Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Notícias | Turismo

Ao norte de Paris, uma floresta de história e fantasia

Um vagão de trem de carvalho, em uma clareira na floresta próxima da cidade francesa de Compiègne, serve como testemunho silencioso de dois dos momentos diplomáticos mais importantes da Europa do século 20.


Em uma manhã fria e úmida neste local em 11 de novembro de 1918, o marechal Ferdinando Foch assinou um armistício com os alemães em nome das Forças Aliadas, colocando um fim à Primeira Guerra Mundial. Vinte e dois anos depois, em um ato de vingança, Adolf Hitler forçou os franceses a assinarem sua capitulação aos nazistas no mesmo vagão.

O vagão foi levado para Berlim e incendiado em 1945 pelos alemães. Poucos anos depois, a Compagnie Internationale des Wagon-Lits doou outro carro do mesmo trem, que foi modificado para como era em 1918 e colocado em seu lugar.

O endereço agora é um local incomum de peregrinação, principalmente por interessados em história e por estudantes. E a área de Compiègne é um destino pouco procurado para um passeio de um dia a apenas uma hora a nordeste de Paris, oferecendo uma mistura de cultura (dois castelos), natureza (uma floresta de mais de 14 mil hectares e vários pequenos lagos artificiais), charme (casas de madeira, ruas de paralelepípedo e museus pouco visitados), comida decente e hospedagem.

A reserva florestal e de caça de Compiègne, a uma distância confortável de caminhada do centro da cidade, é a terceira maior na França e conta com mais de 900 quilômetros de trilhas e estradas que serpenteiam entre carvalhos, bétulas e faias. Os coelhos e cervos são inofensivos, os javalis devem ser evitados.

Foi nesta floresta que Joana d'Arc se escondeu antes de ser capturada em Compiègne, em 1430. Na cidade, uma estátua da heroína francesa, perfurando o ar com seu dedo indicador direito e carregando a bandeira dos reis franceses, olha para o chamativo prédio gótico da prefeitura. Seu sino, forjado em 1303, é um dos mais antigos que ainda tocam na França.

Também vale a pena visitar na cidade o Museu de Figurinhas Históricas, com mais de 42 mil figurinhas de chumbo exibidas, consideradas pelos moradores locais como a melhor coleção na França (a batalha de Waterloo sozinha, com 185 centímetros quadrados, conta com cerca de 12 mil peças).

E perto dele, o Museu Antoine Vivenel conta com uma coleção eclética de cerca de 250 vasos gregos.

Os castelos oferecem visões muito diferentes da vida da realeza. Pierrefonds, no topo de uma colina no extremo sul da floresta, é um vôo de imaginação, projetado sob encomenda por Napoleão 3º ao arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, no início do século 19, e construído sobre as fundações de uma fortaleza medieval.

Viollet-le-Duc interpretou livremente o que imaginava que seria um castelo medieval ideal. Ele usou vigas de aço como apoio para o telhado e pintou linhas onduladas brilhantes parecidas com plantas que prenunciavam a art nouveau nas paredes e tetos. Tecidos pintados em trompe-l'oeil com porcos-espinhos adornavam o salão nobre; gatos de pedra se tornaram gárgulas.

O castelo, com suas nove torres de defesa, teria inspirado, segundo os moradores locais, o castelo no desenho "A Bela Adormecida" de Walt Disney. A BBC o está utilizando como cenário para "Merlin", sua série de televisão do rei Arthur.

O castelo principal em Compiègne é um local menos extravagante e com menos imaginação, um tributo severo e sério ao rei Luís 15, que ordenou sua construção da estaca zero no local da edificação original do século 14. Era para ser o anti-Versalhes, uma resposta moderna, neoclássica, à grandeza ornamentada do palácio construído por seu bisavô, Luís 14. O desenho do jardim é bastante inglês, com 200 espécies diferentes de plantas.

Foi aí que Maria Antonieta e o Delfim se encontraram pela primeira vez. Napoleão 1º criou uma vasta área verde como surpresa para sua segunda esposa, Maria Luísa, para que pudesse se recordar de seu lar na infância, o Palácio de Schonbrunn, em Viena. Napoleão 3º se divertia ali durante a estação de caça no outono.

Mas é o museu do vagão ferroviário, conhecido como Clareira do Armistício, que é a parada obrigatória em Compiègne.

Um pequeno museu foi construído ao redor da réplica do vagão privado do marechal Foch. O carro é decorado com lembranças autênticas que capturam o momento mágico em que a Primeira Guerra Mundial acabou: o telefone e porta charuto de Foch, a mesa e cadeira onde se sentou, as luminárias de latão da época da Primeira Guerra e os abajures de seda vermelha.

Outros espaços também são dedicados à Primeira Guerra Mundial, com uma vasta coleção de estereoscópios de madeira cujas manivelas podem ser giradas para revelar várias centenas de estranhas imagens tridimensionais da vida nas trincheiras. Há lembranças da Primeira Guerra Mundial que foram encontradas nas proximidades, incluindo peças de uniformes e arame farpado, medalhas e bens pessoais dos soldados, de lâminas de barbear a crucifixos.

Grande parte da história da Segunda Guerra Mundial foi deixada de fora. Apenas uma sala é dedicada a esta era, com as capas dos jornais franceses penduradas ao lado das capas do "The Raleigh Times" (Raleigh, Carolina do Norte, é a cidade irmã de Compiègne). "Hitler Entrega Termos para os Franceses" diz a manchete de 21 de junho de 1940.

Pendurada em uma parede pouco iluminada está uma coleção de fotos em preto-e-branco, incluindo uma de Hitler saindo do vagão em 22 de junho de 1940.

William Shirer, o correspondente de rádio da "CBS" que estava presente, noticiou a rendição antes mesmo do anúncio oficial alemão.

"Eu já vi aquele rosto muitas vezes em grandes momentos de sua vida", escreveu Shirer posteriormente sobre Hitler. "Mas hoje! Ele está repleto de desprezo, raiva, ódio, vingança, triunfo."

O local é um ponto de peregrinação em mudança constante, onde visitantes depositam fotos de família da guerra, cartas e souvenires para serem exibidos ou guardados no museu.

"As pessoas ficam tão emocionadas quando chegam aqui que freqüentemente dizem que se sentem como se estivessem em uma igreja", disse Jean-Christophe Le Goaer, um capitão reformado do exército que é o administrador do museu.

Ele conhece de cor as letras de todas as canções militares da Primeira Guerra Mundial que tocam por um alto-falante. Se for um dia de pouco movimento, ele preparará um café para você e, em uma voz barítona irregular, mas emotiva, cantará junto.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet