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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Infectologista de Cuiabá afirma que pandemia está no pior momento e cenário deve se agravar

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Infectologista de Cuiabá afirma que pandemia está no pior momento e cenário deve se agravar
O Brasil bateu na última semana recordes consecutivos de mortes em decorrência do novo coronavírus (Covid-19). Em Mato Grosso, a taxa de ocupação de UTIs ultrapassou a marca dos 96%. Para Tiago Rodrigues Viana, infectologista, professor e sub-investigador dos estudos da Coronavac, realizado pelo Instituto Butantan, em Cuiabá, este é o pior momento da pandemia no país, e o cenário dos próximos dias será ainda mais grave.


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“Baseado nas últimas semanas, o cenário para os próximos dias é ruim. As internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) aumentaram muito. Já há estados sem vagas de UTI. Já há muitas UTIs em nosso estado sem vagas ou trabalhando sempre no limite. Essa condição, no meio de uma pandemia, é muito temerosa”, avalia.

De acordo com os dados do painel de monitoramento da Covid-19 em Mato Grosso, consultados na tarde desta sexta-feira (5) pelo Olhar Direto, a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado está em 96,45%, número que anuncia um cenário de emergência para os próximos dias. Dos 21 hospitais disponíveis com leitos para combate a Covid-19 no estado, 10 estão em colapso, 8 com taxa de ocupação acima de 80% e outros 3 com taxa entre 70% e 80%.

Segundo  o infectologista, a alta transmissão da Covid-19 é um dos principais fatores responsáveis pelo agravamento da pandemia no país, e, por isso, medidas que restringem a circulação do vírus devem ser vistas como antídoto para o surgimento de consequências maiores.

“Por tratar-se de um vírus novo, todos somos susceptíveis a ele. O segundo motivo é baseado na transmissão. Como ela ocorre por via aérea, o convívio social comum e principalmente as aglomerações, propiciam a transmissão. Essa é uma das maiores problemáticas do vírus, além do seu potencial letal, ele ataca o estilo de vida que toda a sociedade se moldou a ter. Isso exige mudanças profundas nos hábitos, o que acaba levando a uma série de consequências, desde as mortes, desordens psicológicas e crise econômica. Destas, somente as mortes são irreversíveis, por isso mesmo as medidas para evitá-las devem ser priorizadas em detrimento das demais consequências”.

Estados devem pecar pelo excesso, não o contrário

Tiago relembra o cenário atravessado pelo Amazonas - estado que faz fronteira com Mato Grosso - que no início do ano enfrentou um colapso com a falta de oxigênio e falta de leitos para pacientes com Covid-19, para enfatizar que os gestores deveriam ter visto na crise vivida ali, um cenário que o país poderia enfrentar mais adiante.

“O que eu acho sobre a ameaça de colapso é que devemos aprender com os estados que já o enfrentaram ou enfrentam. O Amazonas deveria ser uma grande lição para todos os gestores em saúde pública. A sensação de que ‘tudo está passando’ ou ‘tudo está melhorando', não deveria nunca ser experimentada pelos gestores e políticos”, afirma Viana.

Para o pesquisador, diante do cenário crítico que Mato Grosso enfrenta, as medidas que fortalecem a preservação da vida devem prevalecer. Evitar aglomerações, usar máscaras, determinar medidas restritivas e de distanciamento rígidas, são iniciativas que podem controlar a curva de óbitos e contágios no estado e no país, uma vez que o afrouxamento dessas medidas se encontra distante, defende Viana.

“Em uma situação complexa e ainda muito desconhecida como a pandemia atual, as autoridades devem pecar sempre pelo excesso de cuidados, precauções e vigilância. O desleixo e a morosidade aqui custam milhares de vidas. Se a transmissão é facilitada pelas aglomerações, devemos evitar as aglomerações. Qualquer medida em favor do distanciamento social, uso de máscaras, etc., deve ser mantida”, afirma.

Vacinação ainda não significa fim da pandemia

Até esta sexta-feira (5), o Brasil tinha atingido 7.9 milhões de vacinados contra a Covid-19, número que equivale a apenas 3,75% da população do país. Em Mato Grosso, o número de imunizados alcançou a casa dos 93,1 mil, cerca de 2,6% da população mato-grossense, segundo consulta do Olhar Direto à plataforma do Governo Federal de monitoramento da vacinação no país.

Segundo Tiago, o ritmo lento da campanha de imunização é um fator preocupante que deve ser levado em conta pelos gestores que pensam abrir mão de medidas rígidas no enfrentamento à emergência sanitária que o país atravessa. “O começo da vacinação deve ser visto como uma esperança de que a vida normal pode voltar. Jamais deve ser visto como um critério para encerrar os cuidados e combate à Covid-19. Só colheremos os frutos da vacinação quando a maioria da população tiver feito uso das duas doses das vacinas”, declara.

Viana afirma que, nesse momento, a vacinação em massa da população se tornou a principal medida para frear o avanço do vírus e suspender o surgimento e propagação de novas variantes mais infecciosas no país. “O isolamento e distanciamento social são medidas emergenciais e pontuais para dar certo desafogo no serviço de saúde e este conseguir absorver toda a demanda, dando chance de mais pessoas poderem ser salvas. Somente a vacinação da maioria das pessoas nos tira desse buraco. Somente a vacinação em massa traz a vida ao que era antes da Covid-19, não temos alternativa”, disse.

Medidas do Estado

Em Mato Grosso, desde quarta-feira (3), em cumprimento do decreto estadual 836/2021 - publicado em edição extra do Diário Oficial na segunda-feira (1) -  medidas mais restritivas para conter a pandemia da Covid-19 foram estabelecidas. As medidas são impositivas para todo o estado e valem por 15 dias e segundo o governador Mauro Mendes (DEM), podem ser prorrogadas, endurecidas ou flexibilizadas, conforme o resultado obtido.

Entre as medidas, está o fechamento do comércio das 19h às 5h, de segunda a sexta, fechamento do comércio às 12h aos sábados e domingos e toque de recolher a partir de 21h até as 5h da manhã. Em Cuiabá, o principal conflito foi com o decreto assinado pelo líder do executivo municipal, Emanuel Pinheiro (MDB), na terça-feira (2), que estendeu o horário de início do toque de recolher e de funcionamento de setores do comércio para até as 23h. 

Com as decisões em discordância, o desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), determinou na tarde desta quarta-feira (3) que o decreto estadual, do governador Mauro Mendes (DEM), se sobreponha ao decreto municipal, assinado por Emanuel Pinheiro (MDB). Com a decisão, estabelecimentos comerciais fecharão às 19h.

Sobre isso, o infectologista esclarece que como profissional da saúde, a sua avaliação sempre terá como principal fator determinante a preservação da vida. Ele esclarece que apesar de gestores terem outras atribuições como a economia, nesse momento de emergência sanitária, sem precedentes no estado e em todo o país, as diretrizes de combate à pandemia devem, ainda assim, se sobressair.

“A minha visão vai ser sempre a de salvar mais vidas possíveis, esse será sempre o meu critério prioritário. O político e gestor precisam levar em conta critérios econômicos, sociais, etc, eu entendo todo esse contexto. Mas como profissional da saúde eu defendo que as medidas que evitem aglomerações prevaleçam”.
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