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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Marinha dos EUA "requenta" fusão a frio

O aniversário de 20 anos da mais famosa fraude científica da história não parece uma boa data para "comemorar" o que quer que seja. Um grupo de cientistas a serviço da Marinha dos EUA, porém, achou que esta semana seria a ideal para divulgar um trabalho que tem a ambição de ressuscitar uma das áreas mais controversas da física: a fusão nuclear a frio.


Este é o nome pelo qual ficou conhecida a área de pesquisa que tenta produzir energia a partir da junção de dois átomos para formar um terceiro, mas sem usar muita energia. É o mesmo tipo de reação que ocorre "a quente" no núcleo do Sol, mas físicos tentam fazê-lo agora com aparelhos que cabem em cima de uma mesa. 

Um grupo liderado por Pamela Mosier-Boss, do Comando de Sistemas de Guerra Naval e Espacial dos EUA, anunciou na semana passada ter conseguido. O trabalho foi tema de uma palestra e de uma entrevista coletiva no encontro da Sociedade Química Americana.

Em estudo que passou por revisão independente, publicado na revista científica alemã "Naturwissenschaften", a cientista descreveu a produção de fusão a frio num aparato experimental relativamente simples --uma célula eletrolítica, que decompõe substâncias químicas usando eletricidade.

Ao longo da semana, a notícia gerou uma enxurrada de comentários --mais críticas do que elogios-- em blogs de cientistas mundo afora. Não é para menos, já que a história que mais marcou esse campo foi uma acusação de fraude.

Há exatas duas décadas, a comunidade física entrava em polvorosa com a notícia de que dois cientistas --Martin Fleischmann e Stanley Pons, da Universidade de Utah (EUA)-- haviam finalmente conseguido produzir a fusão a frio. Ao que parecia, era o prenúncio de uma nova era, com a produção de energia abundante, barata e limpa (a reação de fusão não gera lixo atômico).

A dupla de pesquisadores também usara uma célula eletrolítica e mostrara dados indicando que seu aparato produzia "energia excedente", sinal de que a fusão nuclear estaria ocorrendo. Dezenas de laboratórios logo começaram a tentar reproduzir o experimento, mas nenhum conseguiu. Pons e Fleischmann caíram em descrédito, mas nunca reconheceram que teria havido fraude.

O novo experimento de Mosier-Boss, porém, adotou uma técnica diferente para mostrar que a fusão nuclear pode ter ocorrido em seu experimento "frio". A pesquisadora procurou mostrar que alguns nêutrons (partículas do núcleo de átomos) estavam sendo liberados --sinal clássico de reações nucleares. Para captar os nêutrons ela usou um plástico especial, que mostrava furos microscópicos em forma de triângulo.

Seriam o sinal deixado por partículas secundárias geradas na colisão dos nêutrons com o plástico.

Novo nome, velha disputa

"Até onde sabemos, é o primeiro relato científico da produção de nêutrons altamente energéticos em um dispositivo de LENR", afirmou a Mosier-Boss, em comunicado à imprensa. A sigla é composta das iniciais de "reações nucleares de baixa energia", em inglês, nome que os químicos adotaram agora no lugar da maculada expressão "fusão a frio".

O renascimento dessa linha de pesquisa, porém, não ocorreu do dia para a noite. "Um pequeno grupo de defensores da fusão fria continuou suas pesquisas e reuniões periódicas para apresentar seus resultados", disse à Folha o físico Antonio Carlos Paes, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial. "Parece haver agora uma cisão entre o grupo dos físicos e o dos químicos americanos a respeito das LENR."

Paes, que acompanha notícias sobre a linha de pesquisa desde 1989, conta que uma comissão da Sociedade Americana de Física tentou aplicar um golpe de misericórdia em 2005. "Revisores desaconselhavam que o governo americano aplicasse dinheiro na fusão fria."

Outro físico brasileiro, Ricardo Galvão, que pesquisa a fusão "quente" no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e na USP, diz que as marcas dos nêutrons detectados por Mosier-Boss, parecem ser consistentes.

"Mas não há nenhum ganho de energia nas reações das quais eles mostram indicações convincentes", diz. "Para produção de energia, o resultado não tem nenhuma relevância."

É cedo para saber se a fusão a frio voltará com força, dizem os físicos. A recepção aos novos experimentos, porém, ainda não é muito calorosa.
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