Os erros do desenvolvimento do turismo cabo-verdiano na ilha do Sal, que conduziram à sobre-construção e problemas ambientais, devem ser evitados na expansão de outras ilhas, como Boavista ou Maio, defende o pesquisador Eduardo Sarmento Ferreira.

O professor da Universidade Lusófona falou à Lusa a propósito do lançamento do seu livro "Turismo sustentável como fator de desenvolvimento das pequenas economias insulares: o caso de Cabo Verde", em que é feito um balanço - positivo - da expansão do setor no arquipélago.

"O turismo do Sal é muito de sol e praia. Para ser requalificado, tem de criar-se novos produtos turísticos, novas atrações, evitar a construção, porque há um problema de construção na orla costeira, onde temos hotel após hotel. Muitas vezes associa-se o desenvolvimento turístico com construção, mas turismo não é construção", afirmou.

Atualmente, segundo Sarmento Ferreira, o Sal concentra 60% da capacidade hoteleira do arquipélago, cabendo as outras duas grandes fatias a São Vicente e Santiago.

"O Sal está aproveitado até demasiadamente, não é um caso de sucesso. As outras ilhas sim, ainda estão muito preservadas. Não estão atrasadas, têm é a vantagem adicional de, como não foi estragado, poder-se criar um modelo com efeitos mais positivos, evitar erros que foram cometidos no Sal", disse.

Sarmento Ferreira salientou a necessidade de as autoridades serem exigentes com os promotores de infra-estruturas turísticas.

"Obviamente tem de haver projetos, mas a quantidade que está em cima da mesa... é preciso ter algum cuidado e ser muito criterioso com a sua implementação, caso contrário vamos ter construção desmesurada, vai degradar-se o ambiente, e já houve problemas em Cabo Verde", disse.

"O problema são os grandes operadores turísticos externos. Os nacionais têm essa consciência, e os cabo-verdianos preocupam-se muito com o seu país, os grandes operadores internacionais, que procuram o lucro, interessa-lhes a quantidade, é indiferente", afirmou.

"Turismo Sustentável como fator de desenvolvimento das pequenas economias insulares" resulta de sete anos de investigação, em que são analisadas várias economias insulares.

"O turismo está a ter e poderá continuar a ter um impacto positivo no desenvolvimento de uma pequena economia insular como Cabo Verde, desde que haja preocupação em controlar aspectos necessariamente negativos", ambientais ou sociais, acrescentou o pesquisador.

Editado pelas Edições Universitárias Lusófonas, a obra é hoje apresentada na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.