Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Notícias | Cidades

Reportagem especial

Dia dos pais depois que ele 'sai': sobrecarga da mãe solo e as consequências para a criança

Foto: Ilustração

Dia dos pais depois que ele 'sai': sobrecarga da mãe solo e as consequências para a criança
Foi quando Maria Flor completou um ano e sete meses de vida, que Déborah, 28 anos, tomou a decisão de se divorciar. A partir daí, surgiram os desafios, sendo que um deles foi explicar para a filha que ela não mais moraria com o pai. O segundo foi se inserir na sociedade como mãe solo e chefe de uma família. Estima-se que 40% dos lares brasileiros sejam chefiados por mulheres, o que significa 60 milhões de domicílios.


No dia em que se comemora o Dia dos Pais, crianças criam expectativas sobre a data. No entanto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 5,5 milhões de crianças não levam o nome do próprio pai na certidão de nascimento.

Leia mais: 
Vivendo na França, cuiabana cria canal sobre experiências com a maternidade

Em comemoração à data, escolas realizam diversas atividades, as crianças confeccionam presentes para serem entregues aos pais. Mas por conta da frustração das crianças criadas somente pels mães, algumas escolas passaram a adotar um novo formato de comemoração voltado para a família, em sua maioria chefiada por mães solos, e não exclusivamente para o pai.   

A mestre em Psicologia e membro da Associação Mato-grossense de Psicanálise, Michéli Jacobi explica que a terminologia mãe solo, vem há alguns anos se apresentando no discurso de mães, que se responsabilizam pelo cuidado de seus filhos. Ela explica que os desdobramentos da maternidade são desafiadores.   

“A maternidade pode acarretar uma rotina com exaustão e cansaço, algumas mães podem apresentar tristeza, falta de motivação, e corriqueiramente esses sintomas acontecem em mães que imaginaram uma maternidade perfeita, e a maternidade tem os seus momentos de grandes desafios, sono irregular, desafio da amamentação, choro do bebê, entre outros”, afirma ao Olhar Direto.

“E diante dessa mudança de rotina, uma possível irritabilidade pode surgir, dificuldade de atenção, memória, preocupação se está sendo uma mãe boa. Vivenciar todo esse momento sozinho não é fácil. Por isso a importância de as mães cuidarem de si nesse momento e buscarem um acompanhamento psicológico e caminharem para longe de um ideal ou de uma perfeição, pois isto está para muito além da maternidade”, acrescenta.

Déborah lembra que ao mesmo tempo em que lidava com o término do relacionamento, também precisava conduzir uma nova vida, a de mãe solo, já que escolheu pedir a guarda exclusiva da filha.  

“Nunca dei liberdade e espaço para as pessoas interferirem nas minhas decisões da vida, então foi menos doloroso o processo de julgamento direto, porque não me falavam. Naturalmente eu sentia que falavam de mim quando eu passava perto das pessoas, ou que esperavam eu postar algo nas mídias sociais pra teorizar qualquer coisa sobre mim”, lembra.

Com o passar do tempo e o crescimento de Maria Flor, atualmente com dois anos e sete meses, ela se viu em um desafio maior, o de educar. “Me vi realmente só, sem ajuda nenhuma do pai para conduzir o aprendizado dela. Hoje ela tem dois anos e sete meses e a realidade é a mesma: eu financio o ensino de maior qualidade sozinha, eu participo dos processos escolares sozinha, trabalho de forma lúdica com ela em casa”.

De acordo com a psicóloga Michéli Jacobi, o papel do pai na vida da criança passou a ser mais pensado, debatido e estudado a partir da década de 50. Com isso, começou a se perceber que a paternidade é fundamental na vida da criança, pois é com a interação entre pai e filho, que se pode auxiliar o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social do bebê, da criança, facilitando a capacidade de aprendizagem, a integração da criança em suas relações interpessoais.

Entretanto, a função paterna pode ser exercida por qualquer outra pessoa, mas o pai enquanto ser não deixará de existir. “Pontuo ainda que há pais presentes nas famílias e que acabam deixando a desejar a função paterna, ou seja, paternidade e função paterna são distintas”.

“A ausência física do pai necessariamente não significa a ausência da figura paterna, a função paterna, poderá ser exercida por qualquer pessoa que estará permeando o caminho junto com a criança”, afirma Michéli Jacobi.

Déborah Maria relata que a filha tem cobrado respostas quando a ausência de pessoas na vida dela.  “É delicado se arriscar em uma resposta porque acredito ser uma linha tênue, mas tento explicar que as pessoas estão em nossas vidas conforme é possível pra elas no determinado momento em que se encontram. E ela me responde que tudo bem, mas que queria saber mais - parece irreal, mas ela é assim mesmo, qualquer um precisa de apenas 15 minutos com ela pra confirmar”.

A criação de um filho envolve tudo aquilo que gira em torno de sua vida, como, por exemplo, suas primeiras conquistas, saúde, alimentação, saber quem são os amigos, dentre outras coisas. Mais de 80% das crianças têm como o primeiro responsável uma mulher. Os dados demonstram a presença feminina na maternidade e a ausência da figura masculina.

Ainda que exista uma cultura pacifica para este tipo de comportamento masculino, para as mulheres o julgamento é diferente, caso não cumpram o papel na maternidade esperado perante a sociedade.

“Enquanto mãe, ainda sofro com a falta de acolhimento da sociedade, de empatia, de se colocar no lugar e entender a delicadeza das relações  que vivemos. Não saímos muito, pois os estabelecimentos insistem em não se adequar oferecendo entretenimento adequado, quando fazemos compras não existem muitas pessoas que se habilitam em carregar algo, por exemplo. Os amigos que não tem filhos dificilmente conseguem entender as minhas limitações - mas tenho muitos amigos incríveis que sempre se habilitaram a aprender a viver minha realidade e me encaixar sugerindo programas que sejam possíveis ter uma criança”, comemora.

“Eu precisei aprender e a trabalhar que eu não sou mãe e pai, eu sou apenas mãe! Uma mulher que necessita de vida social, de tempo, descanso, atividades físicas. Tudo que qualquer mulher precise. Nos cobramos muito tentando ser as super heroínas que não precisamos ser e sequer conseguiremos, nos limitamos sem perceber aos limites que nos impõem. E isso precisa mudar, mas só acontecerá quando nos apoiarmos e entendermos que a rede de apoio é importante, que precisamos falar mais abertamente a respeito e não esperar que o próximo nos entenda livremente, mas sim conduzi-lo para um processo de evolução conjunta”.
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet