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Golpe on line

Golpistas usam a internet para vender carros em nome de laranjas

A internet, com sua falta de leis e política de privacidade, se transformou num palco privilegiado para golpistas e estelionatários. Golpes como o dos carros NP (não pagos), ou Finan, numa abreviação de financiados, "pipocam" pela rede.

04 Mai 2009 - 13:51

Severino Motta - de Brasília - Especial para o Olhar Direto

A internet, com sua falta de leis e política de privacidade, se transformou num palco privilegiado para golpistas e estelionatários. Golpes como o dos carros NP (não pagos), ou Finan, numa abreviação de financiados, "pipocam" pela rede. Basta um simples visita ao Orkut para se encontrar ofertas de carros novos e seminovos por preços extremamente atrativos.


A reportagem de Olhar Direto adentrou o site de relacionamentos e buscou ofertas. Com um perfil modificado, encontrou pessoas dispostas a vender, por exemplo, um Golf 2008 por R$ 6 mil. Se preferir algo mais clássico, pode-se obter um Honda Civic 2007, por R$ 7 mil. Numa concessionária, eles não sairiam por menos de R$ 50 mil.

O golpe, na verdade, se dá através da abertura de financiamentos em nomes de laranjas. Com o carro em mãos, os golpistas os vendem e usam a internet como seu balcão de negócios. Pelo Orkut a reportagem pesquisou o seguinte termo na busca de comunidades: “carros NP”.

Pelo menos 14 comunidades foram listadas. Nelas, usuários que realmente tentam vender seus carros com financiamentos em aberto se misturam àqueles que oferecem o veículo e não exigem a transferência do financiamento. Ou seja, você compra o automóvel sem o compromisso de pagar as parcelas restantes.

A ideia é usar o carro por um certo período de tempo, até que a financiadora deseje recolhê-lo por falta de pagamento, e peça a ajuda da polícia para isso. Só que estes mesmos vendedores , que garantem um prazo de dois anos para rodar como veículo, dizem que, tão logo esse tempo acabe, recompram o carro caso o cliente queira um NP mais novo.

Nas andanças pelas comunidades de carros NP, encontramos o simpático Carrosfinan, que após um troca de scraps no Orkut permitiu que seu endereço de MSN fosse adicionado para que o negócio pudesse fluir melhor.

Em conversas reservadas, ele ofereceu o Golf e o Civic citados acima. Basta ir até Santa Catarina, encontrá-lo, e fechar negócio. De acordo com ele, o carro já está com o documento 2009 em dia. Você sai de lá dirigindo o carro novo e, como está com a documentação, pode ser parado pela Polícia até o final do ano.

Para ter certeza que o negócio era não pagar as prestações restantes, a reportagem perguntou pelo MSN se nada seria passado para o nome do novo proprietário. Carrosfinan respondeu que não, tudo fica no nome do laranja, que, segundo ele, dá até uma procuração em branco para poder atualizar o documento do carro em 2010 e passar o veículo para frente depois, caso seja de interesse.

“E não tem como o laranja dar queixa de roubo pois ele assina e reconhece firma em cartório”, completou o vendedor.Outro negociante atende pelo nome de João. No Msn, ele oferece um Marea 2000, o mesmo usado pelos senadores, por R$ 8,5 mil. Segundo ele, esse é mais caro pois já tem 75% das prestações pagas, então “não dá BA”, garantiu. O termo, bastante usado pelos vendedores, diz respeito à busca e apreensão.

Reclamando de como o valor estava salgado, ele garantiu que tendo carros mais novos, vende e desconta os R$ 8,5 mil caso o Marea seja devolvido. “C (sic) eu estiver com um carro q te intereça (sic) pego ela de volta no mesmo valor q eu te passei”, garante.

Para poder dar uma olhada melhor nos carros, a reportagem solicitou fotos dos veículos. Foi quando chegaram as lindas imagens do Golf e do Civic. Pelo preço, carros de dar água na boca de qualquer um. Após ver as fotos e elogiar o veículo, Carrosfinan replicou: “Tá lindão ele, não?”.

Ainda pior

Caso o interesse do cliente seja um carro novo, há quem se ofereça para “tirar o financiamento”. Há ainda casos piores, como o de Precisonpbh. Ele garante que, com R$ 3 mil, consegue toda a documentação falsa necessária, com contracheque e tudo, para se tirar um financiamento.

Ele, contudo, não quer o dinheiro. Convida o cliente para se encontrar com ele em Belo Horizonte, de lá os dois vão para Cuiabá, capital do Mato Grosso, onde diz conseguir os documentos pelos R$ 3 mil. “Na hora de pagar [os documentos] você pega”, diz.

Isso porque, ele oferece uma “parceria”. Ele dá os contatos para os documentos, o cliente entra com o dinheiro. Com tudo em mãos, tenta-se financiar pelo menos três carros. Um fica para o dono dos recursos, ele fica com os outros dois para vender.

A história do dinheiro só na hora é válida para este tipo de golpe. Nas próprias comunidades os usuários fazem uma espécie de cadastro positivo dos vendedores. Elogiam aqueles com quem os negócios deram certo e tentam fichar aqueles que não entregam o que prometem.

A recomendação básica é ir se encontrar com o vendedor e nunca pagar nenhum dinheiro adiantado. Alguns deles cometem um estelionato mais simples que a venda de carros NP. Simplesmente fingem ter o carro e pedem um adiantamento ou um valor para que uma cegonha entregue o carro na cidade do comprador. Quem paga antes, nunca mais vê seu dinheiro, e nem seu esperado carro NP.

Polícia

O delegado de combate a crimes cibernéticos da Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, explica que, devido à falta de legislação específica, não se pode punir ações circunscritas à internet. Ou seja, pode-se negociar a vontade, o crime só acontece quando o cliente realmente pega o carro no nome do laranja e não paga as parcelas restantes.

De acordo com ele, a falta de legislação dificulta as investigações, uma vez que, ao flagrar as tentativas de estelionato na internet, não se consegue acesso aos dados dos usuários. “Diferente do que acontece nos Estados Unidos, aqui não conseguimos que os provedores nos passem o endereço IP do usuário, nossa investigação fica comprometida. Essa é uma lógica que precisamos mudar”, disse.

Como a PF não pode fazer nada em relação ao nascimento do crime na internet, cabe à Polícia Civil tentar, depois da transação feita, correr atrás do prejuízo, sem o benefício de ter uma investigação completa, com o inicio, na internet.

Google

A assessoria de comunicação da Google, responsável pelo Orkut, foi procurada pela reportagem mas não se manifestou até o fechamento desta matéria.
 
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