Kalache afirma que envelhecer na favela e no alto Leblon são experiências incomparáveis no Brasil :: Notícias de MT | Olhar Direto

Olhar Direto

Sábado, 19 de julho de 2025

Notícias | PodOlhar

NO PODOLHAR

Kalache afirma que envelhecer na favela e no alto Leblon são experiências incomparáveis no Brasil


O médico epidemiologista e gerontólogo Alexandre Kalache afirmou que o envelhecimento no Brasil é marcado por profundas desigualdades sociais, e que viver essa etapa da vida em uma favela ou em bairros como o alto Leblon, no Rio de Janeiro, são experiências que não se comparam. A declaração foi feita durante entrevista ao PodOlhar, disponível no YouTube.

“Envelhecer é bom. Morrer cedo é que não presta”, disse Kalache, ao destacar que o Brasil está transformando uma conquista social — o aumento da longevidade — em um grande problema de saúde pública e exclusão social. “Os países desenvolvidos enriqueceram antes de envelhecer. Nós estamos envelhecendo em pobreza, senão em miséria.”

Kalache observou que, mesmo diante das adversidades, a população brasileira continua envelhecendo. No entanto, segundo ele, isso ocorre “com mazelas, ziqueziras e perrengues” que não são enfrentados por idosos de classes mais altas. “Um sueco ou um morador do alto Leblon ou da Avenida Paulista não vai enfrentar as mesmas condições até os 90 anos. A pandemia deixou isso evidente, com as mortes precoces nas periferias.”

Para o especialista, o Brasil caminha para um cenário desafiador. Em 2050, um terço da população terá mais de 60 anos, mas, segundo ele, a sociedade e os governos ainda não se deram conta da urgência desse tema. “Não estou falando de um governo específico. É um problema estrutural. O envelhecimento não é prioridade.”

Kalache apontou ainda que a falta de acesso a alimentação adequada, atividade física, moradia digna e tempo livre para o autocuidado são determinantes para o envelhecimento precoce e adoecido. “Aquela hipertensão que começa aos 30... Não comeu brócolis, não fez atividade física. Mas não é porque não quis. É porque não pôde. Como comprar brócolis na primeira semana do mês, se na última vai faltar açúcar e farinha?”

O gerontólogo também criticou iniciativas classificadas como populistas e defendeu a aplicação efetiva do protocolo “Cidade Amiga do Idoso”, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Está lá há quase 20 anos, com tudo definido. Mas o que se vê é prefeitos tirando foto com ministros e vendendo promessas. Isso custa dinheiro público. O que precisa é de um protocolo sério, intersetorial, com envolvimento da saúde, educação, transporte, cultura, esporte. Isso não pode ficar num departamento secundário.”

Kalache concluiu que políticas públicas para o envelhecimento devem ter como base a cidadania plena da pessoa idosa. “Não se trata apenas de infraestrutura urbana, calçada e ônibus. É garantir o direito ao trabalho, ao descanso, à inclusão social e ao aprendizado ao longo da vida. Se a cidade for boa para o idoso, será boa para todos.”
Entre no nosso canal do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui
 

Comentários no Facebook

Sitevip Internet