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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Com 1,2 mil empresas juniores, Brasil é líder mundial no segmento

BRASÍLIA e RIO - Eles são inquietos, hiperconectados, apaixonados pelo que fazem e querem transformar a realidade. Hoje, são mais de 11 mil jovens profissionais espalhados por mais de 280 universidades brasileiras, compondo 1.200 entidades conhecidas como empresas juniores (EJs). O que faz do Brasil o líder mundial na criação de firmas do segmento. Com idades entre 18 e 25 anos, os universitários desenvolvem e vendem soluções para companhias que já estão no mercado. Além disso, atuam em projetos sociais. Mesmo sem receber salário, pois o trabalho é voluntário, movimentam cifras milionárias. Só no ano passado, faturaram R$ 10,07 milhões. Em 2016, os lucros dessas entidades já somam R$ 5,2 milhões e devem chegar a R$ 11,2 milhões no fim do ano, segundo estimativa da Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior).


Caso a projeção se confirme, haverá incremento de 26,2% em relação a 2010, ano do primeiro levantamento do “PIB júnior”.O dinheiro é revertido em capacitação para os integrantes, melhorias na infraestrutura de uso comum da universidade e para manter o próprio negócio. Para o diretor de Formação Empreendedora da Brasil Júnior, Lucas Costa, os números refletem uma geração que está cada vez mais focada no desenvolvimento do país:— Queremos impactar ainda mais a realidade brasileira, formar empreendedores focados em atender às necessidades do país.BOAS PRÁTICAS RECONHECIDAS

As empresas juniores funcionam como laboratórios onde os universitários podem traçar uma carreira, do cargo de trainee à presidência, durante o período da graduação. São eles os responsáveis por todo o funcionamento da firma, sem intervenção de professores. A maior parte dos alunos vem dos cursos de Administração, Engenharia e Economia, pois, originalmente, estas empresas foram criadas para prestar serviços de consultoria com o objetivo de melhorar processos, otimizar tempo e cortar gastos. Hoje, quem procura os serviços de uma firma júnior encontra parceiros de áreas tão distintas quanto nanotecnologia e comunicação.

Há EJs em todos os estados, sendo que 93% delas estão em instituições de ensino público federais ou estaduais. O Rio é um dos celeiros. A UFRJ foi pioneira no estado, ao criar uma empresa em 1990. Hoje, a instituição tem um núcleo com 19 EJs. O número de integrantes varia de dez a 80 alunos, e o faturamento anual pode chegar a R$ 400 mil. As universidades costumam ceder uma sala com computador e custear a emissão do CNPJ e capacitações. Se a abertura da EJ demandar mais recursos, os alunos promovem eventos e até vaquinhas para arrecadar. Foi o que fez o atual presidente do Núcleo de Empresas Juniores da UFRJ, Affonso Carvalho. Ele e nove amigos investiram R$ 100 cada para fundar a Auger Nanotecnologia. Ele acredita que essa experiência os torna profissionais diferenciados:

— Numa entrevista de emprego, temos mais desenvoltura, já sabemos lidar com pressão, temos experiência em gestão de projeto, logística, financeiro, comercial.

Para Débora Nascimento, da direção da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio (ABRH-RJ), a participação em uma empresa júnior é tão importante quanto conhecimentos técnicos avançados em informática ou um intercâmbio.

— A empresa júnior acelera o amadurecimento profissional — diz.
Um exemplo desse profissionalismo é o título recentemente conquistado pela empresa júnior da Universidade do Cefet, a Cefet Jr. A EJ, que presta serviços de análise e gestão de mercado, negócios e informação, ganhou o prêmio de melhor empresa de pequeno porte para se trabalhar no estado do Rio, concedido pela consultoria global Great Place to Work, concorrendo entre empresas seniores.

— É uma preocupação constante motivar nossos funcionários, até porque, com a crise, alguns membros tiveram de deixar a empresa para procurar estágio remunerado — conta Matheus Balthazar, presidente da organização.

Os universitários da Cefet Jr também estão comemorando a alta do faturamento. A procura pelos serviços cresceu com a crise econômica. Como o preço de uma consultoria prestada por uma EJ equivale, em média, a 10% do valor de mercado, a demanda aumentou.

— Dobramos nosso tíquete médio, de R$ 1.500 para R$ 3.000 por consultoria esse ano. Antes, as empresas diziam que só podiam pagar R$ 1.500 e tínhamos de aceitar, pois temos uma estrutura para manter. Hoje, a demanda é tanta que recusamos essas ofertas porque há quem pague o dobro — conta Balthazar.

A maior parte dos clientes das EJs é formada por micro e pequenas empresas. Mas há quem trabalhe para gigantes. É o caso da ACE Consultoria, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que presta serviços para a Sadia.

— A fábrica construída em Vitória de Santo Antão foi fruto da consultoria da ACE. Com outros projetos que desenvolvemos, será ampliada, gerando cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos — conta o presidente da EJ, Gustavo Cavalcanti.

IMPACTO SOCIAL

As EJs também fazem projetos sociais. Em parceria com a ONG Um Litro de Luz, a Enetec Consultoria, de estudantes da Universidade de Brasília (UnB), desenvolveu postes de luz autossustentáveis que foram instalados em comunidades carentes de várias cidades do país. Não cobraram nada por isso.

Apesar do sucesso, as EJs ainda enfrentam desafios, como avançar na regulamentação dessas organizações. Das 1.200 EJs, só 325 estão com a documentação em dia. Uma lei aprovada em abril é considerada pioneira no mundo e traz possibilidade de crescimento ao setor.

— A lei veio para dar respaldo e segurança aos projetos desenvolvidos pelas empresas juniores. E melhora o relacionamento com as faculdades — explica Costa, da Brasil Júnior.

Refletindo uma realidade do mercado, ainda é pequena a participação de mulheres nos cargos mais altos das EJs, explica a presidente da Rio Jr, que representa empresas do estado, Giovanna Loiola. Segundo ela, já houve avanços e, hoje, cerca de metade dos integrantes de uma empresa júnior é mulher. Mas, na liderança, há muito o que avançar, diz.

Novas empresas juniores, como a da Universidade Veiga de Almeida, criada há dois anos, trazem esperança. Nas duas eleições até agora, foram escolhidas duas presidentes.

— Eu já perdi uma vaga de estágio porque o contratante foi transparente em dizer que confiava mais em homens para a função. Isso me motivou a conquistar meu espaço e trabalhar pelo empoderamento das mulheres — conta Raíssa Harrison, presidente da EJ da Veiga de Almeida.
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