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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Análise: Solução de 'dois estados' pode ser sepultada no Oriente Médio

Avise-me se você já ouviu essa antes. "Rapazes entram no bar..." Não, essa não – esta: "Este é o ano mais crítico de todos para a diplomacia palestina-israelense. São cinco para a meia-noite. Se não recuperarmos a diplomacia logo, será o fim da solução dos dois estados".


Ouvi essa frase praticamente todos os dias nos últimos vinte anos, e nunca caí nessa. Bom, hoje, estou começando a acreditar.

Estamos chegando perigosamente perto de fechar a janela para a solução dos dois estados, pois os dois principais fechadores de janela – o Hamas, em Gaza, e os colonos judeus fanáticos da Cisjordânia – têm ocupado o assento do motorista. O Hamas está ocupado em tornar inconcebível a solução dos dois estados, enquanto os colonos têm trabalhado persistentemente para fazer com que ela seja impossível. 

Se o Hamas continuar a obter e usar foguetes de alcance cada vez mais longo, não existe jeito de qualquer governo israelense poder ou querer tolerar o controle palestino independente da Cisjordânia, pois um foguete lançado dali pode facilmente fechar o aeroporto de Tel Aviv e acabar com a economia de Israel.

Se os colonos judeus continuarem com seu "crescimento natural" para devorar a Cisjordânia, essa solução também estará efetivamente descartada. Nenhum governo israelense juntou a disposição de remover até os assentamentos "ilegais", não-autorizados, apesar das promessas dos Estados Unidos, então fica difícil entender como os assentamentos "legais" serão alguma vez removidos. Para as eleições em Israel, em 10 de fevereiro, é necessário um governo de unidade nacional que possa resistir à intimidação dos colonos, e os partidos mais de direita que os protegem, para conseguir implementar uma solução de dois estados.

Pois, sem uma solução de dois estados estáveis, o que teremos é Israel se escondendo atrás de um muro alto, defendendo-se de um estado falido controlado pelo Hamas em Gaza, de um estado falido controlado pelo Hezbollah no sul do Líbano e de um estado falido controlado pelo Fatah em Ramallah. E bom dia para vocês.

Então, se você acredita na necessidade de um estado palestino ou se você ama Israel, é melhor começar a prestar atenção. Isso não é um teste. Estamos na curva da história.

O que faz disso algo tão desafiador para a nova equipe de Obama é que a diplomacia do Oriente Médio tem se transformado, como resultado da desintegração regional desde Oslo, de três formas principais.

Primeiro, nos velhos tempos, Henry Kissinger podia voar para três capitais, reunir-se com três reis, presidentes ou primeiros-ministros e chegar a um acordo capaz de ser mantido. Não mais. Hoje, um pacificador tem de ser tanto um construtor nacional quanto um negociador.

Os palestinos estão tão fragmentados, politicamente e geograficamente, que metade da diplomacia dos Estados Unidos será sobre como alcançar a paz entre os palestinos e erguer suas instituições, para assim haver uma entidade coerente, legítima e decisória ali – antes de alcançar a paz entre os israelenses e os palestinos.

Segundo, o Hamas agora tem um veto em relação a qualquer acordo de paz palestino. É verdade que a facção acaba de provocar uma guerra precipitada que devastou a população de Gaza. Mas o Hamas não vai embora. Ele é bem-armado e, apesar de seu comportamento suicida de ultimamente, é profundamente enraizado. 

A Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas na Cisjordânia, não fará qualquer tipo de compromisso de paz com Israel, já que teme que o Hamas a denuncie como traidora. Logo, a tarefa número dois para Estados Unidos, Israel e os estados árabes é encontrar uma forma de trazer o Hamas a um governo palestino de unidade nacional.

Como diz o especialista em Oriente Médio, Stephen P. Cohen: "Não é suficiente para Israel que o mundo reconheça que o Hamas negligenciou criminalmente sua responsabilidade para com seu povo. O interesse de longo prazo de Israel é certificar-se de que tem um aliado palestino para as negociações, que terão legitimidade suficiente entre seu próprio povo, para poder assinar acordos e realizá-los. Sem o Hamas como parte de uma decisão palestina, qualquer paz entre Israel e Palestina será sem sentido".

Porém, trazer o Hamas para um governo unificado palestino, sem minar os moderados da Cisjordânia, que hoje lideram a Autoridade Palestina, será algo difícil. Precisamos que a Arábia Saudita e o Egito comprem, persuadam e pressionem o Hamas a manter o cessar-fogo, apoiando diálogos de paz e contra os foguetes – enquanto o Irã e a Síria vão tentar convencer o Hamas do contrário.

E isso leva ao terceiro novo fator – o Irã como jogador fundamental na diplomacia palestina-israelense. A equipe de Clinton tentou cortejar a Síria ao mesmo tempo em que isolava o Irã. O presidente Bush isolou tanto o Irã quanto a Síria. A equipe de Obama, como sustenta Martin Indyk em "Innocent Abroad: An Intimate Account of American Peace Diplomacy in the Middle East", "precisa tentar trazer a Síria, o que enfraqueceria o Hamas e o Hezbollah, ao mesmo tempo em que envolve o Irã também". 

Então, resumindo: são cinco para a meia-noite. Antes do relógio dar as 12 badaladas precisamos reconstruir o Fatah, fundi-lo com o Hamas, eleger um governo israelense que possa congelar os acampamentos, cortejar a Síria e envolver o Irã – ao mesmo tempo em que evita que este último se torne nuclear – para convencermos as partes a iniciar um diálogo. Quem conseguir alinhar todas as peças desse cubo mágico diplomático merece dois Prêmios Nobel.


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