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Sábado, 20 de abril de 2024

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DINHEIRO CURTO

Escassez de crédito preocupa produtores de Rondonópolis

Os produtores de Rondonópolis, um dos principais pólos do agronegócio brasileiro, esperam ter custos menores na safra 2009/2010 do que na atual.

Foto: Roosevelt Coelho/ABr

Escassez de crédito preocupa produtores de Rondonópolis
Os produtores de Rondonópolis, um dos principais pólos do agronegócio brasileiro, esperam ter custos menores na safra 2009/2010 do que na atual, principalmente em razão da queda dos preços dos fertilizantes, hoje até 50% mais baixos. Apesar disso, eles não conseguem dimensionar, neste momento, os investimentos de custeio e comercialização para a próxima temporada agrícola.


Os agricultores têm, entretanto, uma certeza: não dá para deixar de produzir. “Ficar parado é para quem pode. Se parar, o banco vem e tritura o produtor”, disse o vice-presidente da Associação dos Produtores de Algodão de Mato Grosso (Ampa), Carlos Augustin.

A situação na área rural de Rondonópolis é crítica e resta pouco fôlego para os agricultores, alertou Augustin. De acordo com ele, os produtores gastaram boa parte do dinheiro no último plantio. Soma-se a isso o fato de as tradings, que financiavam um grande volume da produção agrícola do município mato-grossense, terem entrado num processo de hibernação, que pode durar até que passem os efeitos da crise financeira internacional.

"Sozinho ninguém agüenta. Por isso, a gente se reúne aqui toda segunda-feira para se atualizar”, comentou o presidente da Ampa, durante uma reunião no Sindicato Rural dos Produtores de Rondonópolis. “O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] solta uma circular a cada 15 dias com novas regras. Só temos mais dois anos. Ou resolvemos nossa situação antes da eleição ou logo depois”, completou Augustin.

Segundo a produtora Maria Gambri, proprietária de lavouras de soja e milho na região, os agricultores rolam suas dívidas, mesmo sabendo, às vezes, que não terão condições de pagar os juros cobrados, porque sabem que sair do negócio pode ser um caminho sem volta. “Estamos tentando nos manter no mercado porque se [o produtor] sair não volta mais”.

Ela e outro produtor foram beneficiados pelo Fundo de Recebíveis do Agronegócio (FRA), criado em 2007. O FRA previa a contratação de financiamento para saldar dívidas entre agricultores e fornecedores referentes às safras 2003/2004 e 2005/2006. Os recursos viriam das exigibilidades bancárias aplicadas em crédito rural.

O vice-presidente de Agronegócio Banco do Brasil, Luís Carlos Guedes Pinto, explicou que a baixa adesão ao FRA – apenas 46 em todo o país – tornou o programa inviável. Como o banco não pagará aos fornecedores a parte que lhe cabia, a empresa credora já entrou em contato para cobrar Maria Gambri.

Para o diretor da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomczyk, o grande endividamento da agricultura, que concluiu no ano passado um processo de renegociação de R$ 75 bilhões em débitos, tem uma explicação: “A agricultura é tão endividada porque nós, produtores, não mandamos em nada. Não mandamos na hora de comprar nem de vender. Quem coloca o preço nos insumos são as fábricas e quando vendemos é o mercado que manda.”

Tomczyk reconhece que a crise mundial não afetou tanto os produtores de soja na safra atual porque eles já tinham feito contratos antes da bolha financeira estourar na América do Norte, mas causou uma redução média de 30% na área plantada de algodão.

A preocupação deles agora é buscar uma fonte de financiamento para a produção. “Os números indicam que a safra 2009/2010 precisará de menos recursos do que a atual, em função da diminuição do custo básico de produção, o que facilita um pouco as coisas. Porém, não existe segurança de lado nenhum de que existirá esse recurso”, afirmou Tomczyk, reforçando a necessidade do governo socorrer os produtores de Rondonópolis com o crédito oficial.

Como os recursos próprios que os agricultores tinham em mãos foram, em grande parte, gastos no ciclo atual, não sobrará dinheiro. Por isso, possibilidade de recuperação na próxima safra já está contaminada pelas incertezas na obtenção de crédito. “Traçamos dois cenários: no melhor deles, havendo vontade dos bancos em participar desse financiamento via tradings, teremos o recurso, embora extremamente caro; no pior, com a escassez de crédito bancário, como ocorre hoje, teremos sérios problemas. Pode ser até que não haja crédito suficiente para garantir toda a produção aqui do estado.”

Segundo Tomczyk, os bancos que continuam liberando financiamento agrícola em Mato Grosso dobraram as taxas de juros cobradas dos produtores. Por esse motivo, a recomendação dada aos agricultores é que segurem o máximo de capital de giro possível e evitem gastar com outras necessidades. A aquisição de insumos deve ter início dentro de alguns dias. O plantio de soja é feito em outubro e o de algodão, em dezembro.

Para sustentar os preços pagos aos produtores no mercado interno nesta safra e tentar compensar prejuízos causados pela escassez de crédito, o governo tem investido em outros instrumentos, principalmente os contratos de opção.

Ainda ao final de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, devem lançar o Plano Agrícola e Pecuário 2009/2010, no qual estarão especificados os recursos públicos destinados ao próximo ciclo agrícola, incluindo crédito para custeio e comercialização. Até lá, resta aos produtores trabalhar muito na colheita e torcer para que a crise se arrefeça
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