Olhar Direto

Domingo, 29 de setembro de 2024

Notícias | Do Internauta

História

“Não me falem de tristezas, que eu as conheço de cor. Falem-me sim de alegrias que tem um gosto melhor”. Expresso, através dos versos de Lila Ripoll, o meu mais íntimo desejo de que neste 20 de novembro de 2009, os meios de comunicação possam fazer uma cobertura mais positiva sobre os negros brasileiros. Entendam bem, não se trata aqui de escamotear os processos de opressão, discriminação e preconceito do qual os negros ainda são vítimas. Muito pelo contrário, trata-se de uma vontade pessoal de ver retratado, neste dia, os processos de participação do negro na construção deste país. Essa é uma das justificativas para que eu, assim como muitos outros, façamos a defesa de que há muitas histórias não contadas, processos deturpados que precisam ser recontados. A contribuição do movimento negro e de diversos estudiosos da temática das relações étnico-raciais tem sido importante para que se avance na compreensão de que o Brasil, pela formação de sua gente – herdeira de índios, brancos e negros –, resultou num povo uno, com uma única língua e cultura própria. Recontar a participação do negro nesse processo passa, para mim, pela compreensão indissociável dos conceitos de classe e raça, ou seja, reconstituir a forma de colonização e constituição das classes sociais no Brasil. Nessa perspectiva, descobriremos que o Trabalho assume uma dimensão importante a ser considerada. O trabalho no Brasil foi escravo por mais de 300 anos – e o país se construía, com a força desse trabalho, desse trabalhador –. Quando da abolição da escravatura, os negros e afrodescendentes que deveriam ser incorporados à sociedade e ao mundo do trabalho assalariado, foram relegados à marginalidade. A mão-de-obra foi importada, o que também contribuiria com o processo de branqueamento. Na verdade, o Estado brasileiro promoveu a exclusão dos negros, não só do mundo do trabalho assalariado, mas também da educação – onde por força da lei, índios e negros eram proibidos de terem acesso a mesma –, o que gerou o aprofundamento das desigualdades sociais e raciais. Entretanto, o trabalho dos negros continuou sendo necessários para a edificação do país. Atualmente, quando as pesquisas demonstram que a maior parcela dessa população permanece ocupando a base da pirâmide social, estamos dizendo, indiretamente, que são os negros brasileiros que continuam “pegando no pesado”. Isto é, ainda é pequena a participação de negros em espaços de destaque, decisão e poder, seja qual for a área do conhecimento. Mas, ao mesmo tempo, precisamos reconhecer que alguns vêm se despontando nesses espaços. Minhas afirmações servem assim, para demonstrar que somos construtores das riquezas deste país, ainda que alguns não o reconheçam. A nossa contribuição para a construção do Brasil não se restringe a cultura, a música, dança ou culinária – apesar de importantes –. Nossa participação é muito maior. Fruto de nossa persistência, o país avança em formulações e ações em prol de políticas públicas. O povo brasileiro se coloca frente ao espelho de sua história e se vê, obriga-se a enfrentar seus medos, seus preconceitos. Desnuda-se e se reconstrói. E essa é a nossa maior alegria, pois só assim vamos recontando a nossa história, o nosso povo. Marilane Costa – Pedagoga e Mestre em Educação pela UFMT. Professora do Ensino Superior do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Mais Do Internauta

Sitevip Internet