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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

Promiscuidade entre os adolescentes está em queda nos EUA

Os pais se preocupam há várias gerações com a mudança nos valores morais e com o comportamento de risco entre os jovens, e as últimas notícias parecem especialmente preocupantes.


Os dados vieram do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde, que relatou este mês um aumento, pela primeira vez em uma década, no nascimento de bebês filhos de adolescentes na faixa dos 15 aos 19 anos de idade.

Porém, esse não é o único alarme. A apresentadora de um talk show, Tyra Banks, declarou haver uma crise no sexo entre adolescentes no outono passado, depois de seu programa entrevistar garotas sobre seu comportamento sexual. Há alguns anos, Oprah Winfrey alertou aos pais em relação a uma epidemia de sexo oral entre adolescentes.

A notícia é preocupante, mas também pode enganar. Apesar de alguns jovens estarem claramente envolvidos em comportamento sexual de risco, a grande maioria deles não está. A realidade é que, em vários aspectos, os adolescentes dos dias de hoje são mais conservadores em relação ao sexo se comparados às gerações anteriores.

Hoje, menos da metade de todos os alunos do ensino médio já tiveram relações sexuais: 47,8% em 2007, contra 54,1% em 1991, de acordo com a Pesquisa Nacional de Comportamento de Risco entre Jovens.

Um relatório recente sugere que os adolescentes estão esperando mais tempo para ter relações sexuais do que no passado. Um relatório de 2002 do Departamento de Serviços Humanos e de Saúde descobriu que 30% das garotas entre 15 e 17 anos já tiveram relações sexuais, contra 38% em 1995. Durante o mesmo período, a porcentagem de garotos com experiência sexual nessa faixa etária caiu de 43% para 31%.

Os índices também diminuíram entre adolescentes mais jovens. Em 1995, cerca de 20% deles afirmaram ter tido relações sexuais antes dos 15 anos, mas até 2002 esses números caíram para 13% das meninas e 15% dos meninos.

"Não existe dúvidas da percepção pública de que as coisas estão piorando e o fato da garotada estar fazendo sexo cada vez mais jovem é muito mais exagerada do que realmente é", afirmou Kathleen A. Bogle, professora assistente de sociologia e justiça criminal da La Salle University. "Porém, ao observarmos os dados, esse não é o caso".

Uma razão pela qual as pessoas interpretam erroneamente o comportamento sexual adolescente é que a dinâmica do namoro e dos relacionamentos tem mudado significativamente. Na primeira metade do século 20, o namoro era planejado e estruturado – e uma relação como esta poderia, ou não, levar a uma relação física. Nas últimas décadas, esse padrão tem sido amplamente substituído pelo encontro casual de adolescentes.

Neste cenário, os jovens muitas vezes contam estar "ficando" ou "se divertindo com alguém", e, ao contrário do padrão antigo, esses encontros podem, ou não, levar a um namoro sério. A mudança começou aproximadamente no final da década de 1960, disse Bogle, que explora a tendência em seu livro ""Hooking Up: Sex, Dating and Relationships on Campus" ("'Ficando': Sexo, Namoro e Relacionamento no Campus", em tradução livre), publicado pela NYU Press, 2008.

O aumento recente nos índices de gravidez entre adolescentes é motivo de preocupação. Porém, é bastante provável que isso reflita mais mudanças nos padrões do uso de contraceptivos do que uma grande modificação no comportamento sexual. Na realidade, os índices de mães adolescentes têm caído acentuadamente desde o final da década de 1950. Esse declínio não é explicado pelo aumento da disponibilidade do aborto: as taxas de realização deste procedimento entre adolescentes também caíram.

"Existe um grupo de jovens que possuem comportamento sexual, mas isso não é significativamente diferente das gerações anteriores", disse Maria Kefalas, professora associada de sociologia da St. Joseph's University, na Filadélfia, e co-autora do livro "Promises I Can Keep: Why Poor Women Put Motherhood Before Marriage" ("Promessas Que Posso Cumprir: Por Que Mulheres Pobres Priorizam a Maternidade Ao Casamento", em tradução livre), publicado pela University of California Press, 2005).

"Esse aumento assustador da gravidez em adolescentes não se deve ao fato de mais jovens estarem fazendo sexo, mas muito provavelmente porque mais adolescentes não estão usando métodos anti-conceptivos".

Quanto à suposta epidemia de sexo oral, especialmente entre adolescentes: estatísticas nacionais sobre esse tipo de comportamento apenas foram coletadas recentemente, e estas não são tão alarmantes quanto sugerem alguns relatórios. Cerca de 16% dos adolescentes afirmam terem feito sexo oral, mas sem penetração. Pesquisadores afirmam que a atitude mais relaxada dos jovens em relação ao sexo oral provavelmente reflete uma mudança similar entre adultos desde a década de 1950. Além disso, alguns adolescentes podem enxergar a prática do sexo oral como "mais segura", pois a gravidez indesejada não é um problema.

Pesquisadores da área de saúde afirmam que pais preocupados com o sexo entre adolescentes muitas vezes deixam de focar nas lições importantes que podem aprender com os garotos ainda sem vida sexual. Adolescentes com mais supervisão dos pais, que moram com os dois pais e vão bem na escola têm mais tendência a adiar a prática sexual até o final da adolescência, ou depois.

"Para os adolescentes, o sexo requer tempo e falta de supervisão", disse Kefalas. "O que é realmente importante para nós prestarmos atenção, como pesquisadores e pais, são as características das garotas que engravidam e aquelas que pegam doenças sexualmente transmissíveis".

"Toda essa coisa do pânico moral foge do foco, pois pesquisas sugerem que jovens que não usam métodos contraceptivos tendem a ser os garotos que se sentem mais perdidos, isolados e que não vão bem".

Apesar dos dados serem claros, pesquisadores da área de saúde reconhecem a dificuldade em convencer os adultos que a maioria dos adolescentes tem atitudes saudáveis em relação ao sexo.

"Dou palestras por todo o país onde mostro às pessoas que os índices de virgindade na faculdade são mais altos do que se pensa, o número de parceiros é menor do que se pensa, e ficar muitas vezes não significa relação sexual", disse Bogle. "Mas muitas pessoas acham que estamos em apuros morais, numa espiral negativa, que os adolescentes estão fora de controle. É bastante difícil convencer as pessoas do contrário".
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