primeiro falo de Deus e do futuro, depois dou a aula. Mas quero que eles sempre saibam o motivo de acordarem a cada dia. Eles têm que acordar para serem diferentes, para serem melhores”.
Sobre a Olimpíada
Ao todo, 6,5 mil alunos de todo o Brasil serão premiados na OBMEP 2015 com medalhas de ouro, prata ou bronze. Os vencedores também terão a oportunidade de participar do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC-OBMEP), que também dará direito a uma bolsa de Iniciação Científica Jr. pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Saiba mais em www.obmep.org.br .