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Terça-feira, 23 de abril de 2024

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Assessor dos povos indígenas no Acre contesta canibalismo no Amazonas

O assessor especial dos povos indígenas do Acre, Francisco Pianko, divulgou nota contestando a prática de canibalismo na tribo kulina, no Amazonas. A polícia de Envira (AM) investiga a participação de pelo menos seis índios na morte do deficiente intelectual Océlio Alves de Carvalho, 21 anos.



O crime ocorreu entre 1º de fevereiro, quando a vítima desapareceu, e o dia 2 deste mês, quando um índio da mesma aldeia teria feito a denúncia do caso às autoridades. Há suspeitas de que os índios tivessem ingerido partes do corpo da vítima. 

Em nota, Pianko disse que não há comprovações de canibalismo nas aldeias dos kulinas e teme que a repercussão do caso provoque preconceito contra os índios da região.

No documento, o assessor dos povos indígenas diz que tomou conhecimento do caso em 7 de fevereiro. Ele afirmou ainda que "as investigações sobre o suposto assassinato estão a cargo, por ora, da delegacia de Polícia Militar em Envira e poderão envolver representantes da administração da FUNAI em Manaus e em Eirunepé e da Polícia Federal".

O assessor disse ainda que não tem qualquer registro, na mitologia do povo Madijá (como os kulina se auto-denominam), na sua história recente ou em relatos de viajantes, missionários e antropólogos, a respeito de práticas de canibalismo ou mesmo da consumação ritual dos corpos dos parentes mortos.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) também informou que descarta a prática de canibalismo entre povos indígenas no Brasil contemporâneo. Em nota, informou que a única informação a respeito deste costume data do período colonial.

Investigação
O sargento José Carlos Correia da Silva, da Polícia Militar, e que também responde pela delegacia da cidade, disse que ouviu, em depoimento, um dos índios que teriam participado do crime. Este indígena teria dito, preliminarmente, que a morte do rapaz teria sido uma vingança, motivada pela morte de um índio há cerca de um ano.

Neste caso, o laudo da morte do indígena teria atestado que houve afogamento, mas os integrantes da tribo não teriam acreditado na versão do documento.

Suspeita de canibalismo
Um inquérito policial foi instaurado para apurar o caso, mas Correia da Silva informou que enfrenta dificuldades por conta da legislação que impede as polícias Civil e Militar de fazer investigações em tribos indígenas. "Essa legislação limita o nosso trabalho. Chegamos a ouvir um dos suspeitos, mas a Funai nos obrigou a liberá-lo. Também não podemos entrar na aldeia para procurar pelos suspeitos, que estão foragidos", disse.

De acordo com Maronilton da Silva Clementino, chefe de gabinete da Prefeitura de Envira, o alcoolismo pode ser um dos fatores que provocou o crime. "Há um índice muito grande de alcoolismo entre os índios da região. A Funai é ausente e não ajuda neste sentido. O representante da fundação só chegou aqui 72 horas depois de ser avisado sobre o homicídio e até agora não se posicionou sobre o caso."

Brutalidade
Segundo o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) de Envira, a morte foi provocada pela quantidade de facadas no corpo da vítima, que tinha cerca de 60 marcas, seguida de esquartejamento. "Os órgãos foram assados em uma espécie de ritual na aldeia. Não foram encontrados o coração, cérebro, fígado e outros pedaços do corpo", disse o sargento, responsável pela apuração do caso.

Ainda de acordo com ele, os índios suspeitos foram identificados apenas pelos nomes civis que usam no convívio social. "São índios civilizados. Não sabemos os nomes indígenas, apenas como são chamados na cidade", disse o sargento.

Drogas
O consumo de crack entre os índios da tribo kulina, associado ao elevado uso de bebidas alcoólicas, pode ter sido a causa do canibalismo ocorrido na cidade de Envira (AM). Essa é a opinião da indigenista Rosa Maria Monteiro, 59 anos, que conviveu por cerca de 15 anos na aldeia onde vivem pelo menos seis índios suspeitos do crime. Ela deixou a região há quatro anos.

"A brutalidade desse caso é assustadora. Isso nunca foi registrado em aldeias de índios kulinas. Se for confirmado o canibalismo, só mesmo o álcool aliado a alguma droga, como o crack, que poderia provocar uma violência como essa", disse a indigenista Rosa, integrante da Organização Não-Governamental (ONG) Operação Amazônia Nativa (Opan).

Maconha e crack
Ela disse ao G1 que presenciou a entrada gradativa de drogas na aldeia kulina, em Envira. "Nos anos de 1990, o álcool já era consumido em escala crescente. Na mesma época, vi a maconha ser introduzida na comunidade, mas consegui conscientizar os índios que aquilo era muito prejudicial. Eles chegaram a plantar maconha nas terras indígenas, mas desistiram do cultivo quando expliquei os riscos de a Polícia Federal prender todos por tráfico", afirmou Rosa.

A indigenista explicou que o crack começou a surgir na aldeia no início dos anos 2000. "Trabalhei muito para conseguir fazer com que os kulinas deixassem de usar o crack. Inicialmente, acredito que eles tenham associado o crack à semelhança da pedra com a resina usada pelos pajés nos rituais de cura. Depois foi o vício mesmo", disse Rosa.

Outro fator que faz parte da cultura dos kulinas é o uso do rapé. "Se bem feito, como costuma ser o rapé indígena, eles sentem uma lombra (efeito provocado pela droga) poderosa. Isso e mais outras drogas e bebidas pode gerar uma reação violenta", afirmou a indigenista.

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