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Sábado, 20 de abril de 2024

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Acordo ortográfico também muda escrita em braile

Os brasileiros que não enxergam também têm suas dúvidas nos acentos que caíram e nos hífens que apareceram ou desapareceram na virada do ano, quando as regras impostas pelo Acordo Ortográfico entraram em vigor no país.


Tudo o que mudou no português escrito mudou da mesmíssima maneira no português convertido em braile, o sistema tátil usado por cegos do mundo inteiro para ler e escrever.

"Todos nós memorizamos as palavras na grafia antiga. Agora precisamos reconstruí-las na memória com a grafia nova. A diferença é que vocês fazem isso com os olhos e nós [cegos], com os dedos", explica Maria da Glória Almeida, chefe-de-gabinete do Instituto Benjamin Constant, no Rio, dedicado às pessoas com deficiência visual.

O Acordo Ortográfico tem impacto no braile porque as palavras desse sistema também são escritas letra a letra. Uma letra tem até seis pontinhos em alto relevo. Cada uma se forma com um número e uma disposição própria de pontinhos.

Os acentos e o trema mudam esse arranjo. O dedo treinado de um cego sente a diferença entre "ü" e"u" e entre "a" e "á".

Se "microonda" agora é "micro-onda", a mesma palavra no braile deixa de ter nove caracteres salientes e passa a ter dez --o hífen têm seus pontinhos característicos.

As mudanças ortográficas haviam sido definidas em 1990 por países que têm o português como língua oficial. O objetivo do Acordo, agora colocado em prática no Brasil, era unificar a escrita do português e torná-lo mais forte no cenário mundial.

Nas escolas

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 0,5% da população do planeta não enxerga. O Brasil teria, por essa conta, 950 mil cegos --o equivalente aos moradores de Cuiabá e Florianópolis somados.

As escolas brasileiras têm, de acordo com o Ministério da Educação, pouco mais de 8.600 alunos cegos, a maioria deles nas mesmas salas de crianças e adolescentes que enxergam.

As lições de braile são dadas fora do horário regular de aula e normalmente vão até a 4ª série, época em que as crianças já conseguem dominar o sistema.

"As nossas preocupações agora são orientar os professores e garantir que a produção dos livros didáticos em braile esteja compatível com a nova grafia", afirma Martinha Clarete Dutra, que responde, no Ministério da Educação, pelas políticas de inclusão.

Martinha é cega. "Apesar de lidar com esse tema todo dia, ainda me pego escrevendo na grafia anterior. Estamos tão habituados... Só depois lembro que aquele acento não existe mais", ela conta.

Por enquanto, não está errado escrever na forma antiga. Até dezembro de 2012, as grafias novas terão de conviver com as velhas --será um período de transição. A partir de 2013, porém, só serão aceitas como corretas as novas regras.

A língua dos sinais, usada pelos surdos, não foi afetada pelo Acordo, já que cada gesto normalmente representa uma palavra inteira.
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