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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Ameaças de ataques

Psicóloga descarta jogos violentos como principal causa de ataques em escolas e afirma que bullying precisa ser discutido

Foto: Reprodução Internet

Psicóloga descarta jogos violentos como principal causa de ataques em escolas e afirma que bullying precisa ser discutido
Desde o ataque ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), no dia 13 de março, onde dois adolescentes armados invadiram o local e mataram dez pessoas, várias ameaças de ataques foram registradas em todo o Brasil. Em Mato Grosso pelo menos 20 ameaças de ataques em escolas públicas e privadas foram registradas. A psicóloga Ana Clara Almeida Silva acredita que é preciso fazer uma análise comportamental mais profunda nesses adolescentes. Que jogos violentos não justificam as ameaças e que o bullying precisa ser levado a sério.


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Ana Clara se formou em psicologia há dez anos e há sete trabalha com psicologia clínica. Ela contou ao Olhar Direto que nunca atendeu, nem supervisionou diretamente um adolescente que tenha passado por uma situação parecida, que tivesse planejado ou feito algum tipo de ataque, mas já atendeu diversos casos de bullying e que em todos os casos a pessoa que praticava o bullying também estava sofrendo diversos tipos de violência em seu círculo social.
 
Para a profissional, vários fatores podem levar um jovem ou adolescente a planejar um ataque em uma escola por exemplo. “Na psicologia temos que levar em consideração três coisas: A nossa parte biológica, a nossa história de vida e a cultura. Todos os adolescentes, independente de geração, sempre vão ter alguma pratica que vai demonstrar um descontentamento. Na adolescência existem uma série de transformações biológicas, elas vão acontecer independente da vontade. Nós temos histórias de vida muito complicadas, nosso país é um país complicado, de muita divergência social, de violência. É preciso entender em que contexto essa pessoa está inserida para entender o que leva a esse comportamento”, afirma.

Ana pontua que culpabilizar jogos violentos não é o caminho. “Acho que quando a gente começa a entrar nessa história dos jogos, porque muita gente levanta esse tema, a gente mais uma vez retira nossa responsabilidade social de que tipo de modelo a gente está propagando por aí. Então o jogo violento pode ser sim uma das causas, mas raramente se tem apenas um causador. Eu entendo que os jogos são mais uma forma de culpabilizar algo, ao invés de ampliar para todo o contexto daquele ser humano. Primeira coisa que se deve analisar é se todo adolescente que joga também está agindo com violência. Porque se fosse uma causa constatada, eu diria então que todos os adolescentes que jogam jogos violentos, estão sendo violentos, mas isso não é real”, diz.

A principal questão a ser discutida, de acordo com ela, é o Bullying. “Vamos pensar no bullying de uma outra forma. O bullying existe desde sempre, só que hoje a gente da esse nome pra esse tipo de violência que nada mais é do que uma série de ataques que podem ser desde psicológicos, emocionais, abuso físico à violência sexual. Ninguém nasce violento, as pessoas aprendem a serem violentas. Então se aquela pessoa está causando violência dentro do contexto escolar ou qualquer outro contexto, deve estar acontecendo alguma coisa com esse sujeito, provavelmente. O bullying não acontece do nada. Às vezes eu vejo umas reportagens culpando o bullying, mas quando a gente faz isso, a gente tira toda a nossa responsabilidade social de que tipo de mundo a gente está criando. Que tipo de mundo a gente está deixando. As pessoas não cometem bullying do nada, tem toda uma questão e um histórico anterior que deve ser levado em consideração”.

Ao analisar o bullying como uma forma de violência que precisa ser identificada e contida, Ana explica que o papel dos pais é extremamente importante para ensinar de que forma esse filho irá tratar as pessoas com quem irá se relacionar. “A violência é ensinada, então se eu estou sendo violento com o meu filho, com minha filha, eu estou ensinando violência. Eu estou ensinando que se resolve os problemas sendo violento e que é assim que as coisas funcionam. Eu estou ensinando que as pessoas violentas são mais fortes e é assim que elas vão conseguir o que querem, que quando eu for mais forte eu também posso conseguir o que eu quero, então antes da gente falar como lidar com o bullying, é preciso analisar que tipo de comportamento estamos estimulando nos outros”.

É preciso estar atento a mudanças no comportamento, desde as mais sutis até a agressividade repentina. “Cada um vai ter um jeito único de demonstrar isso, alguns demonstram de forma violenta e outros não. Eu não sei se existe algum indício que os pais precisam ficar atentos, não existe uma regra comportamental, cada pessoa é única. O que eu sempre indico para os pais é: Preste atenção se houve uma mudança de comportamento brusca ou mais lenta, tenta entender o que está passando com aquela pessoa, se ela anda triste, as emoções em geral. Ignorar emoções, ignorar sentimento só faz com que muitas vezes a pessoa, independentemente de ser adolescente ou não, entenda que aquilo não tem importância, que não é valido. Não tem um comportamento que seja um indício, vai depender da vida daquela pessoa, ela mudou muito nos últimos tempos e que direção que ela está tomando. O acompanhamento psicológico é essencial em vários casos e precisa ser olhado com mais atenção”, afirma.
 
Relembre alguns casos

O estudante Y.G.W.M., de 18 anos, foi preso no dia 19 de março, no bairro Construmat, em Várzea Grande, após ameaçar cometer um atentado na Escola Estadual Professor Honório Rodrigues do Amorim, no bairro Cristo Rei. O suposto ataque seria parecido com o ocorrido em uma escola na cidade de Suzano (SP), no último dia 13 de março. O suspeito aparece em diversas fotos no Facebook com armas de paintball. 

O delegado regional de Cáceres (219 Km de Cuiabá), Alex Cuyabano, responsável por investigar ameaças de massacre em escolas do município, ouviu 14 estudantes de um grupo de 18, sobre mensagens compartilhadas em um grupo na rede social Telegram, de suposto atentado na Escola Estadual União e Força no início do mês de março. Os alunos com idades entre 15 a 17 anos, disseram se tratar de uma “brincadeira” e que não foi identificado nenhum plano de ataque à escola.

Os pais de alunos do Colégio Coração de Jesus ficaram assustados com uma suposta ameaça de um atentado, que ocorreria no dia 15 de abril, na unidade escolar. Nos vídeos e fotos, um adolescente de 15 anos aparece com o que aparenta ser uma arma de fogo e com diversos equipamentos. O pai do menino já se retratou e afirmou que tudo não passou de uma “brincadeira de mau gosto”. Por conta do fato, muitos decidiram por não levar os filhos para a aula.

Uma suposta ameaça de um massacre no campus de Cuiabá do Instituto Federal de Mato Grosso no dia 29 de abril, mobilizou equipes da Polícia Militar. A imagem de uma arma, compartilhada em grupos de WhatsApp, acabou gerando o pânico. Muitos pais ficaram preocupados com a situação e estavam temorosos em mandar seus filhos à unidade. Um boletim de ocorrências foi registrado e o estudante também responderá um processo disciplinar.
 
Denúncias

A Polícia Judiciaria Civil emitiu uma nota no dia 18 de março alegando que todas as denúncias de ataques em escolas são investigadas pela Gerência de Combate a Crimes de Alta Tecnologia.

O trabalho conta com apoio da Gerência de Operações de Inteligência e Gerência de Inteligência, ambas da Diretoria de Inteligência, e também das delegacias dos locais com denúncias.
 
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