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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Do calor ao frio

Vereadora em Porto Alegre, cuiabana 'derruba' preconceitos no Sul e lembra de projeto após tragédia na boate Kiss

Foto: Reprodução

Vereadora em Porto Alegre, cuiabana 'derruba' preconceitos no Sul e lembra de projeto após tragédia na boate Kiss
Cuiabucha [mistura de cuiabana com gaúcha]. Assim se auto-intitula a cuiabana Séfora Mota, que foi vereadora por Porto Alegre (RS) de 2013 a 2016. Morando há 9 anos na capital gaúcha, a mato-grossense contou em entrevista exclusiva ao Olhar Direto como 'derrubou' os preconceitos e barreiras para se fixar no município. Além disto, lembrou também do projeto que fez, após o trágico acontecimento na Boate Kiss, em 2013, para evitar novos episódios iguais a este.


Sefora deixou Cuiabá, pela primeira vez, aos 24 anos e seguiu com o marido e um filho para São Paulo (SP), onde ficaram durante um tempo, mas não se estabeleceram. A decisão da família foi retornar para Cuiabá. Porém, há nove anos uma nova oportunidade apareceu e a mato-grossense decidiu arriscar-se.

Porém, desta vez o desafio era ainda maior. Do extremo calor cuiabano, que facilmente chega aos 40ºC, ela mudou-se para a fria Porto Alegre: "Os seis primeiros meses foram terríveis, o sotaque pesava, a cultura nossa é muito diferente da dos gaúchos. Eles são maravilhos, mas não são como a gente que se joga na vida, abre a porta de casa, você tem que ir conquistando-os aos poucos. Além disto, tem a questão da temperatura, porque o frio é muito grande".

Depois de se estabelecer na cidade, a cuiabana - formada em Rádio e TV - começou a tarbalhar na Rádio Guaíba, em Porto Alegre. O principal papel dela era pegar as reclamaçoes dos gaúhos e cobrar as autoridades para que resolvessem. Foi assim, conta ela, que se apaixonou pelo município e também onde começou a fincar o pé na política.

"Certo dia o Partido Repúblicano Brasileiro (PRB) me fez o convite, no início por conta da questão de cotas, do meu trabalho, trabalho do meu marido, que é apresentador na cidade. Eu aceitei o desafio, vim determinada a gostar daqui, ao contrário de São Paulo. Antes eu queria voltar para a minha mãe, mas falei pra mim mesmo que teria de ser forte desta vez", comentou.

Sefora disse nunca ter se imaginado na política: "Mas sou muito prática, estou ali para fazer. Mas a política é uma construção constante. Sofri muito na campanha, tinha recursos escassos. Não dá para fazer uma política diferente usando dos mesmos artifícios. Quando eu chegava para pedir o voto, as pessoas já diziam: 'mas tu não é daqui'. Foi a primeira barreira que enfrentei, além disto tem a questão de ser mulher, esposa de um apresentador conhecido. Mas dobrei tudo isto e tive a honra de receber 4.369 votos de confiança de um povo que acreditou em mim".

Todos estes votos fizeram com que a cuiabana ficasse como suplente, tendo assumido o mandato logo depois. "Foi outro desafio. Nunca fui da política, sempre tive liderança e estava à frente e defendendo as questões que me cercavam. Novamente veio o preconceito, tenho estereótipo muito diferente de Porto Alegre. Foram várias barreiras, me fiz ser respeitada, fui aprendendo e fazendo. Como fiz um compromisso de ser alguém com o gabinete aberto, nós tinhamos um mandato itinerante, dentro da comunidade".

Apesar de não fazer parte de nenhum grupo, ela se define feminista. Além disto, critica a falta de investimento na educação: "É a base de tudo. Muitos querem que a população continue assim, porque fica mais fácil de enganar. Mas isso tem de mudar, é por isso que eu luto".

Ainda como vereadora, Sefora esteve em Cuiabá, onde discursou na tribuna da Câmara de Vereadores. . Foi bastante interessante, as estruturas são muito diferentes. As verbas e salários da capital mato-grossense são bem maiores que as daqui. Quando cheguei eles disseram: 'é vereadora de Porto Alegre do Norte?', eu falava que não, era do Rio Grande do Sul mesmo".

Cuiabanos e gaúchos

"Os gaúchos e cuiabanos têm a alegria em comum. A diferença é que no calor, acho que gostamos mais de estar na rua, com as pessoas, já o gaúcho é um pouco mais distante. Porém, quando você conquista, ganha a alma deles. Nós abrimos a porta para todo mundo, aqui, o pessoa do sul acredito que demore só um tempo a mais. Criei meus laços aqui, é uma cidade muito bacana, um lugar em que amo morar, é minha segunda terra. Não tenho vontade de sair daqui", afirma a mato-grossense.

Por conta da política, Sefora disse ter tido poucas oportunidades de ir para Cuiabá e ficar durante bastante tempo. "Amo a comida cuiabana, banana frita, maria izabel. Não existe peixe melhor que da nossa terra: pintado, pacu. Sinto muita falta da minha terra. Em Porto Alegre somos só eu, meu marido e os dois filhos. Amaria estar com meus sobrinhos, que não acompanho o crescimento por conta das minhas escolhas. No fim do ano vou voltar para visitar e tentar aproveitar a calmaria".

Projeto após tragédia

Após a tragédia da Boate Kiss, em 2013, onde 242 pessoas morreram em um incêndio, a mato-grossense teve o projeto 'Cartão Balada' aprovado, obrigando que as casas noturnas cobrassem antecipadamente, com um cartão ou fichas. "A primeira coisa que me chamou atenção aquela vez foi que os seguranças seguraram muitas pessoas que poderiam ter se salvado. Em Porto Alegre tem muita casa dessas em prédios históricos, que só tem uma saída. Não queremos outra tragédia".

Amor por Cuiabá

"Estou há nove anos em Porto Alegre. Adoro as danças, cultura, amo churrasco, vou para acampamento farroupilha. Sinto muito falta de Cuiabá também e quero vê-la progredindo e sendo tratada da forma como as pessoas merecem. Não existem pessoas melhores que os cuiabanos. Tenho orgulho de dizer que sou desta terra, somos queridos, alegres, felizes e vemos a esperança nas pequenas coisas", finalizou.
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