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Sábado, 20 de abril de 2024

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Procedimentos para seleção de embriões devem ser ampliados, diz especialista

O diagnóstico que permitiu o nascimento de uma menina britânica sem uma alteração genética comum em sua família , que poderia torná-la suscetível ao câncer de mama e de ovário, é só o começo de um processo inevitável. Essa é a opinião de Péricles Assad Hassun Filho, que tem pós-doutorado em biologia molecular pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e dirige o centro de diagnóstico Genesis Genetics Brasil. Em conversa com o G1, o pesquisador avalia que esse tipo de teste deverá ser ampliado para uma grande gama de alterações genéticas no futuro. Ao mesmo tempo, duvida da possibilidade, muito levantada na ficção científica, de criar um "bebê perfeito".


"Essa ideia de projetar um filho que seja louro, de olhos verdes e com a inteligência do Einstein é uma grande besteira", diz Assun Filho, lembrando que tanto a aparência quanto o comportamento de qualquer pessoa são influenciados também pelo ambiente em que ela cresce. "O que é inexorável e saudável, e que nós vamos ver cada vez mais daqui para a frente, serão métodos para testar até milhares de variantes genéticas que indiquem vulnerabilidade a doenças, conforme o conhecimento sobre o genoma humano aumentar. A lista de mutações que podem ser testadas só cresce", avalia ele. Uma tecnologia que poderia ser usada nesses casos é a dos chips de DNA, que permite a detecção simultânea de milhares de variantes genéticas.

Assun Filho trabalha com diagnóstico pré-implantacional, justamente o método usado para "escolher" o embrião da menina britânica. Embora este tenha sido o primeiro caso anunciado envolvendo o gene BRCA1, o qual, em sua forma alterada, pode levar a um risco de até 80% de desenvolver tumores mamários e ovarianos, o pesquisador avalia que este não é o primeiro caso "real". "Isso certamente já foi feito antes, inclusive no Brasil", afirma ele.

Por enquanto, o mais comum é usar o diagnóstico pré-implantacional para doenças genéticas em que a penetrância (grosso modo, a chance de manifestação do problema) é de 100% caso a mutação esteja presente. "A diferença no caso do BRCA1 é que a probabilidade é menor, mas ainda assim muito alta, o que justifica o diagnóstico", diz ele. Nessa metodologia, os especialistas retiram uma célula de embriões com três dias de vida e cerca de oito células, fecundados in vitro. A partir de uma amostra pequena de DNA, é feita a avaliação, com grau de confiança superior a 90%. Há um risco -- baixo -- de que o embrião seja inviabilizado pelo procedimento.

No Brasil, não há legislação específica para regular o procedimento, apenas recomendações do Conselho Federal de Medicina, como o de só fazer o diagnóstico por recomendação médica (no caso de famílias com histórico de doença genética, por exemplo). "Nós, por exemplo, não selecionamos o sexo do embrião, não fazemos isso, mas há clínicas que aceitam", diz Assun Filho.

Ele afirma que mais regulamentação seria desejável. "É claro que todos os pais deveriam ter direito a ter filhos com chances de serem saudáveis, mas não podemos ultrapassar os limites da nossa própria espécie. Os avanços são tão rápidos que a sociedade mal consegue acompanhar, mas é importante manter esses limites."
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