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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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ALÉM DO FOGO

Animais sobreviventes de incêndios em MT podem morrer pela falta de recursos, aponta pesquisadora

Animais sobreviventes de incêndios em MT podem morrer pela falta de recursos, aponta pesquisadora
Devido a falta de recursos, animais que sobreviveram aos incêndios em Mato Grosso podem acabar morrendo. “Muitos do que não morrem na hora da queimada acabam tendo impactos severos em suas populações”, conta a professora Viviane Layme, mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ao Olhar Direto


Na última semana, a foto de um tatu sendo resgatado por um soldado do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso durante um incêndio em Campo Novo do Parecis (a 404 km de Cuiabá), no sábado (17), chamou a atenção dos internautas. Já na terça-feira (20), foi a vez de um vídeo onde uma gambá fugia com seus filhotes do fogo. 

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As mortes dos animais devido aos incêndios pode se dar de forma direta e indireta. Os animais que não conseguem se deslocar em uma velocidade superior ao do fogo podem morrer carbonizados ou intoxicados em esconderijos. Já os sobreviventes podem morrer posteriormente por fatores diversos.

Os mamíferos, por exemplo, são territoriais e tendem a retornar aos locais que foram devastados pelo fogo. Com a diminuição de recursos, todavia, esses animais precisam estender a região onde procuram seus alimentos. Desta forma, eles ficam a mercê de novos predadores.



“O habitat mudou toda sua estrutura, muda a vegetação e distribuição de recursos. Os que sobreviveram ficarão em um ambiente apocalíptico. Eles vão estar muito mais expostos a predadores e insolação. (...) Vai ter muito menos alimento disponível. Muitos do que não morrem na hora da queimada acabam tendo impactos severos em suas populações”, explica a professora Layme ao Olhar Direto.

Um dos poucos animais que se beneficiam com o fogo, ainda de forma limitadora, são as aves de rapina. As presas se tornam muito mais visíveis, logo se torna mais fácil a caça feita por esses pássaros. Entretanto, devido a esta facilidade, o número de presas pode reduzir ao ponto de extinção na região, causando, consequentemente, a morte destes predadores.


Outro animal que também sofre menos com os incêndios são os lagartos, de acordo com a também mestre em Ecologia, Christine Strussmann. Estes animais conseguem se locomover mais rapidamente e se esconder em tocas subterrâneas e cupinzeiros, mas há casos de mortalidade direta. “A perda direta de indivíduos [lagartos] é muito pequena. Ao pressentirem [o fogo], eles imediatamente já procuram abrigo e depois conseguem sair e recolonizar essas áreas”. Cobras também sofrem com o fogo, havendo casos de mortandade direta, segundo a professora. 

Os incêndios no cerrado, em sua maioria, são causados pelo homem, seja de forma acidental ou proposital, de acordo com a professora Layme. Ela esclarece que os incêndios naturais acontecem no início da seca e em seu fim, devido aos raios de chuva em ambos os períodos que atingem árvores. O fogo, inclusive, tem pouca precipitação, sendo localizado em pequenas regiões e tem um dano pequeno em termos de morte de indivíduos. “Ele tende a ser muito menos danoso porque a vegetação [seca] não está em seu auge”, explica.



Mais de 13 mil focos de calor

Segundo um levantamento do Instituto Centro de Vida (ICV), que foi publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e agosto de 2019, o estado registrou mais de 13 mil focos de calor, o que representa um aumento de 87% em relação ao ano anterior. Deste montante, 60% se concentram em áreas privadas registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). 

10 dias em chamas

Em Chapada dos Guimarães (a 64 km de Cuiabá), o incêndio no Parque Nacional teve início no dia 9 de agosto e foi extinto dez dias depois, no último domingo (18). A área total devastada pelo fogo, somada entre parque e arredores próximos ao distrito de Água Fria, é de equivalente 13,3 mil campos de futebol. 

Por conta do incêndio, os atrativos turísticos da Cidades das Pedras e Vale do Rio Claro tiveram que ser fechados para visitação por motivos de segurança a partir dos dias 10 e 12 de agosto, respectivamente.

Apesar da extinção deste incêndio, desde quinta-feira (22) há outro cerca de três quilômetros do local, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Por conta de queimas prescritas, o Parque está relativamente seguro, entretanto, muitas propriedades vizinhas podem ser atingidas pelas chamas.



Incêndios em Mato Grosso

O Parque Estadual Serra Ricardo Franco, na região de Vila Bela da Santíssima Trindade (a 521 km de Cuiabá), também foi atingido por um incêndio florestal no início do mês. O fogo só foi controlado no dia 10 de agosto, após quatro dias de atuação dos bombeiros. Cerca de 90% do fogo foi controlado.

No sábado (17), diversas ocorrências de incêndios foram atendidas ao longo de Mato Grosso. Somente em Cuiabá, dois incêndios aconteceram na Avenida Miguel Sutil e na Rodovia dos Imigrantes. Já em Campo Novo do Parecis a devastação foi em larga escala, sendo necessária atuação conjunta do Núcleo de Bombeiros da cidade, a Defesa Civil Municipal e a Coprodia, usina de etanol localizada nos arredores da cidade.

Outros dois incêndios ocorreram em Sapezal (a 529 km de Cuiabá) e Cáceres (a 219 km de Cuiabá). O Olhar Direto teve acesso a um vídeo atribuído à um dos casos, em uma fazenda em Sapezal. Veja abaixo:
 

Já no domingo (18), pelo menos quatorze pequenos incêndios foram registrados nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande. O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso precisou escolher quais das ocorrências atender. Entre os incêndios, houve casos de automóveis pegando fogo e terrenos sendo incendiados no Distrito Industrial e Avenida do Chile, em Várzea Grande.

Fogo na Amazônia

De acordo com o Programa Queimadas, do Inpe, os incêndios na Amazônia representam 52% entre os mais de 76,7 mil focos registrados em 2019 até agosto. Para a professora Layme, é possível que a região nunca mais seja a mesma.

“Não é porque acontece ou já aconteceu que isso não é preocupante em termos de biodiversidade. Como eu disse, os problemas dessas queimadas na Amazônia, nessa escola que está acontecendo, a recuperação disso não vai ser no ano que vem, no próximo governo ou próximos 10 anos.[Serão] centenas de anos para resgatar. (...) Talvez nunca volte a ser a mesma coisa”, esclarece a professora Layme.
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