Os médicos que atuam na Atenção Básica de Cáceres (225 km de Cuiabá), através dos programas Mais Médicos para o Brasil e Médicos pelo Brasil, denunciam em uma carta publica na sexta-feira (31) uma série de dificuldades e irregularidades que, segundo eles, estão comprometendo o atendimento à população e prejudicando a categoria.
Leia também
Jayme prega cautela nas discussões sobre DAE e diz que privatização pode aumentar tarifa de água
Ao todo, são 22 médicos dos programas que atuam na cidade. Na carta, eles denunciam atraso na ajuda do custo, perseguição e falta de insumos e materiais para atender a população da cidade.
Auxílio atrasado
Os médicos relatam que o auxílio de ajuda de custo, no valor de R$ 3.500, pago desde 2016, está em atraso desde dezembro de 2024, e que o valor atual é insuficiente para suprir as necessidades de moradia e alimentação, devido ao aumento dos preços de aluguel, alimentos e outros itens essenciais.
Segundo o documento, o atual secretário de saúde, Claudio Henrique Donatoni, determinou que não fosse pago a ajuda de custo alegando não saber a qual documento atender, se a Lei Municipal ou a Portaria.
“Nos primeiros meses de 2024 houve uma tentativa de diminuir o valor, o que não se concretizou, porém foi mudada a data do pagamento para final do mês, o que não faz sentido, em se tratando de recurso para morar e se alimentar, segundo a portaria, o médico e os seus familiares”, diz a carta.
“A defasagem vem à tona devido ao aumento nos valores de aluguel e dos outros itens necessários à moradia, e que devem ser contemplados, como energia, água, internet etc. Isso, atrelado ao aumento dos preços dos alimentos, faz com que esse valor que estava sendo pago, seja aos dias de hoje, insuficiente para garantir esses direitos fundamentais do profissional e seu núcleo familiar”, completa.
Avaliação de desempenho prejudicial
A categoria denuncia que a avaliação de desempenho, elaborada pela gestão e encaminhada ao Ministério da Saúde, contém alegações não verdadeiras sobre o trabalho dos médicos.
Nesta primeira edição da avaliação, ela tem apenas caráter formativo, com a intenção de identificar os pontos fortes e as oportunidades de melhoria na atuação de cada um dos profissionais e, num processo de reflexão crítica e autocrítica, auxiliar o médico ou médica a superar essas dificuldades, para garantir um atendimento de qualidade, narra a carta.
No entanto, o documento diz que dessa vez a secretaria se valeu de "argumentos mentirosos" com o intuito de atribuir uma avaliação ruim aos profissionais e “difamá-los”.
“Acontece que, nessa avaliação, a atual coordenação da atenção básica do município se valeu de argumentos mentirosos, que não tem como provar, para dar uma avaliação ruim, em alguns casos desrespeitosa, sem levar adiante o processo como deveria ter sido realizado”.
“As alegações da coordenação, configuram-se ao nosso ver como ato de difamação, perseguição moral, coação, e representa um precedente negativo para os profissionais que receberam uma nota que não mereciam e que não condiz com a realidade do trabalho
destes nem com a opinião que a população tem do trabalho deles”, pontua.
Perseguição
Os médicos relatam estar sofrendo perseguição por parte da gestão municipal, inclusive da própria coordenadora que, segundo o documento, 'não tem o conhecimento suficiente nem a experiência necessária' para estar neste cargo.
“Diante da nossa resistência às orientações da coordenação, que não fazem sentido e que desvirtuam o verdadeiro objetivo da atenção básica, somos ameaçados, vigiados, enfim, perseguidos. Não existe por parte dessa coordenação uma intenção de se comunicar adequadamente conosco, nem de favorecer a melhoria no atendimento. Apenas exige que atendamos uma quantidade x de pacientes, apenas com o intuito de preencher uma estatística”, diz.
Ainda conforme os médicos, faltam materiais, insumos e medicamentos para atender à população. Os profissionais relataram que têm usado seus próprios recursos para suprir as necessidades do município e da gestão da saúde, como transportar pacientes em seus veículos, comprar materiais de escritório e outros.
“É por isso a nossa indignação diante dessa redução do auxílio moradia e alimentação, que já se configura insuficiente, pela alça nos preços de quase todos os itens necessários a uma vida digna dos profissionais que se dedicam ao cuidado da saúde e do bem-estar dos munícipes”, disparam os médicos.
A carta foi encaminhado à prefeita Eliene Liberatto (PSB), ao presidente da Câmara Municipal, Flávio Negação (MDB), e demais vereadores de Cáceres.