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Contra vereador, ex-prefeito e única mulher negra, Emanuel tenta manter ‘tradição’ de reeleição em Cuiabá

Da Redação - Isabela Mercuri

Desde Dante de Oliveira, todos os prefeitos que tentaram, foram reeleitos em Cuiabá. A exceção dos dois mandatos consecutivos veio em 2016, quando o então prefeito (e agora governador) Mauro Mendes (DEM) desistiu de concorrer no pleito municipal por questões familiares. Sua saída deixou a disputa nas mãos do ex-prefeito Wilson Santos (PSDB) e do então deputado estadual Emanuel Pinheiro (MDB). Emanuel ganhou com 60,41% dos voto no segundo turno. Pouco tempo depois, delação premiada do ex-governador Silval Barbosa – amplamente noticiada em todo o país – foi o prelúdio de que ele teria uma difícil caminhada na tentativa de manter a tradição da reeleição na capital. Agora, tentam quebrar o tabua personagens com históricos muito diferentes.

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Os que têm mais chances, de acordo com todos os institutos de pesquisa, são um vereador em primeiro mandato, que ajudou a eleger Emanuel, mas depois rompeu com ele e usou a rivalidade criada como trampolim político nas redes sociais; um ex-prefeito septuagenário, radialista e apresentador de um dos programas de TV mais populares da capital; e uma advogada e servidora pública, a única mulher e única negra a disputar o Palácio Alencastro. Junto a eles, outros quatro entraram na briga.

Emanuel após ser eleito em 2016 (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Emanuel Pinheiro mais do que o homem que ficou famoso pelas imagens do Jornal Nacional. Seu pai, Emanuel Pinheiro da Silva Primo, foi deputado estadual e deputado federal e morreu aos 44 anos, assassinado. O filho entrou cedo na vida pública, começou como vereador de Cuiabá em 1988, aos 23 anos, e foi reeleito em 1992. Dois anos depois, elegeu-se deputado estadual, e foi reeleito em 1998. Em 2000, disputou pela primeira vez a Prefeitura de Cuiabá, mas perdeu. Em 2005, assumiu a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes Urbanos na gestão de Wilson Santos. Voltou à Assembleia Legislativa como deputado em 2010, e em 2014 foi reeleito, apoiado pelo então prefeito de Cuiabá Mauro Mendes, na época do PSB.
 
Sua exposição cresceu durante a greve dos servidores pela Revisão Geral Anual (RGA), quando ficou ao lado dos funcionários públicos, quando o estado estava sob a gestão do então governador Pedro Taques. Antes de ser candidato, Emanuel ainda precisou vencer internamente no MDB o ex-deputado federal Valternir Pereira, que ambicionava o cargo. Já durante o pleito foi alvo de acusações novas e outras antiga, assim como as que foram exaustivamente repetidas nesta campanha curta de 2020.
 
Após eleito, Emanuel rompeu com seu vice, Niuan Ribeiro (PODE). O prefeito é hoje lembrado por muitos eleitores como realizador de diversas obras pela cidade, sendo a maior delas o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), que foi iniciado ainda na gestão de Mauro na Prefeitura, mas entregue por Emanuel já com o novo Pronto Socorro em seu interior. Foi também o prefeito que teve que encarar a 'bomba' da pandemia do novo coronavírus. Na disputa pela reeleição, ele escolheu seu ex-secretário de Serviços Urbanas, José Roberto Stopa (PV), como  vice. O atual prefeito é, também, o que tem mais partidos em sua coligação: MDB, PMB, PTC, Solidariedade, PV, PL, Republicanos, PSDB, PTB, PP e PCdoB.
 
Um dos que mais ganharam repercussão com as críticas ao atual prefeito foi o vereador Abilio Brunini, do Podemos. Quando se elegeu em 2016, no entanto, ele era do PSC, partido da base aliada de Emanuel. O rompimento veio no meio do ano de 2017, quando o vereador retirou cargos e indicações da Prefeitura. Nos anos seguintes, protagonizou cenas cinematográficas, como na ocasião da inauguração do HMC, em que chegou correndo, se jogou no chão e gritou que a obra era uma “fraude” - tudo isso, é claro, enquanto fazia uma live nas redes sociais. Em resposta às atitudes do vereador, a base de Emanuel na Câmara entrou com diversos pedidos de cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar.

Abílio enquanto vereador, na CPI que decidiu por sua cassação (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Abílio foi cassado em março de 2020 por 14 votos a 11. Já em maio, o juiz Carlos Roberto Barros de Campos, da Quarta Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá, determinou a imediata recondução dele ao cargo de vereador da capital. A força do opositor de Emanuel já estava muito maior quando seu atual partido decidiu que ele seria candidato à Prefeitura em uma chapa com outro vereador, Felipe Wellaton, do Cidadania. Ele também tem na coligação seu antigo partido, o PSC.
 
Além de Abílio, Emanuel tinha outro inimigo político declarado, o governador Mauro Mendes (DEM), seu antigo aliado. A expectativa era que o partido do governador lançasse um nome para a disputa, e o mais cotado foi o presidente estadual do Democratas, Fábio Garcia. O projeto não se concretizou, e Mauro e o Democratas decidiram apostar em Roberto França (PATRI), indicando seu candidato a vice, o vereador Marcelo Bussiki. França é radialista, apresentador de TV e foi prefeito da capital por dois mandatos, de 1997 a 2004. Bussiki fez oposição a Emanuel na Câmara.
Roberto França em carreata na campanha de 2020 (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Aos 72 anos, França já foi também vereador, deputado estadual e deputado federal. Nesta eleição, chegou com apoios de peso e colocando-se como opositor de Emanuel e representante da experiência e conhecimento sobre a cidade. Começou a campanha muito bem, mas foi caindo nas pesquisas de intenções de voto à medida que Abílio. Roberto está, além do Patriota, seu partido, com o DEM, do governador, e o PSD, do senador interino e candidato à reeleição Carlos Fávaro. Apesar da aliança com o PSD, França apoia para o Senado a candidata de seu partido, Patriota, Coronel Fernanda. Na recíproca, Fávaro permanece neutro em relação ao pleito municipal.
 
A terceira via, que surgiu fraca e passou a incomodar França, foi também a única mulher e única negra na disputa: a ex-superintendente do Procon Gisela Simona (PROS). Estreante na disputa política pelo Executivo, ela foi uma das candidatas a deputada federal mais votadas em 2018, com 50 mil votos. É especialista em direito do consumidor e esteve à frente do Procon por muitos anos.

Gisela Simona (dir.) e o candidato a vice Fabrício Carvalho (PDT) em campanha na rua (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Sua candidatura foi chancelada com apoio do advogado milionário Euclides Ribeiro, candidato ao Senado pelo Avante, e surgiu após a união com o maestro Fabrício Carvalho, do PDT, que, antes disso, era pré-candidato a prefeito, e decidiu entrar como vice na chapa da candidata do Pros.
 
Apesar de sua boa votação em 2018 para deputada federal, Gisela entrou tímida no pleito municipal, ganhando destaque principalmente após o primeiro debate na TV Vila Real, quando Abílio disse que ela era uma ótima candidata “mesmo sendo mulher”. O embate deu visibilidade à advogada, que subiu em todas as pesquisas, chegando a aparecer como a única que ganharia de todos adversários em um possível segundo turno. Além de PDT e Avante, Gisela também tem em sua coligação a REDE.
 
Segundo turno, inclusive, é outra tradição da eleição cuiabana. A última vez em que um candidato venceu o pleito em apenas uma votação foi há 20 anos, quando em 2000 Roberto França, então do PSDB, teve 55,14% dos votos. Em segundo lugar ficou Serys Slhessarenko, do PT, com 25,17%. Neste pleito, inclusive, Emanuel Pinheiro, então do PFL, teve apenas 3,04% dos votos. Desta vez, Roberto luta para não sair da disputa já neste 15 de novembro.

Demais candidatos
 

À parte da ‘briga’ entre os quatro principais indicados para ir ao segundo turno, há, ainda, outros quatro nomes que disputam em 'chapa pura', ou seja, com candidato a prefeito e vice do mesmo partido.
 
O Partido dos Trabalhadores (PT), que em 2012 chegou ao segundo turno com o candidato Lúdio Cabral, mas perdeu para Mauro Mendes, à época pelo PSB, tem como candidato atualmente o ex-juiz federal Julier Sebastião. O principal feito de sua biografia foi ter mandado prender o ex-bicheiro Arcanjo Ribeiro.

Julier em 2016, fazendo campanha pelo PDT (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Após se aposentar da magistratura, Julier foi para o MDB, onde não conseguiu ser candidato. De lá, foi para o PDT, partido pelo qual saiu candidato a prefeito em 2016, e teve 8,12% dos votos. Mudou para o PT no final de 2019 e neste ano saiu candidato tendo como vice a professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Vera Bertolini.
 
Mais jovem e concorrendo em seu primeiro pleito, o advogado Aécio Rodrigues tem 29 anos de idade e é presidente estadual do Partido Social Liberal (PSL). A filiação de Aécio ao PSL aconteceu em fevereiro de 2020. Ela foi acordada com o presidente nacional da sigla, deputado Luciano Bivar, durante reunião em Brasília, após convite da deputada Janaína Paschoal e do senador Major Olimpo. Aécio, que presidia o partido Democracia Cristã (DC) em Mato Grosso, assumiu o comando do PSL no Estado em substituição a Nelson Barbudo, que foi destituído do cargo no final do ano passado. O deputado Ulysses Moraes também passou a fazer parte do Diretório.

Aécio Rodrigues, candidato ao PSL, em entrevsita ao Olhar Direto (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O advogado entrou na disputa com o Professor LAC, do PRTB, como candidato a vice-prefeito, mas viu a parceria se desfazer e LAC declarar apoio a Abílio a menos de um mês da eleição. Com isso, o advogado Vinicius Miranda, também do PSL, ocupou o lugar deixado por LAC, tornando a candidatura uma ‘chapa pura’. Apesar disso, ele tem na coligação o partido de Elizeu Nascimento, o Democracia Cristã. Uma de suas tentativas ao longo da campanha foi de 'colar' sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu enquanto estava no PSL, apesar de sair do partido após o 'racha'.
 
Representando o liberalismo econômico, Paulo Henrique Grando é candidato pelo ‘Novo’, partido criado no Brasil em 2011 por 181 pessoas sem carreira política. A sigla ficou mais conhecida em 2018, com a candidatura de João Amoêdo à Presidência da República.

Paulo Henrique Grando, candidato pelo Novo, chegando ao debate da TV Vila Real (Foto: Olhar Direto)

Grando é consultor em gestão e se tornou o primeiro candidato da história do partido Novo para prefeitura de Cuiabá. Nascido em Barra do Garças, mas vivendo na capital por mais de 30 anos, ele conta com o empresário milionário Alvani Laurindo como vice.
 
Gilberto Lopes Filho, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), é servidor público federal e entrou na disputa com Itei Silva Daltro como vice. Ele é formado em administração pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e tem pós-graduação em gestão pública.

Gilberto Lopes, candidato pelo PSOL, chegando ao debate da TV Vila Real (Foto: Olhar Direto)

Já teve cargos nas antigas Sanemat e Sanecap, na Secretaria de Planejamento do Estado e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Gilberto também já participou de oito eleições. Ele foi candidato a vereador (2004), deputado estadual (2006), deputado federal (2010), vereador (2012), senador (2014), vereador (2016), senador (2018) e, agora em 2020, à Prefeitura.
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