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Sexta-feira, 29 de março de 2024

Notícias | Cidades

​4º ANUÁRIO DA DEDM

“Homens ainda tratam mulheres como sua propriedade”, diz delegada ao expor dados sobre violência doméstica

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

A delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto

A delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto

A delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto, da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher (DEDM) de Cuiabá, divulgou nesta sexta-feira (30) os dados da 4ª edição do Anuário da DEDM, que revelou o cenário da violência doméstica na capital em 2020. Segundo a delegada a queda no número de vítimas, com relação à 2019, tem como um dos fatores a pandemia da Covid-19, que dificultou o acesso das vítimas a canais de denúncia. Apesar disso os números ainda são altos e a delegada afirmou que isso só comprova como o machismo estrutural ainda é um grande problema e faz com que homens tratem as mulheres como propriedade.

 
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Conforme dados do 4º Anuário da DEDM, em 2020 um total de 2061 mulheres foram atendidas na delegacia da mulher, um número bem menor que o de 2019, quando foram atendidas 3022. De acordo com a delegada Jozirlethe isso se deve ao fato de que foi inaugurado um novo canal de denúncias, o plantão de violência doméstica e sexual (cujos dados não foram juntados no anuário), mas principalmente por causa da pandemia da Covid-19, que fez com que as vítimas não conseguissem sair de casa por estarem juntas dos agressores ou por falta de informação e acesso aos canais de denúncia online.
 
“Em relação a pandemia houve uma diminuição no número de registros, pela dificuldade de acesso, de saírem de seus lares, por exemplo, mas também por uma outra vertente que foi a inauguração do plantão de violência doméstica e sexual. Esse plantão deu oportunidade à mulher ter acesso a duas portas de entrada para denuncia”, explicou a delegada.

 O 4º Anuário da DEDM trouxe informações sobre o perfil das vítimas e dos agressores, e também sobre os crimes cometidos. Por exemplo, domingo é o dia da semana em que mais ocorrem casos de violência doméstica, sendo a incidência maior das 18h às 20h. Os principais crimes cometidos contra as mulheres são ameaça, injúria e lesão corporal. Com relação à motivação, 26,3% são crimes passionais, ou seja, motivados por ciúmes.
 
“Significa que ainda temos um machismo estrutural. As violências são perpetradas em razão desse agressor realmente desejar ter a mulher submissa, deseja ter a posse da mulher, ele entende a mulher como propriedade”, disse a delegada.
 
Os bairros com maior número de registros de violência doméstica são Pedra 90 e Dom Aquino. Com relação à escolaridade das vítimas, 67,2% tem no mínimo ensino médio completo, porém a maioria trabalha no próprio lar, tem empregos informais ou estão desempregadas. 
 
“O que me chama a atenção é essa situação das mulheres com nível de ensino que poderia propiciar a ela um emprego formal, uma independência financeira, mas que de repente isso não acontece. Aí precisamos refletir se essas mulheres são tão submissas nesse relacionamento e acabam não tendo oportunidade de estar no mercado de trabalho. Se declaram do lar porque querem ou porque se submetem à vontade do agressor?”, disse Jozirlethe.
 
A maioria das vítimas não tem mais vínculo com o agressor, se declaram solteiras, de cor parda e têm idade entre 35 e 45 anos.
 
Já com relação ao agressor, a maioria destes homens está desempregada, possui ensino médio completo e se declara de cor parda. A delegada Jozirlethe afirmou que isso reflete a necessidade de políticas públicas para esta população.
 
“Assim como as mulheres vítimas em sua maioria não tem emprego formal, a vulnerabilidade econômica não se reduz à esfera da vítima, mas também está relacionada ao agressor, os subempregos, desemprego, então estas políticas públicas têm que ser discutidas, não só com relação à vítima, mas também com relação ao agressor”.
 
Após a apresentação do anuário pela delegada, a juíza Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, da Primeira Vara de Violência Doméstica e Familiar da Comarca de Cuiabá, trouxe outros dados. Ela afirmou que no último ano houve um aumento de 67% no número de feminicídios. Ela citou que em 2019 não houve registro deste crime na capital, mas em 2020 já foram quatro feminicídios.
 
“Foi uma tragédia, muito perigosa essa subnotificação, então temos que fazer campanha para que as vítimas façam a denúncia, e também cobrança às autoridades, por políticas públicas que deem resultado, pedir para o município olhar com carinho para os bairros mais violentos, para fazer um trabalho social”, disse a magistrada.











 
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