Olhar Direto

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Notícias | Cidades

tropa dividida

Nova doutrina da PM desagrada os policiais e pode causar problemas a sociedade

Foto: Arquivo OD

Nova doutrina da PM desagrada os policiais e pode causar problemas a sociedade
Perda e luto. Foi com esse sentimento que vários veteranos da Polícia Militar de Mato Grosso externaram quando souberam da desativação das Rondas Ostensivas Tático Móvel, a Rotam. Enquanto isso, em bairros como Dr. Fábio, Altos da Serra e Pedregal, considerados perigosos quando comparados à maioria dos outros de Cuiabá, bandidos dispararam fogos de artifício em comemoração.


A desativação da unidade que compunha a 2º Cia. do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) faz parte da primeira reestruturação da policia em 30 anos. Todo arcabouço legal da instituição será revisto, tendo em vista que os princípios básicos da instituição não podem ser deixados de lado: servir e proteger a sociedade.

Segundo o chefe da Casa Militar do Estado, coronel Alexander Maia, leis e modos operacionais da PM-MT estão ultrapassados. Formalidades e burocracias da época da ditadura militar ainda não foram revistos e precisam mudar para que a polícia possa prestar um bom serviço à sociedade.

Contudo, a maioria dos soldados questiona a mudança na forma de atuação, alegando que a nova doutrina – forma com que a polícia se refere ao próprio modus operandis – põe em risco o policial e a sociedade.

Na antiga doutrina, utilizavam um mínimo de três soldados por carro, no caso de uma ‘guarnição a quatro rodas’, chegando ao máximo de dois carros com quatro soldados cada. Na nova doutrina, as viaturas podem ser tripuladas de dois a quatro soldados, sendo o número mínimo o mais comum. No caso da ‘guarnição a duas rodas’, patrulha com moto, utilizavam de três a quatro veículos e quatro a seis soldados. Agora a tendência é o uso de duas motos só com os respectivos pilotos.

Vários policiais, que preferiram não se identificar para evitar retaliações da própria instituição, alegam que o número reduzido de homens deixa a guarnição vulnerável. Sem capacidade de esboçar a reação adequada em uma situação de risco. “Dias atrás um policial civil reagiu sozinho quando três bandidos estavam assaltando uma joalheria no centro da cidade. Ele acabou baleado e ganhou um ingresso para o Pronto Socorro”, exemplificou um soldado.

Para eles, o alto comando da PM-MT tenta passar uma falsa sensação de segurança para a sociedade. Aumentam o número de guarnições na rua, porém diminuem sua capacidade de ação.

Estes policiais, insatisfeitos com a nova doutrina, afirmam que vários companheiros de profissão já ‘evitam’ ocorrências. Segundo eles, esses soldados buscam todas as formas de escaparem de uma convocação para reforço e só reagem quando é inevitável. “Tenho medo pela minha família. Se eles (a família) estiverem na rua e acontecer algo, sei que não vão ter apoio, por isso me preocupo”, desabafou outro soldado.

Segundo o comandante geral, coronel Campos Filho, e o chefe da Casa Militar, coronel Maia, essa nova doutrina é mais flexível e permite uma maior cobertura de área visto que com menos policiais por viaturas, haverá mais carros na rua. Dessa forma a policia estará mais próxima ao cidadão e coibirá um número maior de crimes apenas pela presença.

“Teremos uma grande tropa de patrulhamento seguindo uma mesma conduta”, afirmou Campos Filho, não só com relação ao número de viaturas na rua, mas também a unificação do modus operantis. Quando questionado com relação à segurança na ação de duplas, o coronel foi enfático: “No interior todas as viaturas trabalham com dois soldados e enfrentam tudo que vem pela frente.”

Já o coronel Maia reconheceu ao Olhar Direto, que Mato Grosso possuiu uma “dificuldade de contingente”, por isso não pode atuar com a tropa condensada. “O cobertor é pequeno”, enfatizou o chefe da Casa Militar. O Estado possui cerca de apenas 6.500 soldados, 498 se formaram sexta-feira (29), quando o número ideal gira em torno de 11 mil, sendo assim há um déficit de 40% no efetivo.

Maia também falou que nada é feito do dia para a noite. Segundo ele, a implantação dessa nova doutrina é obra de estudiosos da PM e passou por uma intensa avaliação. Segundo ele, os estudiosos pesquisam o que há de melhor em ação militar no Brasil e exterior e adaptam a realidade de Mato Grosso.


Despreparados para ações perigosas

Outro ponto abordado por diversos soldados da PM é que grande parte do Brasil investe nos batalhões especializados. Segundo eles, um policial especializado é o que possui um grau de efetividade maior que um soldado polivalente devido à grande carga de cursos e treinos especiais.

Os soldados insatisfeitos com a desativação da Rotam acreditam que a nova força de enfrentamento da policia, a Força Tática, não possui treinamento e técnica suficiente para situações de alta periculosidade. Eles dizem que os bandidos atuam de forma inteligente, na falha da policia e que logo irão tirar proveito da falta de preparo da nova força de enfrentamento. Por isso, acreditam que é necessária uma força especializada para combater em situações de periculosidade.

Já o comandante geral da PM-MT, Campos Filho, discorda desses soldados. Ele lembra que no caso dos assaltos a agências bancárias no interior do Estado, quem fez todas as ações de enfrentamento e busca foi a Força Tática. Segundo o comandante, a Força Tática não deixa a desejar no quesito preparo.

Vício em desativação

A Rotam é só mais um batalhão especializado a ser desativado em Mato Grosso. Já foram desativados em outras ocasiões os Batalhões da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), Polícia Ambiental e o Batalhão de Trânsito. Parte dos soldados da PM, afirmam que MT está na ‘contramão’ do que é feito na maioria dos Estados brasileiros.

Segundo eles, só o soldado especializado pode entender e reagir da forma correta em situações específica como vistorias ambientais, ações no trânsito, ou o combate de choque.

O coronel Campos Filho crê no oposto. Ele acredita na atuação de uma polícia integrada e polivalente, onde todos teriam a mesma formação. O comandante geral da PM cita que o Estado de São Paulo já percebeu que não adianta ter batalhões especializados se a área de cobertura alcançada por eles for curta. A equipe do Olhar Direto entrou em contato com a Polícia Militar de São Paulo sobre o assunto, mas eles preferiram não se manifestar. Contudo, no organograma que pode ser visualizado no site da corporação, constam os batalhões especializados da Rotam, Trânsito e Rodoviário.

Campos Filho disse que cada comando regional possuirá um núcleo da Força Tática, ampliando o alcance operacional da polícia. Segundo ele, a idéia é ficar próximo ao cidadão e adotar a filosofia de policia comunitária para toda corporação.

“Não adianta termos batalhões especializados se eles não têm alcance operacional. A nova doutrina irá flexibilizar o uso de tropas no interior do estado. A doutrina da Rotam condensava essa tropa”, explicou o comandante geral.

Para explicar a desativação dos batalhões especializados, o chefe da Casa Militar, Alexander Maia, lembrou que a Polícia Rodoviária Estadual atuava, principalmente, apenas em dois locais: o Trevo do Lagarto e na Rodovia Emanuel Pinheiro. Segundo ele, não por coincidência esses locais apareceram diversas vezes na mídia nacional como dos mais corruptos do país. “Se o serviço é mal feito é melhor nem contar com ele”, afirmou.

Em relação à Polícia Ambiental o coronel Maia ressaltou que a maioria dos crimes ambientais ocorre no interior e o batalhão ficava em Várzea Grande. “Eles só serviam para apreender pescado do ribeirinho honesto e vender por conta depois”, exclamou.

Maia aproveitou a ocasião para anunciar que esta em estudo a Polícia Disciplinar Ostensiva (PDO). Segundo ele, esta será uma tropa formada por soldados da corregedoria, especialistas em leis, tanto civis, penais e da corporação. Eles farão a vigilância da atuação dos policias. “Em uma corporação com mais de seis mil homens nem todos são santos. E precisamos ter certeza de que o serviço esta sendo bem feito”, discursou o chefe da Casa Militar.

Rotam, caso especial

Desativar a Rotam não causou um mal estar somente em soldados da PM, mas também na sociedade em geral. Até mesmo deputados da Assembléia Legislativa, como Carlos Brito (PDT), Guilherme Maluf (PSDB) e Roberto França (sem partido), manifestaram preocupação com o ‘fim’ da unidade.

Para o coronel Alexander Maia, a Polícia Militar não pode ter o luxo de manter um batalhão que atua de forma diferenciada. Segundo Maia, o fato dos soldados da Rotam iniciarem a rotina operacional apenas às duas da tarde, tendo todas as manhãs para treinos, criava certo desconforto em colegas da instituição.

O chefe da Casa Militar também salienta que em Cuiabá não existe nenhuma ‘área de risco’ – denominação usada para regiões onde a entrada do policial seja proibida por forças criminosas . Portanto, ele não vê necessidade de utilizar uma doutrina de ronda parecida com a de cidades violentas, como o Rio de Janeiro.

Alexander Maia também desdenhou dos cursos de formação dos soldados de batalhões especiais. “A menor parte desses cursos é de conteúdo especifico. Em suma ele faz aulas de tiro, imobilização e todo o resto que os policiais aprendem na academia. Trata-se de uma reciclagem. É importante essa reciclagem? É, mas treinar todas as manhãs não dá.”

A rotina do dia de serviço de um policial da Rotam começava às 7h, quando eles iniciavam o treino físico até as 8h30. Depois disso eles teriam uma hora e meia de instrução teórica para então estar pronto para agir nas ruas. A idéia de manter treinos diários e matutinos é de estar com um policial se reciclando diariamente no período diurno com menor movimentação financeira.

Equipamentos que não equipam

Novas viaturas foram entregues à Polícia Militar de Mato Grosso e várias motos devem ser adquiridas pelo Governo do Estado para o mesmo fim. Contudo, os soldados, ansiosos para utilizar o novo equipamento, notam algo está errado: não há camburão nas viaturas e as motos que serão adquiridas serão de um padrão e cilindradas inferior às já utilizadas.

Os soldados reclamam que, sem camburão, o transporte de criminosos se transforma em tarefa árdua, visto o reduzido número de homens em uma viatura. Eles explicam que as algemas não são tão seguras quanto imaginam. Uma situação que parece estar controlada, com alguém algemado dentro da viatura, pode tornar-se de risco caso este apetrecho falhe e não haja um aparato que proteja o policial do criminoso.

Outro alvo de criticas por parte de soldados da PM-MT são as motos que devem ser adquiridas para o uso das rodas e do Comando de Ação Rápida (CAR). Atualmente, a moto padrão é a Falcon, de 400 cilindradas, mas a nova padronização deverá ser de motos 200 cilindradas. Para os policiais, diminuir o nível das motos é ‘facilitar’ a fuga de bandidos.

Contudo, o chefe da Casa Militar, Alexander Maia, rebate as críticas e explica que o governo optou por não utilizar camburões por questões ligadas aos direitos humanos. “As novas viaturas não tem e não vão ter camburão. As pessoas não são animais para ser enjauladas. Está em desuso prender pessoas em cubículos apertados e o nosso Estado se preocupa com os direitos humanos.”

Em relação às motos, Maia explica que na maioria dos assaltos a condução utilizada pelos bandidos são de 125 cilindradas, portanto não deve haver perdas na qualidade técnica nas ‘roda em duas rodas’. Mais direto, ele usa o mesmo argumento que é utilizado em toda a nova doutrina de ação: “Para que gastar com um se pelo mesmo preço posso comprar dois?”.

Atualizada às 10h05
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Vídeo Relacionado

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet