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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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​DESTRUINDO FLORESTA

Dossiê aponta avanço de fazendas de gado sobre Terra Indígena Piripkura

Foto: Rogério Assis/ISA

Dossiê aponta avanço de fazendas de gado sobre Terra Indígena Piripkura
Foi lançado nesta segunda-feira (22) o dossiê "Piripkura: Uma Terra Indígena devastada pela boiada", pela campanha #IsoladosOuDizimados, promovida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), e organizações parceiras. Imagens inéditas revelam como fazendas de gado, com pistas de pouso e estradas, estão tomando a Terra Indígena Piripkura e destruindo a floresta que é a casa de Baita e Tamandua. Desmatamento disparou 27.000% em dois anos.

 
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"Desmatamento, invasões de fazendas de gado e degradação florestal dentro da Terra Indígena Piripkura (MT) alcançam um patamar inédito", essa é a denúncia que evidencia o dossiê.
 
No centro do documento, imagens aéreas — de sobrevoo realizado em outubro deste ano — registram como o território de Baita e Tamandua, os dois únicos Piripkura em isolamento que se têm notícia, está sendo desmatado, grilado e invadido por rebanhos bovinos. A boiada, sob conivência do Estado, está literalmente correndo solta na Terra Indígena Piripkura.
 
A Terra Indígena Piripkura, localizada nos municípios de Colniza e Rondolândia, no estado do Mato Grosso, é ameaçada há décadas pelo lobby agropecuário e pela exploração madeireira. No entanto, a flexibilização da proteção do território no último biênio do governo Bolsonaro piorou um cenário que já era devastador.
 
O monitoramento do território, realizado pelas organizações parceiras da campanha #IsoladosOuDizimados, analisou imagens de satélite e imagens aéreas produzidas em sobrevoo que comprovam a expansão de fazendas agropecuárias e a reativação da atividade comercial de madeireiras dentro do território indígena, revelando que violações de direitos seguem a todo vapor e sem nenhuma intervenção efetiva do Estado. Grandes desmatamentos e queimadas impulsionam a expansão das fazendas.
 
"Aquela área que nós sobrevoamos, é uma área nova, uma expansão dessa atividade para a pecuária, já exploraram as madeiras que agregam valor comercial para fazer exportação nesse estado ou externamente. E agora para fazer plantio de capim, para colocar gado ali dentro", explica Elias Bigio, ex- coordenador-Geral de Índios Isolados e Recém-Contato (Cgiirc- Funai), que esteve presente na ação.
 
Confira os cinco principais crimes identificados no sobrevoo:
 
1 - Fazendas consolidadas no interior da TI Piripkura com construções rurais, cercas, pastagens manejadas, estábulos, ramais de acesso e pistas de pouso.
 
2 - Ocupações rurais recentes, com intensa movimentação de caminhões e tratores, construção de açudes, cercas, transporte de gado, estábulos e eletrificação rural dentro da TI.
 
3 - Enorme área de 2.361 hectares desmatada recentemente, entre 2020 e 2021 e, ainda, evidências das queimadas e talhões com formação de pastagem.
 
4 - Ramais de transporte de gado e da madeira explorada ilegalmente encontram-se em bom estado de manutenção, o que evidencia o exercício de atividade econômica e/ou comercial frequente.
 
5 - Desmatamento recente, realizado entre os meses de julho a setembro de 2021, localizado a menos de 500 metros dos limites da TI e que já acumula 303,8 hectares.
 
Avanço da criminalidade
 
Até outubro de 2021, o sistema de monitoramento independente do Instituto Socioambiental (Sirad), registrou um desmatamento acumulado de 12.426 hectares, o que equivale a mais de sete milhões de árvores derrubadas dentro da Terra Indígena.
 
Somente nos últimos dois anos, o desmatamento destruiu 2.361,5 hectares de florestas nativas, computando um aumento vertiginoso de 27.000%. Neste desmatamento recente, entre julho a setembro deste ano, uma área que continha cerca de 1,3 milhões de árvores foi totalmente degradada por incêndios criminosos, ficando pronta para a implantação ilegal de pastagens.
 
"Os dados apontam que há expectativa e especulação dos invasores sobre o retrocesso da regulamentação e proteção da TI Piripkura. Com a negligência do Estado na fiscalização e proteção desta TI, os invasores acreditam que todo este crime ambiental será premiado com a posse definitiva da terra", afirma Antonio Oviedo, coordenador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do ISA.
 
Esses desmatamentos e queimadas estão localizados muito próximos a duas regiões de refúgio do grupo de indígenas isolados da TI, ou seja, a área desmatada corta o Igarapé das Panelas e está localizada a 2,5 quilômetros da cabeceira do Igarapé Duelo.
 
Outra estratégia utilizada pelos invasores para expandir suas propriedades ilegais dentro do território indígena, apontada pelo dossiê, é a escalada de inscrições irregulares do Cadastro Ambiental Rural (CAR). De acordo com o levantamento realizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) sobre o CAR e os Planos de Manejo Florestal na região da TI Piripkura, existem 15 fazendas em atividade sobrepostas à Terra Indígena Piripkura.
 
As fazendas estão operando à revelia da decisão do juiz federal da Vara Única de Juína, Frederico Pereira Martins, que determinou, em 18 de agosto, a manutenção do cordão de isolamento e a paralisação de atividades dentro da TI.
 
Retrocesso na proteção de isolados
 
O processo de demarcação da TI Piripkura se desenrola desde 1985, ano em que a Funai constituiu um Grupo Técnico para identificar o território. Os trabalhos, porém, não foram adiante. Para proteger a TI Piripkura, a Funai editou, desde 2008, sete Portarias de Restrição de Uso, que variavam de dois a três anos de duração, e serviam como impedimento para qualquer atividade de não-índios dentro do território.
 
Contudo, em agosto deste ano, às vésperas da expiração da última interdição, a Funai publicou uma nova Portaria de Restrição de Uso que previa a proteção do território por apenas seis meses, tempo insuficiente para se executar ações nesse sentido.
 
Dessa forma, o dossiê aponta que a medida necessária para conter os crimes ambientais e risco de genocídio dos Piripkura é do Estado, com a imediata retirada dos invasores.
 
"Precisa de uma ação firme, só a Funai não dá conta, dado a violência, o profissionalismo com que tem acontecido essa invasão. A Funai precisa atuar junto com o Ibama e a Polícia Federal, que tem poderes de polícia, força policial, para tirar aqueles invasores", diz Bigio.
 
Isolados ou Dizimados
 
O dossiê faz parte da campanha "#IsoladosOuDizimados", que alerta para o risco que quatro povos indígenas isolados de quatro terras indígenas no país correm caso o governo federal não tome providências legais para a proteção dos territórios.
 
Até janeiro de 2022, três Terras Indígenas com presença de povos isolados, Pirititi (RR), Jacareúba/Katawixi (AM) e Ituna/Itatá (PA), estarão desprotegidas, pois os dispositivos que garantem sua sobrevivência, as Portarias de Restrição de Uso, vão vencer. A TI Piripkura entra nessa condição em seguida, em março de 2022.
 
A campanha tem o objetivo de recolher assinaturas através de uma petição para pressionar a Funai a renovar as portarias e avançar com os processos de demarcação definitiva dos territórios.
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