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Quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Cirurgia supera stents em casos graves

Pacientes com três ou mais vasos comprometidos que são submetidos a angioplastia (implantação de stents para desentupir vasos obstruídos) como forma de tratamento têm duas vezes mais chances de ter de se submeter a um novo procedimento quando comparados aos pacientes que têm o mesmo tipo de problema, mas que fizeram cirurgia cardíaca.


Os dados são do estudo multicêntrico Syntax, que comparou a evolução de 1.800 pacientes cardíacos em 18 países um ano após a realização dos procedimentos. Os resultados foram publicados no "New England Journal of Medicine".

Segundo o estudo, 13,5% das pessoas que fizeram angioplastia tiveram que revascularizar um vaso lesado dentro de um ano. Entre os pacientes que passaram por cirurgia, esse percentual foi de 5,9%.

Além disso, os principais eventos adversos cardíacos ou vasculares cerebrais em 12 meses foram significativamente maiores no grupo que fez a angioplastia (17,8%, contra 12,4%). O estudo diz ainda que a mortalidade nos pacientes dos dois grupos foi semelhante.

Angioplastia ou cirurgia?

Os resultados do estudo reacendem uma discussão antiga envolvendo cirurgiões cardíacos e médicos hemodinamicistas (responsáveis pelo implante dos stents) sobre o que é melhor para o paciente cardíaco: operar ou fazer angioplastia.

O cardiologista João Fernando Monteiro Ferreira, médico-assistente da Unidade de Coronariopatia do InCor (Instituto do Coração), diz que o sucesso primário da angioplastia é grande --já que se trata de um procedimento minimamente invasivo, em que o paciente recebe anestesia local e tem alta no dia seguinte. Mas, ainda assim, ele diz que há riscos de reestenose (novo entupimento do vaso) nos seis primeiros meses após o procedimento.

"Os stents estão cada vez mais modernos, a técnica evoluiu muito. A reestenose dos vasos diminuiu, mas ainda não conseguimos impedi-la completamente. E, se o médico implantar stents em muitas artérias, a chance de reobstrução e de ter que repetir o procedimento também aumenta", diz.

Na opinião de Edson Stefanini, cardiologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor científico da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), o estudo comprova que a cirurgia cardíaca é mais eficaz para pacientes graves, especialmente se eles forem diabéticos.

"Ninguém gosta de fazer cirurgia, ainda mais existindo o recurso da angioplastia. O que esse estudo mostra é que o benefício a longo prazo é maior em pacientes que optam pela cirurgia, mesmo com a mortalidade igual à dos que fizeram angioplastia. E os diabéticos são pacientes que têm mais chances de reobstruir vasos, por isso a cirurgia seria mais indicada", diz Stefanini.

Avaliar cada caso

Marcos Knobel, cardiologista e coordenador da Unidade Coronária do hospital Albert Einstein, diz que os médicos precisam avaliar o caso de cada paciente com muito critério.

"A angioplastia é menos invasiva, tem alta mais precoce, mas a longo prazo provoca mais eventos cardiovasculares. Então, no caso de pacientes graves como os do estudo, o tratamento padrão deve ser a cirurgia, mas isso depende de cada caso", diz o especialista.

Ferreira tem a mesma opinião. Ele diz que a evolução dos stents permite que eles sejam aplicados em pacientes com mais de uma artéria doente. Mas, para ele, é preciso estudar cada caso separadamente. Ainda de acordo com Ferreira, pessoas com apenas um vaso obstruído, por exemplo, normalmente são tratadas com stents.

"Cada paciente tem uma situação diferente. O estudo mostra que a cirurgia é mais eficaz em pessoas com três ou mais vasos lesados ou com lesão no tronco da artéria coronária esquerda. Nesses casos, acho que a tendência será indicar cirurgia", avalia.

Segundo Knobel, os resultados desse estudo eram esperados, mas o tempo de acompanhamento dos pacientes ainda é muito pequeno. "Eles foram acompanhados durante um ano. Acho que ainda é pouco tempo para definirmos alguma coisa", avalia.

Stefanini ressalta que a preocupação dos cardiologistas é sempre com a prevenção da doença. "Pessoas com tendência a desenvolver doença aterosclerótica devem procurar o médico mesmo que não tenham sintomas. Assim, será possível tratar o problema antes que ele apareça", diz.
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