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"Relatou com naturalidade, para ele parecia algo normal", diz delegado sobre bolsonarista que matou opositor com 15 facadas

Da Redação - Bruna Barbosa

O fato do auxiliar de serviços gerais Rafael Silva de Oliveira, de 20 anos, não ter demonstrado arrependimento enquanto descrevia como matou, com 15 facadas e um golpe de machado no pescoço, o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, de 44, na noite de quinta-feira (7), em Confresa, chamou atenção do delegado responsável pelo inquérito.

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O homicídio foi motivado por divergências políticas, já que Rafael é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Benedito tentava defender o ex-presidente Lula (PT). O delegado titular de Confresa, Victor Oliveira, explicou que Rafael relatou o crime com naturalidade. 

"Em nenhum momento demonstrou arrependimento, relatou o caso com bastante naturalidade, para ele foi algo normal", disse o delegado ao Olhar Direto

A vítima já estava correndo, desarmada. mesmo assim ele continuou, no meu entendimento já está descartada a legítima defesa

Rafael foi indiciado por homicídio duplamente qualificado e meio cruel. Em depoimento, ele alegou que na noite de quarta-feira (7), a vítima estava na casa da chácara onde trabalhavam fumando um cigarro. Em determinado momento, eles começaram a falar sobre política e se desentenderam. 

Benedito, então, teria desferido um soco no queixo de Rafael, que revidou com um golpe no peito dele. Os dois chegaram a se acalmar, mas o suspeito relatou que a vítima pegou uma faca e ficou parado. Rafael foi para cima do colega de trabalho e conseguiu pegar a faca. 

Depois de correr atrás da vítima, Rafael conseguiu esfaqueá-la nas costas e, em seguida, desferiu outros golpes. Benedito foi esfaqueado na testa, em um dos olhos e no pescoço. 

O delegado descarta a tese de legítima defesa. Para ele, a quantidade de facadas configuram "meio bastante cruel" e ressaltou que a vítima já estava "praticamente indefesa". 

"No meu entendimento não configurou jamais legitima defesa, ele poderia ter desistido, a vítima já estava correndo, desarmada. Mesmo assim ele continuou, no meu entendimento já está descartada a legítima defesa". 

Suspeito e vítima não eram fanáticos políticos 

Segundo o delegado, os dois não eram fanáticos políticos e não participaram de qualquer manifestação realizada no feriado de 7 de Setembro a favor dos candidatos à presidência. Victor explicou que uma carreata em apoio ao presidente Bolsonaro foi realizada em Confresa, mas os dois não participaram e outras ocorrência do tipo não foram registradas. 

"Aqui [Confresa] teve o desfile de 7 de setembro e uma grande carreta também, só que nenhum dos dois participou do evento, tendo em vista que eles estavam na chácara e também não eram fanáticos. Eles começaram a se desentender, foi uma discussão banal mesmo", lamentou. 

Natural de Goiás, Benedito era pouco conhecido na região e não tinha familiares na cidade, para onde estava a trabalho. Poucas pessoas souberam falar sobre ele. Já Rafael, que residia há mais tempo em Confresa, tinha passagens criminais por delitos cometidos na cidade.

Apesar disso não tinha parentes na região, apenas uma irmã em Cuiabá, com quem não tem relacionamento. Durante depoimento, ele não indicou nenhum contato para ser avisado sobre a prisão. 

Bolsonarista buscou atendimento médico


Após esfaquear Benedito e fugir da chácara, Rafael procurou um hospital por conta de ferimentos nas mãos. Na unidade de saúde, ele afirmou que havia sido vítima de um roubo. No entanto, os militares já tinham conhecimento do homicídio e o bolsonarista era considerado suspeito.  

De acordo com boletim de ocorrência, Rafael disse para outro colega de trabalho, listado como testemunha do caso e responsável por ter achado o corpo de Benedito, que dois homens invadiram a chácara e mataram a vítima. 

O trabalhador desconfiou da versão e alertou a patroa. Rafael ainda chegou a pedir dinheiro para a chefe, que decidiu acionar a Polícia Militar. 


O delegado representou pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva. O juiz da 3ª Vara de Porto Alegre do Norte, Carlos Eduardo Pinho, acatou o pedido em audiência de custódia realizada quinta-feira (8). 

Na decisão, o juiz cita que há indícios suficientes para a qualificação da prisão, uma vez que, o acusado já responde por outros crimes contra a vida.  Ele diz ainda que a intolerância não deve e não será admitida.

"Assim, em um Estado Democrático de Direito, no qual o pluralismo político é um dos seus princípios fundamentais torna-se ainda mais reprovável a conduta do custodiado. A intolerância não deve e não será admitida, sob pena de regredirmos aos tempos de barbárie. Lado outro, verifica-se que a liberdade de manifestação do pensamento, seja ela político-partidária, religiosa, ou outra, é uma garantia fundamental irrenunciável". 
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