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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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O pensamento vivo de Andy Warhol

Os dois artistas mais importantes do século 20 foram Marcel Duchamp e Andy Warhol. A afirmação pode parecer chocante para quem acompanhou meus textos sobre arte contemporânea em 2007/2008 - que em breve estarão reunidos e ampliados no livro A grande feira. De fato, estritamente falando, o talento artístico dos dois era bastante limitado, se comparado, por exemplo, ao de Picasso, Matisse etc. Mas a importância histórica inegável de Duchamp e Warhol está justamente aí: ambos transformaram o significado da arte, subvertendo os seus valores (como autoria, originalidade, técnica, autenticidade, vocação) e abrindo caminho para práticas ainda hoje dominantes no cenário artístico. A cada geração, a sua influência aumenta - e modifica, para o bem e para o mal, o status simbólico da arte no mundo e na vida das pessoas.


Se Duchamp foi decisivo para o salto conceitual da arte, que passou a dispensar suportes e até mesmo a “mão” do artista (o que teve desdobramentos infinitos), Andy Warhol (1928-1987), por sua vez, revolucionou a relação entre arte e capitalismo: se a arte sempre foi também mercado, a partir dele passou a ser principalmente mercado: o êxito (não apenas comercial, mas também midiático, pois o artista deve ser uma estrela) se tornou o critério exclusivo da qualidade da obra, não sua conseqüência eventual. Isso explica, aliás, por que a crítica de arte perdeu importância: ela não tem nada a acrescentar a uma relação que já está dada, é tão inútil quanto buscar um sentido estético no sobe-e-desce das ações da Bolsade Valores.

Nesse sentido, é altamente esclarecedora a leitura de A filosofia de Andy Warhol - De A a B e de volta ao A (Cobogó, 272 pgs. R$43). Embora Warhol tenha assinado a obra, feita de encomenda em 1975, ela não foi escrita de próprio punho, mas pelos ghost writers Bob Colacello e Pat Hackett (a única coisa que o artista escreveu de próprio punho foi sua assinatura no contrato com a editora: a autoria novamente em questão… Por outro lado, Warhol também apenas assinava as serigrafias autênticas que sua equipe produzia). Colacello e Hackett deram forma a reflexões do artista sobre os mais variados assuntos, algumas delas bastante citadas, com um tom de depoimento confessional. Mesmo nos trechos aparentemente mais tolos e superficiais é possível enxergar a coerência de uma visão estratégica: vida e arte foram para Andy Warhol uma fabricação, estudada em seus mínimos detalhes e inserida numa lógica de indústria e espetáculo. Ele inventou um personagem para si próprio - e desapareceu dentro dele.

Formado no mundo da propaganda, Andy Warhol se transformou numa marca, numa idéia incorpórea. É claro que isso tem a ver com um processo de americanização da forma de se fazer e pensar a arte, por um lado, e com a crescente espetacularização da vida promovida pelos meios de comunicação, que tornam a imagem mais importante que a coisa em si, e a realidade uma obra de ficção em tempo real. Não foi à toa que ele trocou seu psiquiatra por uma televisão. Quem enxerga em sua obra uma crítica à sociedade de consumo não entendeu nada.

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