Ouvido pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na manhã desta terça-feira (18), o ex-secretário de Política Agrícola, Neri Geller, reforçou ter ficado magoado com o ministro da Agricultura (MAPA), Carlos Fávaro (PSD), pela forma com que foi exonerado do cargo, no dia 12 de junho. Apesar do sentimento, negou rumores de que iria adotar postura de ataque ao governo do presidente Lula (PT).
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Na semana passada, após suspeitas de fraude no leilão de compra de arroz importado, Fávaro havia solicitado que a secretaria-executiva do Mapa procedesse à exoneração de Neri “a pedido”. O ex-secretário, porém, argumentou que não solicitou o desligamento e pediu a retificação da portaria. De fato, a exoneração foi publicada no Diário Oficial da União sem a especificação.
“Fiquei chateado sim com o ministro da Agricultura, com a forma com que sai do governo. O ministro é ele, é legitimo da parte do governo me afastar, mas desde o primeiro momento que conversei com Fávaro disse como foi as coisas (...) eu não sai a pedido, não devia. Poderia ter me afastado para esclarecer todos os pontos, não seria justo e falei isso para membros do PT eu simplesmente sair e ficar disse me disse. No meu entendimento, não houve má-fé, mas um equívoco político na condução do leilão”, afirmou, em depoimento aos deputados da FPA.
“Não saio atirando no governo, não é meu perfil. Não sou injusto, nem faço politicagem. Vou esclarecer os fatos. Jamais poderia sair do ministério pela porta dos fundos, minha consciência não permitiria. Não caio atirando, caio colocando os fatos como efetivamente são”, acrescentou.
Negou acusações
A suspeita sobre o leilão do arroz começou a circular em Brasília quando o governo, após derrubar oito liminares de associações e produtores que tentavam barrar a compra, anunciou a aquisição de 263 mil toneladas.
Desse total, 116 mil toneladas — ao custo de cerca de R$ 580 milhões — foram comercializadas por corretoras ligadas a Robson França, presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT). Ele, por sua vez, foi assessor de Neri na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020 e tem, ainda, sociedade com o filho dele numa empresa — que Neri alegou estar inativa.
“Não tenho nenhuma vírgula a esconder e disse isso ao ministro Carlos Fávaro (...) recebi uma ligação por parte do Globo Rural, me questionando se meu filho tinha participado do leilão. Confesso que me assustei e fiquei preocupado. Liguei para o meu filho e ele disse que abriu uma corretora em agosto, antes de eu ser secretário, e que estava inativa no ponto de vista funcional, pois não abriu conta, nem fez operação. Garantiu que não tinha nada com isso, estava completamente fora”, explicou.
“Liguei para o Robson, que foi meu assessor até 2020, é advogado, prestou consultoria para o partido do PP, da qual eu era presidente. Também prestou consultoria em 2024, para deputados estaduais, registros de candidatura e prestação de contas. Robson disse que abriu uma corretora desde que meu filho declinou. Ano passado, ele participou de doze leilões e ganhou dois, antes de eu assumir a secretaria. Eu fui duro e disse o estrago que estava fazendo, ele me respondeu que eu não pagava mais o salário dele e que não era impedido de exercer sua atividade”, completou.
Neri ainda reforçou que a preocupação do governo federal sobre o risco de desabastecimento de arroz – por conta das enchentes no Rio Grande do Sul – foi legítima, já que também havia apontamentos de inflação puxada pelo arroz.
Ponderou que como secretário se posicionou contrário a realização do leilão para a importação de 300 mil toneladas de arroz, já que 87% da produção do RS já havia sido colhida e o restante estava em áreas não atingidas pelas enchentes.
Pontuou ainda que a decisão partiu da Casa Civil e que não acompanhou a produção do edital do leilão que foi suspenso após as suspeitas que resultaram em sua queda.