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“Colocar medo é a cara do fascismo”, diz cuiabano exposto em dossiê atribuído a deputado bolsonarista

Da Redação - Fabiana Mendes

Começou a circular nesta semana um dossiê atribuído ao deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), com nome, endereço, documentos pessoais e fotos de cidadãos que se opõem ao governo do presidente Jair Bolsonaro e se intitulam antifascistas. Quatro moradores de Mato Grosso tiveram suas identidades expostas, entre eles um cuiabano. “Colocar medo é a cara do fascismo”, criticou o jovem em entrevista ao Olhar Direto.

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O rapaz, que prefere ter sua identidade preservada, conta que ficou surpreso quando viu que seu nome constava da relação. “Estavam falando desta lista no Facebook, até brinquei com uma amiga perguntando se eu estava. Quando tive acesso, antes de ver meu nome, já tinha reconhecido algumas pessoas de redes sociais, que possuem estabelecimentos de comida vegana”, relata o jovem, que atua em defesa da causa animal.

“Eu fiquei surpreso, pois apesar de ter essas ideias antifascistas, de me considerar anarquista, não sou tão praticante da militância, até porque Cuiabá não acontece isso [manifestações] com frequência. Não faço parte de nenhum coletivo”, conta o jovem, que acredita ter sido ‘rastreado’ por conta dos filtros antifascistas disponíveis no Facebook. 

O militante conta que desde os 16 anos tem ideologias anarquistas, o que teve influência na sua alimentação. “Tem muita gente que acha que é por dieta, para emagrecer ou ficar com o corpo bonito. Quando aderi, não foi por conta disso, foi por ser contra a exploração animal”, conta ele que atualmente é vegano. 

O jovem também diz ter visto uma lista parecida circulando em 2018, mas na época, haviam menos nomes. Talvez não me prejudique tanto, pois tive fotos e links das redes sociais expostos, mas penso nas pessoas que tiveram RG, CPF, local de trabalho, endereço. Isso é muito perigoso”, alerta.

“A gente está incomodando. O fascismo é isso, oprimir, censurar, colocar medo. Tem muitas pessoas que tiveram seus dados divulgados, que estão com medo, que estão se sentindo intimidados. Colocar medo é a cara do fascismo”.

Ele também cobra punição. “Isso que foi divulgado tem que ser combatido. Apesar de tudo, tirando a questão de ideologia, isso é crime, é divulgação de dados pessoais. Espero que quem fez isso, seja punido, e a luta antifascista vai continuar. As pessoas que estão acanhadas não devem se intimidar, vamos continuar essa luta, seja por rede social ou militância pela cidade”.

Depois da exposição, o cuiabano conta que várias pessoas, que até então ele não conhecia, vieram lhe alertar, pedir para ter cuidado com o vazamento das informações. Ele também lembra que Mato Grosso possui célula nazista e suspeita que os membros possam ter envolvimento da coleta de dados. Uma pesquisadora identificou ao menos 334 células em todo Brasil, sendo uma em Rondonópolis (a 216 km de Cuiabá). 

Acusado de ter envolvimento com o vazamento de informações, o parlamentar Douglas disse em seu Twitter que não tornou público os documentos, mas afirma que não se trata de um dossiê contra opositores do Governo, mas sim de auxílio às investigações de crimes. Ele ainda se intitula "vítima".

No último final de semana, manifestações contra o fascismo e racismo aconteceram em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras capitais. Os “antifas” lutam contra autoritarismo e a segregação de grupos marginalizados pela sociedade. 

Dias depois, o presidente seguiu os passos de Donald Trump e chamou os manifestantes de terroristas. "Começou aqui com os antifas em campo. O motivo, no meu entender, político, diferente [dos protestos dos EUA]. São marginais, no meu entender, terroristas. Têm ameaçado, domingo, fazer movimentos pelo Brasil, em especial, aqui no DF”, disse Bolsonaro. 
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