Fazia tempo que as filas por ingressos no estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires, não eram tão grandes. Elas chegaram ontem a oito quarteirões, e não por menos: a Argentina vive a agitação da estreia oficial de Diego Armando Maradona como técnico da seleção nacional de futebol.
Cerca de 45 mil pessoas devem acompanhar hoje, no campo do River Plate, a partir das 19h10, a partida entre Argentina e Venezuela, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Ontem, torcedores esgotaram as 13 mil entradas populares, cada uma a R$ 21, em menos de sete horas --os mesmos ingressos já eram ofertados na internet pelo triplo do preço.
A venda de entradas começara na última terça-feira, com setores mais caros (até R$ 170) que se esgotavam dia a dia.
A febre gerou pernoite de torcedores na fila e resultou em uma arrecadação que superou US$ 1 milhão, recorde em jogos da seleção argentina.
Confrontado com a expectativa da "hinchada" (torcida) argentina, Maradona transferiu a responsabilidade aos jogadores. Disse estar "muito tranquilo" e que "com euforia não se ganha". "Eles [jogadores] terão que contagiar o público."
Querendo ou não, o "dez" tem o peso da história nas costas. Desde 1985, os seis técnicos da Argentina que estrearam oficialmente em eliminatórias venceram seus adversários, e a equipe "albiceleste" nunca perdeu para a Venezuela no classificatório do Mundial --soma um total de 15 vitórias, com 62 gols a favor e oito contra.
E, após muito confete e duas vitórias em amistosos --uma delas o convincente 2 a 0 sobre a França em fevereiro--, a Argentina da era Maradona encara a realidade dura das eliminatórias. A equipe está em terceiro lugar no torneio e vem de uma derrota de 1 a 0 para o Chile, que motivou a queda do técnico anterior, Alfio Basile.
Maradona não confirmou esquema nem equipe para a partida. A imprensa argentina dava como certa a escalação, no ataque, do trio "estelar" Tevez-Aguero-Messi.
O treinador também minimizou a saída do meio-campista Riquelme, do Boca Juniors, com quem teve desentendimentos que levaram à renúncia do jogador à seleção argentina.
"Não teremos esse último passe, mas não creio que precisemos de um organizador", declarou o técnico.
Para ele, o atual elenco representa "75% a 80%" dos jogadores que a Argentina, se classificada, levará à África do Sul para a disputa da Copa.
Maradona também ironizou Pelé, que recentemente voltou a dizer que Diego é um "mau exemplo" em razão de seu vício em drogas no passado.
"Ele debutou com um garoto, assim que não sei o que é um bom exemplo", afirmou o ídolo argentino, em alusão à história da perda de virgindade do brasileiro com um travesti, junto do time em que jogava na adolescência, em Bauru (SP).