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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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balanço da pandemia

Brasil mostrou que não é um país negacionista e projeções são boas para 2022, avalia infectologista

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

Brasil mostrou que não é um país negacionista e projeções são boas para 2022, avalia infectologista
No ano em que o país teve o maior pico de casos e óbitos por Covid-19 desde o início da pandemia, o avanço da campanha de imunização — atualmente com cobertura de 58% da população mato-grossense com duas doses e 71% com pelo menos a primeira — deu um recado: o Brasil em sua maioria não é negacionista. Isto é o que diz a infectologista e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Márcia Hueb, ao comentar a pandemia no ano de 2021. 


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Para a infectologista, o que fez com que o país assistisse à curva crescente e exponencial da pandemia foi, em grande parte, culpa do Governo Federal, que, inicialmente, refutou a eficácia das vacinas. O que, segundo ela, ocasionou o atraso nas negociações de compra dos imunizantes.

“Muitas mortes que ocorreram nos primeiros meses deste ano seriam evitadas se tivéssemos como vacinar a população. Após a chegada das vacinas, mostramos que sabemos vacinar, temos a tradição de um programa reconhecido mundialmente”, diz Márcia ao Olhar Direto.  

Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, considerado o maior sistema público de saúde do mundo, esteve em evidência ao desempenhar papel fundamental pelo alcance que tem em território nacional. “Com o SUS conseguimos avançar na vacinação. À medida que cresce a cobertura vacinal, diminuem os casos e principalmente as mortes”.

No Brasil, a campanha de imunização teve início no dia 17 de janeiro. Naquele dia, em meio aos ataques que vinham sendo feitos por negacionistas que questionavam a eficácia dos imunizantes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a enfermeira Mônica Calazans recebeu a sua primeira dose em São Paulo.

Em Mato Grosso, a marca foi alcançada no dia seguinte. Desta vez, a técnica de enfermagem do Hospital Metropolitano, Luiza Batista de Almeida, que se tornou a primeira pessoa em território mato-grossense a receber o imunizante.

Picos da pandemia

Contrastando com o cenário de expectativas de atenuação da pandemia, grande parte devido ao início da vacinação, naquelas mesmas semanas o país também assistia o crescimento da curva da pandemia em todos os estados do país, inclusive em Mato Grosso. 

A consequência foi resultado do aumento das aglomerações que se acumulavam desde as eleições municipais até as festas de final do ano de 2020. Nos meses seguintes, o cenário piorou com o surgimento de várias variantes, entre elas a Gama e a Delta. Associado a isso, somou-se ainda a ineficiência das medidas dos governantes. 

“Nós deveríamos estar com essas medidas ativadas quando do início da subida dos casos. Nesse momento em que as pessoas não encontram vaga quando precisam, as medidas de restrição precisam ser mais rígidas”, disse a pesquisadora em março, também em entrevista ao Olhar Direto. Naquela época, o governador Mauro Mendes (DEM) havia emitido um decreto que restringiu apenas parcialmente o horário do comércio, após o sistema de saúde de Mato Grosso ter colapsado.

Nesse cenário, com 59.448 casos, março ficou marcado como o pior mês da pandemia em Mato Grosso. O número de apenas um mês correspondia a mais de ⅓ do que havia sido registrado em todo o ano de 2020 (180.451). 

O recorde de óbitos, por sua vez, ficou para o mês de abril, quando foram registrados 2.103 mortes em decorrência da Covid-19 no estado. A marca equivalia a quase 50% do total de decessos de todo o ano de 2020 (4.520). 

Apenas a partir de julho e agosto, quando, respectivamente, Mato Grosso atingiu 44% e 57% de população vacinada com a primeira dose de um dos imunizantes contra a Covid-19, que a curva epidêmica do estado passou a registrar os menores patamares de óbitos e casos positivos para a doença.  

A queda coincide, razoavelmente, com o índice apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para frear a propagação do novo coronavírus (60% - 70%). Para a infectologista, o crescimento inversamente proporcional percebido entre a cobertura vacinal e a curva epidêmica desde agosto é uma resposta aos negacionistas.

“Quem considerou que as vacinas não eram confiáveis, os gráficos mostram que vacina é vida. Considerando o que temos de positivo pode-se considerar que mostramos ser uma sociedade que, em sua maioria, não é negacionista. Sabemos reconhecer que a ciência é o caminho para sair da situação de pandemia”, defende Márcia. 

Veja gráficos sobre o avanço da pandemia e cobertura vacinal em MT:
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Pandemia trouxe aprendizados e escancarou desigualdades

Ao mesmo tempo que impôs desafios, a pandemia, porém, também trouxe aprendizados para as autoridades no que diz respeito ao enfrentamento à pandemia. Conforme relata a infectologista, o saldo da pandemia pode ser positivo caso estes conhecimentos sejam aplicados ao nosso dia a dia. 

“Muito disso veio já iniciado com a epidemia do H1N1 e que se sedimentou com a Covid-19, no que se refere à necessidade do uso de boas máscaras para conter a disseminação de doenças virais respiratórias”, explica. 

Além disso, a empatia pela vida do outro é mais um aspecto que pôde ser observado. Um exemplo disso é, além do uso de máscaras, o respeito ao isolamento social, que é uma medida extrema, mas eficaz quando necessária.  

“Se tivermos aprendido que sempre que estivermos com sintomas respiratórios, devemos não sair ou sair com máscaras, estamos protegendo o outro e estamos também nos protegendo”, complementa.

Se por um lado a pandemia acelerou processos de enfrentamento epidemiológicos e fomentou o exercício da empatia, do outro também revelou um problema do qual o mundo todo padece: a desigualdade. O surgimento da Ômicron, variante descoberta na África do Sul e classificada como de preocupação pela OMS, evidencia isso. O país sulafricano, coincidentemente, vacinou com duas doses de vacina contra a Covid-19 apenas 26% da população até esta terça-feira (21). 

“A OMS tem alertado para a necessidade de prover de vacinas os países mais pobres, mas continuamos a fazer mais e mais doses nos países mais ricos. Enquanto não tivermos uma boa cobertura vacinal global, estaremos em risco e não teremos a pandemia sob controle”, alerta a pesquisadora ao expor o risco de surgimento de novas variantes de risco.  

Além da desigualdade no acesso às vacinas, a desigualdade social também é outro implicante. No Brasil, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número de pobres saltou de 9,5 milhões em agosto de 2020 para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021.

“Os que dispunham de mais recursos, puderam aguardar o pior passar e se recompuseram, alguns até com recursos acumulados. Os mais pobres ficaram sem opção e entraram em situação de extrema pobreza, no Brasil e no mundo”, enfatiza Márcia.

Projeção para próximo ano é boa 

Ao avaliar o comportamento da pandemia nos últimos meses, a infectologista acredita que a projeção para o próximo seja boa. Isto baseado na grande cobertura vacinal existente no país, no início da aplicação das doses de reforço e, ainda, no leve impacto que a variante Delta teve no Brasil, que atingiu fortemente a Europa e vários outros países. 

“Não temos estudos para saber porque estamos resistindo a essas novas ondas, mas temos boa evidência que a resposta vacinal esteja ainda presente, talvez somada a uma resposta protetora resultante de infecções e doença prévia em outra parte da população”, comenta. 
 
Ao mesmo tempo, ela é cautelosa e defende a necessidade de manutenção dos cuidados básicos para continuar controlando a pandemia: “Não existe uma garantia quanto a não termos novas ondas de infecção, mas estamos bem e precisamos persistir com todos os cuidados para sair de fato da condição de pandemia".
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