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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Curso para vaqueiros é ministrado em Mato Grosso

Já foi o tempo em que gado pantaneiro era criado de qualquer jeito, perdido na imensidão do pasto. Atualmente, muita gente tem investindo pesado em tecnologia e na produção de animais de elite. Formar mão-de-obra qualificada para lidar com o gado é o objetivo do curso de vaqueiros em Mato Grosso. 


O cerrado brasileiro tem milhares de quilômetros quadrados de terra plana. O estado de Mato Grosso abriga o maior rebanho bovino do país, com mais de 26 milhões de cabeças. Nas fazendas pantaneiras, o gado divide espaço com os animais silvestres.

Mas os criadores, como Ricardo Arruda, reclamam que é difícil encontrar gente qualificada para trabalhar nas fazendas. “A nossa região é muito carente de mão-de-obra especializada. E à medida que você aumenta a tecnificação da sua propriedade, você busca produzir animais mais competitivos, mais produtivos, você necessita desse tipo de mão de obra”, diz.

O curso
Para tentar suprir a falta de mão-de-obra especializada, desde 2003 um grupo de criadores de Mato Grosso vem trabalhando com o governo do estado para manter um curso de formação de vaqueiros.

O pecuarista Mário Cândia é um dos parceiros do projeto. “Os recursos que bancam esse curso vieram de leilões da raça nelore e de doações de produtores. Então, desde a origem o curso é uma doação.

Além das doações, os criadores também abrem as porteiras de suas fazendas para realização do curso. Uma das turmas vai passar dez dias na estância do Capão de Anjico, uma das propriedades do seu Mário, que está recebendo o curso pela segunda vez.

Os alunos não pagam nada e a maior parte deles já tem alguma experiência na lida com gado.

Depois de receber uniforme, material didático e de se acomodar nos alojamentos da fazenda, a turma está pronta para a primeira aula. É uma lição de como cuidar direito da principal ferramenta de trabalho de um vaqueiro do Pantanal: o cavalo.

Experiência

O professor é um vaqueiro experiente, seu Ezequiel Campos, o seu Gil. Ele ensina como fazer a toalete, uma aparada geral nos pelos, para melhorar o asseio do animal. O passo seguinte é a tosa, o corte da crina.

Alguns alunos já têm intimidade com rasqueadeiras e tesouras. Já para outros é tudo novidade.

Com a tropa pronta, é hora de ir para o campo. Junto com funcionários da fazenda, a turma vai reunir um lote de vacas paridas. No meio do caminho, o grupo se divide. Parte segue com seu Gil para buscar o gado. O restante do pessoal vai acompanhar outro professor, o veterinário Gustavo Gratão.

Gustavo vai ensinar como construir um bezerreiro. É uma estrutura bem simples que pode ser montada em qualquer lugar. Quatro estacas de madeira, uma em cada canto, que vão dar sustentação às tábuas que cercam a construção. “Isso é justamente para o pessoal que lida com o gado, devido a um grande instinto materno da vaca, ser muito amorosa, elas tentam defender a sua cria. É para evitar de a vaca tá pegando peão, pegando vaqueiro e eles também de bater em vaca, machucando as vacas, a gente faz todo trabalho com o bezerro aqui dentro”, explica o veterinário.

Rodeio

Com tanto vaqueiro, o gado é reunido rapidamente no que por lá se chama de rodeio. E lá vem a vacada protegendo a cria, que anda sempre no meio. Os bezerros vão receber os primeiros cuidados, para isso são separados das mães. O vaqueiro vai cercando, cercando e solta o laço.

O bezerro luta contra a corda. A mãe tenta defender a cria e é nessa hora que a gente comprova a serventia do bezerreiro. Gustavo explica os principais cuidados que o vaqueiro tem que ter para cuidar do bezerro. “Basicamente, é o cuidado para não machucar. E esses cuidados de maternidade que a gente tem no manejo de cria, a princípio, a primeira coisa é olhar se o bezerro mamou o colostro, que aquele primeiro leite. Depois disso, partimos para a cuida de umbigo, que é de fundamental importância porque 90% das infecções adquiridas pelo bezerro novinho, a porta de entrada da infecção é o umbigo”, explica.

Os alunos também aprendem a aplicar medicamentos e a marcar o gado. O veterinário explica que a marca tem lugar certo pra ser feita.

Os alunos vão se revezando nas tarefas, de forma que todo mundo aprenda a fazer de tudo.

Sala de aula

Durante todo o curso, os finais de tarde são reservados ao ensino de uma arte que já foi tradição, mas está desaparecendo das fazendas pantaneiras. É o curtimento do couro para fabricação artesanal da tralha de montaria.

Os alunos aprendem que para soltar o pelo o couro tem que ficar de molho na água com soda cáustica. E que dá uma trabalheira danada raspar a peça até que ela fique bem lisinha. O curtimento caseiro usa ingredientes naturais: suco de limão, para desativar o efeito da soda; e casca do anjico, uma árvore alta, de folha bem miúda, nativa do cerrado que serve pra conservar e tornar o couro mais resistente.

Passo a passo, um pouco a cada dia, o couro vai ficando pronto para o artesanato. O seu Gil demonstra habilidade na hora de fazer a charrua, uma trancinha usada pra prender e ajustar as peças de montaria. Ele explica o motivo dos alunos aprenderem a lidar com o couro. “A pessoa quer andar trajado, mas não tem a capacidade de fazer. Então, ela vai tirar do salário para pagar os outros para fazer a tralha”, explica o professor Ezequiel Campos.

Como o couro é duro, quem ainda tem pouca habilidade treina trançando uma cordinha.

Com tanta atividade, dez dias passam depressa e o curso vai chegando ao fim. Para receber o certificado, os futuros vaqueiros ainda têm que passar por uma prova final.

Todos foram aprovados e agora compartilham o mesmo sonho. “Espero conseguir um emprego bom”, diz um dos alunos.
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