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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Analistas vêem oportunidades para o Brasil com Obama

Os biocombustíveis, a crescente importância internacional do Brasil, uma maior familiaridade com temas latino-americanos e uma provável postura menos isolacionista por parte dos Estados Unidos são alguns dos fatores que servirão como oportunidades para os brasileiros durante a gestão do presidente eleito americano, Barack Obama, na opinião de analistas ouvidos pela BBC Brasil.


Mas eles acrescentam que a gravidade da turbulência econômica global, a guerra no Iraque, o desafio representado pelas ambições nucleares do Irã e os mais novos desdobramentos no conflito entre Israel e palestinos deverão jogar as relações com o Brasil para o segundo plano na política externa americana.

O diretor do Brazil Institute do centro de pesquisas políticas Woodrow Wilson Center, em Washington, Paulo Sotero, diz que a crise limita as opções nas relações entre os dois países, mas julga animador o fato de que altos representantes da futura administração de Obama têm laços com o Brasil, a começar pela indicada para comandar o Departamento de Estado - a senadora Hillary Clinton.

"Ela conhece bem o Brasil e talvez seja a primeira secretária de Estado americana que inicia a função com uma base sólida de conhecimentos e contatos brasileiros", afirma Sotero. "Está familiarizada com os avanços em política social do país e, quando primeira-dama, visitou projetos desse tipo no Brasil."

"Conhece a questão do biocombustível e está perfeitamente consciente da importância que o Brasil ocupa no cenário internacional", acrescentou.

Livre comércio

Há outros expoentes da futura administração que, na avaliação de Sotero, poderiam ter posturas que beneficiariam o Brasil, em especial no que diz respeito a temas de livre comércio.

Entre eles, o diretor do Brazil Institute identifica Ron Kirk, representante do Comércio indicado por Obama, e o futuro secretário de Agricultura, Tom Vilsack.

"Kirk é claramente uma pessoa alinhada com a liberalização do comércio", diz Sotero. "É um bom político, apoiou o Nafta (o tratado de livre comércio entre Estados Unidos, México e Canadá), é do Texas e, por isso, compreende os efeitos positivos e negativos que o Nafta teve em alguns setores da economia americana."

"Tom Vilsack é uma figura interessante, que pode ter um peso importante nas relações com o Brasil", acrescenta o analista. "É ex-governador de Iowa, o maior celeiro agrícola e o maior produtor de etanol, mas é também um defensor da reforma da política agrícola americana."

De acordo com Sotero, a despeito de sua origem, Vilsack também não é um defensor da atual lei agrícola americana, conhecida como farm bill, que oferece vultosos subsídios para agricultores americanos.

Possíveis reformas da farm bill e reduções aos subsídos agrícolas costumam esbarrar em restrições por parte da ala ruralista do Congresso americano.

Paulo Sotero avalia que, se obtiver êxito em conter a crise nos primeiros anos de sua administração, Obama poderá dar mais atenção aos temas de liberalização comercial.

"Obama e seu principal assessor econômico na Casa Branca, o ex-secretário do Tesouro Larry Summers, são internacionalistas, compreendem perfeitamente bem a importância do comércio como fator de dinamização do crescimento da economia, mas ao mesmo tempo estão bem cientes das limitações que enfrentam hoje para levar adiante essa plataforma", afirma.

Multilateralismo

Christopher Garman, diretor para a América Latina da empresa de consultoria de riscos Eurasia Group, avalia que o Oriente Médio vai permanecer sendo o foco prioritário do governo americano, mas crê que o "ímpeto mais multilateral" de Barack Obama poderá ajudar os brasileiros.

"Nesse sentido, o Brasil pode ganhar um assento na mesa em grandes temas de discussão internacional, como a crise econômica global", afirma.

Mas Garman diz que a mesma crise econômica que pode alçar o Brasil a um papel de maior expressão também vai dificultar os avanços firmados na relação entre as duas nações.

"O governo Obama já deixou explícita sua defesa de uma política agressiva de incentivo a energias renováveis", afirma o diretor do Eurasia Group.

"As perspectivas para cooperação entre Brasil e Estados Unidos em etanol permanecem boas, mas é preciso ter em vista que tudo ficou mais difícil com a crise", acrescenta. "Produtores de etanol no Brasil e nos Estados Unidos estão sofrendo com a baixa do petróleo."

Garman diz acreditar, no entanto, em um possível desdobramento positivo da crise para o Brasil. Segundo o analista, os americanos poderiam se ver obrigados a gradualmente reduzir a sobretaxa de US$ 0,54 que é cobrada sobre o etanol brasileiro que entra no mercado americano.

"O governo (de Obama) deve manter as metas de utilização de biocombustíveis elevadas", afirma. "Isso significa que vai haver mercado dentro dos Estados Unidos para maior produção de etanol, e os produtores domésticos talvez não possam cumprir as metas de produção estabelecidas pelo governo."

"Isso abre um espaço para que os produtores de etanol do Brasil exportem para os Estados Unidos e cria um incentivo econômico para a redução da tarifa", acrescenta.

América Latina

Christopher Garman afirma que "a América Latina vai permanecer tendo baixa prioridade", mas avalia que o papel cada vez maior do Brasil em fóruns internacionais é algo visto com bons olhos pela administração de Obama.

Na opinião de Garman, a crise financeira global deverá abalar alguns dos vizinhos brasileiros que vêm adotando uma retórica antiamericana.

"Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina têm tremendas vulnerabilidades econômicas, seja porque dependem de petróleo como fonte de receita ou porque já entraram na crise financeira enfrentando dificuldades macroeconômicas significativas", diz o analista.

Com o agravamento da crise, essas nações poderão, na avaliação do diretor do Eurasia Group, retomar uma postura de desafio aos Estados Unidos e, dessa maneira, aproximar os americanos de seus aliados tradicionais na região, como Brasil e México.

Cuba

Para Paulo Sotero, um provável relaxamento das sanções americanas contra Cuba, como Obama sinalizou durante a campanha presidencial, representaria outra oportunidade para o Brasil e para os latino-americanos.

"A inclinação do presidente Obama de iniciar um processo de relaxamento das medidas de isolamento de Cuba tomadas por Bush, como restrições de remessas de dinheiro para a ilha por parte de cubanos-americanos e restrições de viagens para Cuba, serão bem recebidas na América Latina", afirma.

Essas possíveis medidas, segundo o analista, "abrem caminho para interesses dos Estados Unidos, que querem uma transição pacífica em Cuba, para os cubanos, que vivem uma situação econômica bem difícil, e para o Brasil, que quer ter uma participação na reconstrução da economia cubana".

Sotero diz que o Brasil teria condições, e contaria com a aprovação americana, de contribuir para que os cubanos reerguessem sua indústria açucareira e instalassem no país caribenho uma indústria de etanol capaz de suprir as necessidades de combustível e boa parte das necessidaes de eletricidade de Cuba.

O analista lembra ainda que, ainda nos primeiros cem dias da administração Obama, o novo governo americano terá algumas oportunidades de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula deverá ir a Nova York em março, para uma cúpula de empresários, e pode ter seu primeiro encontro com o novo presidente dos Estados Unidos.

Os dois líderes deverão se reunir novamente no mês seguinte em duas ocasiões: primeiro, na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, e no final de abril, na Grã-Bretanha, na reunião de chefes de governo do G-20.
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