A operação Poço Sem Fundo, deflagrada na manhã desta quinta-feira (8) pela Polícia Civil, tem entre os alvos o ex-deputado estadual e atual diretor da Metamat, Wagner Ramos; o diretor-técnico da companhia, Francisco Holanildo Silva Lima; o ex-presidente da Metamat, Juliano Jorge Boraczynski, e a geóloga Gleice dos Santos Reis. Juliano é irmão do ex-deputado Romualdo Júnior, falecido em março deste ano.
Leia mais
Poços artesianos foram construídos em garimpos e dentro de granja, aponta investigação
Coordenada pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), a operação cumpre 226 ordens judiciais contra 24 pessoas físicas e seis empresas investigadas por participação em um esquema milionário de fraude na perfuração de poços artesianos entre 2020 e 2023. Dentre os investigados, 16 são servidores ou ex-servidores públicos.
A Metamat está em processo de extinção desde o ano passado por decisão do Governo do Estado. Juliano Jorge foi demitido do cargo de presidente da Metamat em novembro de 2023 e atualmente ocupa um cargo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). A Casa de Leis foi procurada, mas não havia se manifestado até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
Wagner Ramos foi eleito deputado estadual entre os anos de 2006 e 2010. Além disso, atuou como repórter em Mato Grosso.
Francisco Holanildo Silva, por sua vez, é ex-superintendente regional da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) de Mato Grosso.
Gleice atuou na Companhia entre os anos de 2020 e 2023. Em 2025, ela assumiu uma função na recém-criada secretaria-adjunta de Mineração, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sedec). Ela foi aprovada em 1º lugar em seletivo realizada pela Pasta. Com a ordem judicial, a servidora foi afastada da função pública e está proibida de frequentar os prédios das duas secretarias.
A investigação teve início após auditoria da Controladoria Geral do Estado (CGE), que apontou prejuízo de ao menos R$ 22 milhões aos cofres públicos. Segundo a Polícia Civil, os contratos investigados envolviam obras de perfuração de poços que sequer foram encontrados nos locais indicados ou estavam em propriedades privadas, como garimpos, granjas e áreas de pastagem.
As ordens judiciais incluem mandados de busca e apreensão, sequestro de 49 imóveis e 79 bens móveis, além do bloqueio de valores nas contas dos envolvidos em Cuiabá, Várzea Grande e Tangará da Serra.. Também foram determinadas medidas cautelares, como o afastamento de funções públicas e proibição de contato entre os investigados.
Das ordens judiciais
Das medidas judiciais decretadas, a principal é a determinação de suspensão de pagamentos pelo Estado de Mato Grosso às empresas investigadas, que também estão proibidas de contratar com o Poder Público Estadual.
Estão sendo cumpridos mandados de quebra do sigilo dos dados dos dispositivos eletrônicos vinculados aos investigados. A Justiça determinou, ainda, o afastamento da função pública de servidores da Metamat.
Também foram determinadas medidas cautelares diversas da prisão contra os investigados, que estão proibidos de manterem contato entre si e de acessarem todos os prédios e dependências da Metamat e da Sedec. Eles também terão os passaportes recolhidos.
A pedido da Polícia Civil, o judiciário proibiu o Poder Público Estadual de nomear e/ou contratar os investigados para exercer cargos na administração pública estadual.
O esquema criminoso
As investigações resultaram na identificação de uma associação criminosa instalada na Metamat com o propósito de desviar valores em contratos firmados pela estatal entre 2020 e 2023, cujo objetivo seria promover o abastecimento de água em comunidades rurais do Estado de Mato Grosso.
As empresas deveriam construir poços artesianos e garantir distribuição da água para os moradores próximos.
Contudo, as auditorias realizadas pela Controladoria Geral do Estado apontaram inúmeras irregularidades, como poços que não foram encontrados nos locais indicados ou poços que foram perfurados sem condições de armazenamento da água, e até mesmo casos em que os próprios moradores das comunidades rurais improvisavam modo rudimentar para acessar a água do poço.
Foram identificados poços que teriam sido construídos dentro de propriedades particulares, áreas de pastagens e plantações, garimpos e até dentro de uma granja, além de outros em áreas urbanas, em completo desvio ao objetivo de atender comunidades rurais.
Nas auditorias, a Controladoria Geral do Estado identificou que houve diversas falhas durante a execução das obras e fiscalização, que resultaram no pagamento pela perfuração de poços secos ou improdutivos.
Os prejuízos e o sequestro de bens dos investigados
De acordo com os apontamentos da Controladoria, as inexecuções parciais dos contratos, pagamentos indevidos e transgressões nos termos das contratações resultaram em prejuízo de pelo menos R$ 22 milhões aos cofres públicos.
O Poder Judiciário determinou outras auditorias para identificar o prejuízo causado em cada contrato e se houve direcionamento das contratações.