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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Proximidade da Copa superaquece mercado de hospedagens alternativas

Festas, exposições, passeios, samba e feijoadas esperam o torcedor que se hospedar durante a Copa do Mundo no Vizu do Galo, um "cama e café" próximo ao elevador que dá acesso à favela do Cantagalo, comunidade encravada entre os icônicos bairros cariocas de Copacabana e Ipanema, onde a moradora e empreendedora Deise Franklin está atenta às oportunidades trazidas pelo torneio.


"Meu querido, se eu vendi 500 camisas canarinho lá embaixo quando a Copa era lá do outro lado do mundo, você acha que quando (a Copa) é aqui, eu não vou me arrumar?", disse Deise, tendo como pano de fundo uma paisagem única do Rio de Janeiro.

Ladeira um pouco mais abaixo, na "Casa da Teteca", uma diária em um quarto com ar-condicionado, Internet e café da manhã custa 70 reais durante a alta temporada, entre dezembro e o Carnaval. Na Copa, as moradoras calculam pedir 150 o pernoite.

Em torno de 2,4 milhões de viajantes brasileiros e estrangeiros vão precisar de hospedagem durante o torneio, de acordo com o Ministério do Turismo, enquanto a oferta de leitos em hotéis nas 12 cidades-sede não ultrapassa os 570 mil, segundo estudos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o governo em 2012.

A quatro meses do Mundial, a conta que não fecha provoca um forte aquecimento no mercado dos meios de hospedagem ditos alternativos, como os "bed and breakfast", albergues e aluguéis por temporada.

"O movimento é impressionante. Mesmo com antecedência, 60 por cento das reservas já foram feitas. A procura é algo que eu nunca vi antes. Você pode juntar réveillon, Carnaval e Rio+20 e mesmo assim é uma demanda ainda maior", afirmou Sven dos Santos, diretor da Agência-Heidelberg, especializada em aluguéis por temporada na zona sul do Rio de Janeiro.

Com 150 imóveis em sua carteira, ele ainda pretende captar mais 50 apartamentos para alugar entre junho e julho. "Se tivesse 1 mil, alugaria todos", disse o alemão Santos. A diária mais barata durante a Copa custa o triplo do que no Carnaval, e não sai por menos do que 600 reais, enquanto a opção mais sofisticada do portfólio da empresa sai por 4.500 reais o dia.

ALUGAR A PRÓPRIA CASA

Na comunidade de Pavão-Pavãozinho, vizinha à do Cantagalo, o professor de marketing da Fundação Getúlio Vargas Daniel de Plá trabalha junto com a presidente da Associação de Moradores, Alzira Amaral, na conclusão de um cadastro de moradores que queiram ceder um quarto em casa para receber torcedores, a 95 reais a diária. Para isso, os ocupantes do cômodo optam por dormir na casa de parentes.

Mesma ideia teve o professor Faber Pagonato, 31 anos, que durante o período da Copa vai morar com a mãe para alugar a sua casa em uma vila a menos de 1 km do Maracanã. "Para valer a pena, penso em ganhar no mínimo três vezes o valor de um aluguel mensal (de longo prazo), que ronda os 3 mil reais", avalia.

No serviço norte-americano AirBnB, que abriu um escritório no Brasil em abril de 2012 para melhor aproveitar o calendário de grandes eventos, qualquer pessoa pode ofertar um quarto ou a própria casa pela Internet, o que tem se revelado um grande negócio para o período da Copa do Mundo.

"A gente viu um crescimento da demanda (solicitações de reserva) de 600 por cento durante a Copa das Confederações, em comparação com o ano anterior. Esperamos um crescimento de no mínimo quatro dígitos (na Copa)", disse o diretor do AirBnB no Brasil, Christian Gessner.

Com a média de preço da diária rondando os 400 reais no AirBnB para junho e julho de 2014, o Rio de Janeiro é o destino mais buscado na ferramenta, com um aumento de 2.000 por cento da demanda ante o mesmo período de 2013.

SEMPRE MENOS QUE HOTEL

Outra opção para quem busca pagar menos, os albergues estão cobrando em média 300 reais por pessoa, por noite, em um quarto privativo. Em um dormitório coletivo, a média é de 150 reais a diária, de acordo com a Federação Brasileira dos Albergues da Juventude, filiada à rede Hostelling International, que contabiliza 6.800 leitos em mais de 90 albergues no Brasil.

"De 2012 para cá, a nossa rede credenciou mais de 20 hostels (albergues), principalmente nas cidades-sede, pensando já na Copa do Mundo. O mercado de hostels em geral tem crescido de forma intensa nesses últimos dois anos devido aos eventos que serão sediados no Brasil", disse o diretor da HI no Brasil, Stephan Leuenberger.

A demanda aquecida não é o único fator a favorecer a cobrança de preços mais altos nos albergues. Em geral mais baratos que os hotéis, os meios de hospedagem alternativos aproveitam a margem aberta pela rede hoteleira, cuja média nacional de cobrança durante os dias dos jogos está em 734 reais, segundo dados atualizados levantados a pedido da Reuters pelo Trivago, site especializado que compara preços em mais de 200 sites de reserva de todo o mundo.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fermi, disse acreditar que a liberação, na última sexta-feira, de até 50 por cento das reservas em hotéis que estavam bloqueadas por contrato e não conseguiram ser vendidas pela Match Services AG, operadora de turismo oficial da Fifa, deve aliviar a pressão sobre os preços.

"Acho que sim... É sinal que você está tendo menos procura pelo que foi ofertado", disse Fermi, referindo-se aos preços cobrados pela Match por meio do site hotels.fifa.com.

ABUSO NOS ARREDORES DOS ESTÁDIOS

A vice-presidente da ABIH do Rio de Janeiro, Sonia Chami, disse não temer a concorrência com os meios de hospedagem alternativos. Segundo ela, trata-se de um setor muito exposto a abusos, como se observa nas cobranças de aluguel ao redor dos estádios da Copa do Mundo.

"Não acredito que isso seja um problema, pelos altos valores que estão sendo cobrados. Tem muita especulação de preços em locação e aluguel", disse ela durante evento organizado pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça para debater o abuso de preços durante a Copa.

No bairro paulista de Itaquera, onde fica o novo estádio do Corinthians que vai receber a abertura do torneio em 12 de junho, desde o início deste ano se multiplicam os imóveis ofertados por mais de 100 mil reais pelo mês de duração da Copa.

Na esteira desses anúncios, o corretor de seguros Alfredo Alves também decidiu desocupar no início da semana passada o apartamento onde morava, com dois quartos e um banheiro, e o ofereceu a 125 mil reais por 31 dias, incluindo serviços como faxineira, tradutor e motorista.

"Vou ser bem sincero, eu particularmente não pagaria", assume Alves, de 40 anos, por telefone. "Mas pelas pesquisas que fiz pode sair até barato para quem precisar trabalhar ali", disse ele, que espera alugar o apartamento, em frente à nova arena, para alguma equipe que vá trabalhar na cobertura da Copa do Mundo.
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