Quando Palmirinha Onofre, 77, se coloca atrás da bancada do "TV Culinária", às 13h10, ao lado de Huguinho, marionete operada pelo ator Anderson Clayton, 25, mal sabe que virou sensação.
É estrela de mais de 30 perfis falsos no Orkut e de vídeos no YouTube. Sem falar na paródia criada pela atriz Graziella Moretto: Cozinha com Palmitinha.
A apresentadora da TV Gazeta é personagem assídua do quadro "Top 5" do programa "CQC", da Band, que traz o ranking das gafes da televisão brasileira a cada semana.
Lá está Palmirinha, quase sempre em primeiro lugar, a provocar risos por erros involuntários levados ao ar.
Numa das cenas mais hilárias, ela é socorrida duas vezes pelo boneco quando esquece o nome do utensílio que mais utiliza na cozinha: faca. E se enrola também ao ensinar a cortar uma torta de chocolate sem esfarelar. Dá a dica de que se deve esquentar a... faca (ajuda o assistente). No entanto, o truque não funciona.
"Os trechos da Palmirinha foram subindo ao pódio naturalmente", explica Marcelo Tas, apresentador do "CQC", que se refere à colega como lendária. "Ela acabou virando uma espécie de Hebe do "Top 5". Tem uma espontaneidade e uma falta de cerimônia para conversar com a câmera que facilita o erro."
A apresentadora septuagenária, cujo programa varia de um a dois pontos de audiência, parece ignorar o ibope extra. Segundo a filha Sandra Onofre, 55, Palmirinha fica sabendo pelos netos que apareceu no "CQC", programa que virou febre por tirar sarro de tudo e de todos. "Mas ela não sabe do que se trata", diz.
Prato para o presidente
Com os olhos atentos à torta de frios que assa no forno do estúdio do oitavo andar do prédio da Gazeta, na avenida Paulista, Palmirinha conta que acorda às 5h30 para testar a receita que vai ensinar pela televisão.
Há nove anos à frente do programa, ela cumpre um ritual diário: prepara os pratos e os leva prontos para o estúdio. No final da transmissão, tudo é saboreado por contrarregras, produtores e câmeras.
Palmirinha conta que aprendeu a cozinhar quando criança, enquanto observava a mãe, dona do hotel São Paulo, em Bauru (a 329 km da capital).
O cuidado com a aparência dos pratos, no entanto, foi um ensinamento de madame Georgette, francesa que a trouxe aos sete anos de idade para São Paulo e com quem ficou até os 13. As primeiras receitas herdadas da mentora foram pudim de leite condensado e espinafre com molho bechamel. "Coisa assim não tinha no interior."
Seus dotes ganharam fãs ilustres. Ela se recorda do filé recheado com creme de champinhom que serviu ao presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) na residência de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo, onde trabalhava.
Hoje, mora sozinha e prepara suas refeições -macarrão com frango é o prato favorito-, mas evita cozinhar para muita gente. Nas festas com as filhas, os seis netos e a bisneta, quem fica a cargo das panelas é a filha mais velha, Tânia Onofre, 57. Vez por outra, Palmirinha pede pizza por telefone. "Ela gosta de tudo que faz mal para a idade dela", afirma Sandra.
Nome artístico
Ela surgiu como Palmira Onofre no antigo programa de Silvia Popovic, na Band, quando foi ao ar para contar como criou seus filhos sozinha, depois de ter sido trocada por outra.
Levou para a apresentadora uma cestinha de empadas que foram elogiadas na TV. Dali a uma semana, lá estava ela de novo diante das câmeras. Foi chamada pela Record para ser assistente no "Note e Anote", de Ana Maria Braga.
Surgia ao acaso o nome artístico. "Se você vai me chamar de Aninha, então vou chamá-la de Palmirinha", provocou Ana, ao batizá-la com o diminutivo que adotou na carreira televisiva.
Foi nessa época que sofreu o primeiro processo por plágio. Aprendeu que é preciso modificar um ingrediente ali, outro tempero aqui para escapar do julgamento dos criadores de quitutes.
Por causa das trapalhadas legais e das gafes divertidas, Palmirinha conquistou seu espaço, mas prefere não vestir o modelito de famosa. "Não sou estrela; estrela está lá no céu."
