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“É uma verdadeira tortura para quem está do lado de fora”, diz neta de idoso morto com Covid-19

Da Redação - Fabiana Mendes

A neta de Benedito Asclepíades Moreno, de 98 anos, capitão da reserva do Exército, que morreu no último dia 26, vítima do coronavírus, em Cuiabá, fez um relato sobre a experiencia que a família viveu com a internação em um hospital particular, cujo nome não foi informado. No desabafo, ela conta sobre a dificuldade de obter informações sobre o estado de saúde do idoso. “É uma verdadeira tortura para quem está do lado de fora”, afirmou.

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Ana Paula Preza Moreno conta que Benedito era um homem íntegro e honrado, lúcido apesar da idade avançada, que amava viver, mas foi infectado pelo coronavírus. Embora tenha iniciado o tratamento rapidamente, com toda assistência médica, ele teve uma piora no seu quadro de saúde, após oito dias e precisou ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

“A partir daí começa nosso drama familiar, pois não tínhamos mais acesso a ele e nem às informações sobre o tratamento intensivo, mesmo a equipe hospitalar nos assegurando que teríamos notícias do meu avô duas vezes ao dia, o que jamais ocorreu”, detalha.

Com isso, a família passou a buscar informações com amigos e conhecidos colegas de trabalho. Somente no quinto dia de internação e diante de muita conversa com a administração do hospital, foi possível receber uma notícia. No entanto, se tratava de um texto pronto.

“‘Estável e sem alterações do quadro clinico’. Quando na verdade as informações obtidas através de amigos eram que a equipe médica estaria diminuindo o oxigênio mecânico, com pressão arterial satisfatória e que apesar da gravidade, meu avô respondia muito bem ao tratamento”, acrescenta Ana Paula.
 
Ana Paula faz um apelo para que para que a direção da unidade se sensibilize com as famílias de pacientes internados. “Pois não ter uma informação oficial e plausível sobre a evolução da doença, é uma verdadeira tortura para quem está do lado de fora”, afirma.

“Tenho a consciência de que a rotina hospitalar neste período de pandemia é muito complexa e desgastante para os profissionais da saúde, mas acredito que o respeito à informação e às famílias dos pacientes deva fazer parte dessa rotina de uma forma mais humanizada. É um direito das famílias!”, assevera.

Benedito Asclepíades faleceu no Dia dos Avós, por volta das 14h. “Podem imaginar o choque que levamos com essa notícia intempestiva? O pior de tudo é que no sábado ele submeteu-se à hemodiálise com o agravamento do seu quadro clínico, o que não fora informado à família. Se recebêssemos essa informação no sábado, estaríamos cientes de sua piora e poderíamos prepararmo-nos para esta que seria uma das piores notícias que poderíamos receber em nossas vidas”, diz.

“Na terça-feira (29), um dia após o sepultamento do meu avô, em meio à dor pela perda irreparável, recebemos uma ligação do mesmo hospital que dizia: ‘Informamos à família que o paciente Sr. Benedito Moreno continua estável e sem alterações no quadro clinico’. Que absurdo! Onde está a humanidade? Onde está o respeito? Onde está a consideração?”, questiona a neta.

Ela acredita que outras famílias tenham vivenciado o mesmo drama. “Clamo aos gestores hospitalares que se atentem aos terríveis impactos sofridos pelas famílias dos pacientes internados com Covid -19, pela falta de atenção, de respeito e de informação durante a internação para o tratamento dessa terrível doença. Tenho certeza que este tipo de experiência não foi só a minha família quem vivenciou, pois muitas famílias estão vivendo o mesmo drama. Graças a Deus e aos cuidados hospitalares pessoas são curadas e voltam para as suas famílias, mas muitas não voltam. As famílias dos pacientes merecem ser tratadas com mais respeito!”, finaliza.
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