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Domingo, 29 de setembro de 2024

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Indústria de fertilizantes busca profissionalização

Foto: Reprodução

Indústria de fertilizantes busca profissionalização
A época do simples vendedor de adubos acabou. As empresas do setor de fertilizantes estão procurando profissionais mais lapidados, com formação em agronomia, engenharia florestal e medicina veterinária, que possam trabalhar como consultores de negócios dos produtores rurais - cada vez mais avançados em técnicas de cultivo.


Quem garante é Eduardo Daher, diretor da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), entidade que existe há mais de 40 anos e reúne 122 empresas como Bunge, Heringer e Mosaic. Além da busca de candidatos mais preparados, o mercado de fertilizantes passa por um movimento de ebulição, com fusões e a criação de novas empresas, o que deve aumentar ainda mais a necessidade de pessoal especializado.

A movimentação no mercado de fertilizantes começou no final do ano passado, quando o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, declarou que o governo iria financiar a Petrobras, Vale e outras empresas para estimular a produção de fertilizantes no país.

O governo também estuda a criação de uma empresa pública de capital fechado voltada para a produção e venda de fertilizantes minerais e orgânicos, que começaria a operar em 2011. Já no início de 2010, a Vale anunciou a compra da Bunge Fertilizantes, com um quadro de mais de 3 mil funcionários e 250 agrônomos, por US$ 3,8 bilhões.

"É preciso correr para atender à demanda do setor agrícola", diz Daher. "O Brasil é o quinto maior mercado de fertilizantes do mundo, mas enquanto a importação destes produtos aumentou 270% entre 1993 e 2009, a produção de matéria-prima para fertilizantes subiu apenas 53% no mesmo período".

Em 2008, o setor faturou R$ 25,1 bilhões e, devido à crise, chegou aos R$ 19,1 bilhões em 2009. A estimativa do mercado é conseguir um crescimento nos negócios de 4,2% em 2010.

Para atingir essa meta, será preciso investir em expansão industrial e em uma maior captação de recursos humanos. "As empresas precisam de engenheiros agrônomos e florestais, veterinários e técnicos agrícolas", avisa.

Segundo Godofredo César Vitti, professor titular do departamento de ciência do solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), dos 180 engenheiros agrônomos que a instituição forma por ano, cerca de 25% deles optam pelo trabalho no mercado de fertilizantes. "Eles querem atuar com pesquisa de novos produtos em grandes empresas ou nas lavouras, assessorando produtores rurais."

Para Daher, o número de vagas abertas no setor será ainda maior a partir de 2011, época em que os processos de fusões de empresas estarão estabelecidos e a criação de unidades industriais começará a sair do papel. "Pelo menos três companhias estrangeiras do setor de hortifruticultura chegarão ao Brasil este ano", adianta Raquel Kussama, consultora especializada em agronegócio.

"Hoje, estou a procura de dez engenheiros agrônomos e biólogos para trabalhar em empresas de médio e grande porte no Nordeste, Mato Grosso e interior de São Paulo", diz. "Mas falta qualificação técnica."

Para Jeffrey Abrahams, sócio da Abrahams Executive Search, consultoria de recrutamento que tem 60% dos clientes na área do agrobusiness, as empresas devem garimpar, este ano, profissionais das áreas de vendas e marketing, especializados em precificação, posicionamento de marca e segmentação de mercado. O consultor acredita que a maior parte da demanda virá de empresas do Centro-Oeste interessadas em pessoal para a área de vendas.

Procuradas pelo Valor, companhias como Vale, Bunge, Mosaic e Heringer preferiram não falar sobre futuras contratações. No final de 2009, a indústria de fertilizantes Agroplanta, dona de uma linha de mais de 250 produtos, abriu seis vagas para engenheiro agrônomo especializado em fertilizantes.

Além de ensino superior completo em engenharia agronômica, o grupo exige conhecimento em fertilizantes de solo e sistemas de gestão. O profissional também deve elaborar projetos estratégicos sobre políticas agrárias, comercialização e marketing, além de promover palestras e visitar propriedades.

Com cerca de 200 funcionários, a Agroplanta tem três unidades industriais em Batatais. "25% do quadro têm nível superior e 20% do total ocupam cargos de gerência ou superior", afirma João Paulo Junqueira, gestor de RH da empresa. No ano passado, a companhia contratou 70 colaboradores - três foram para cargos de liderança e vieram de São Paulo e Minas Gerais. Em 2010, a meta é admitir cerca de 80 funcionários para a linha de produção, vendas e área administrativa.

"O comercial precisa de profissionais com conhecimento dos produtos da empresa e dos canais de distribuição, além de domínio técnico em agropecuária" Hoje, a Agroplanta procura candidatos para gerenciar o departamento industrial e a divisão de vendas.

Para Abrahams, o especialista em fertilizantes deve apresentar disposição para viagens e espírito de competição. "É importante mostrar facilidade de adaptação às pequenas cidades e foco em resultados."

Residente em Piracicaba (SP), o engenheiro agrônomo André Luis Alfonsi, de 25 anos, da Fertipar Bandeirantes, chega a viajar até cinco mil quilômetros por mês para visitar clientes. Formado em 2007, Alfonsi entrou na empresa como estagiário e hoje é assessor agronômico. Trabalha com desenvolvimento de novos produtos junto a clientes e treina equipes de vendas em todo o Estado de São Paulo. "É fundamental ter facilidade de comunicação, pois interagimos com públicos diferentes, dos produtores rurais aos vendedores de fertilizantes", diz.

Segundo Eduardo Daher, da Anda, os principais polos de atração de profissionais no Brasil são Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Nesses mercados, com a predominância de culturas de soja, milho e cana de açúcar, o consumo de fertilizantes é alto e o especialista é ainda mais valorizado. "As empresas querem um profissional sofisticado, que atue como um consultor e indique o produto mais adequado."

Para o engenheiro agrônomo José Mamprin Neto, com 35 anos de experiência no mercado, o ideal é que o profissional passe por toda a cadeia do setor para garantir uma formação completa: desenvolvimento de produtos, vendas e assistência técnica. Graduado em 1974, Mamprin trabalhou em quatro cidades de São Paulo. Foi vendedor por 12 anos, prestou assistência pós-venda por 18 anos e atuou com pesquisa durante cinco anos. Hoje, trabalha como assessor de agronomia para a diretoria da Fosfértil. Cuida do relacionamento da empresa com o Ministério da Agricultura e com clientes da indústria.

"É preciso estar atualizado sobre os produtos e as novas formas de aplicação", diz. "O sistema de plantio direto, em que um mesmo terreno é usado para explorar mais de duas culturas no mesmo ano, trouxe técnicas de adubação mais dinâmicas, que exigem uma atenção especial dos agrônomos."

Segundo Raquel Kussama, é difícil recrutar profissionais com inglês fluente para vagas em multinacionais do setor. Para colocações nas áreas administrativa e técnica, a consultora aconselha os candidatos a fazerem uma pós-graduação em gestão de negócios e em desenvolvimento de produtos. "Na área comercial, é necessário ter perfil agressivo nos segmentos de revenda e distribuição."

Estudante da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo, Thiago de Moura, 26 anos, já está trilhando o caminho da especialização. Obteve o diploma de graduação em 2007, fez uma especialização em tecnologia de produção de fertilizantes e hoje cursa mestrado na área de solos e nutrição de plantas. Recebe até três ligações por mês de empresas com ofertas de trabalho, principalmente para o setor de vendas.

"Pretendo começar a trabalhar ainda este ano, na área técnica e com treinamento de pessoal no campo", diz. "Os produtores rurais evoluíram muito tecnicamente e querem profissionais cada vez mais capacitados."
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