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Empresário mato-grossense muda identidade visual de loja para verde e amarelo em homenagem a Bolsonaro

Da Redação - Érika Oliveira

No início deste mês, um dia após os atos do 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) rebateu, em uma de suas lives, falas de que ele tenha "sequestrado" a bandeira do Brasil para fins políticos e disse que a esquerda "rasgava e sapateava" em cima do símbolo nacional. Na ocasião, pediu ainda que seus apoiadores pendurassem em suas janelas a bandeira do País e que instigassem seus vizinhos de orientação política oposta a fazerem o mesmo.

A mais de 1.370 km de Brasília, na cidade de Tangará da Serra, o empresário Alfredo Acacio Nuernberg, 61 anos, atendeu à convocação do presidente exatamente um ano antes, após participar de manifestações a favor do presidente Bolsonaro na Capital Federal.

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Paranaense de nascimento, Nuernberg mudou-se para Mato Grosso há mais de 30 anos, onde se estabilizou como empresário do agronegócio. Bolsonarista raiz, ele voltou da viagem a Brasília em 2021 com uma determinação: mudar as cores de seu estabelecimento, situado há 23 anos em uma das principais avenidas de Tangará da Serra, para verde, azul e amarelo.

“Era tudo vermelho e preto. Voltei de Brasília e mandei pintar tudo. Nossa bandeira jamais será vermelha”, disse à reportagem, repetindo uma expressão comum entre bolsonaristas para se opor à cor do PT, sigla do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que protagoniza a disputa eleitoral deste ano com o atual mandatário.



Desde o ano passado, o 7 de Setembro passou a ser uma manifestação dos apoiadores do presidente, com convocação do próprio Bolsonaro. A apropriação de símbolos nacionais historicamente aparta a população dos países onde isso ocorre, em ambientes polarizados, e gera rejeição aos símbolos pelos adversários políticos. A tal ponto que, nos últimos tempos, há quem enxergue na bandeira menos a nação e mais o terço do eleitorado fidelíssimo ao bolsonarismo.

Tangará da Serra, cidade onde Nuernberg vive, é considerada uma das mais bolsonaristas do País. Em 2018, o presidente se elegeu na cidade com 77,15% dos votos válidos. Na avaliação do empresário, o percentual irá se manter em 2022. “Todo mundo é [bolsonarista], você praticamente não vê eleitor de outros candidatos. Tem um ou outro, mas a imensa maioria está com o presidente. Aqui, até a pequeninha de 3 anos é Bolsonaro”, garante, mencionando a neta.

O município, além disso, é um dos que mais “exporta” apoiadores do presidente para atos fora do Estado. O empresário é um dos organizadores das caravanas. “Já levamos 3 ônibus lotados para Brasília”, conta Nuernberg, que se aproximou da militância através do Movimento Brasil Verde e Amarelo.



A organização representa cerca de 200 entidades ligadas ao agronegócio e é responsável, por exemplo, por espalhar outdoors bolsonaristas por todo o Mato Grosso.

Nuernberg, no entanto, não se considera um eleitor fanático. “Ele [Bolsonaro] é um homem honesto, que luta pela nossa liberdade, contra a esquerda, defende o nosso agro. É uma questão de patriotismo, de amor pelo Brasil”, afirma.

“Brasil acima de todos”

As cores da bandeira, assim como outros símbolos nacionais, vêm sendo utilizada por movimentos conservadores antes mesmo do bolsonarismo ganhar força.

Em 2013, manifestações contra a corrupção tingiram as ruas do País com o verde e amarelo.

Bolsonaro, por causa de sua formação militar, tem uma reverência natural aos ícones da pátria, vide o slogan da sua campanha, “Brasil acima de todos”.



Mas não foi só por aqui que movimentos conservadores passaram a reivindicar emblemas nacionais. Suíça, Hungria e Espanha foram alguns dos países que testemunharam processos semelhantes nos últimos anos.

A estratégia, de acordo com a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, ainda é comum em regimes populistas em geral, categoria na qual ela enquadra o governo Bolsonaro. Ao elevarem a pátria, eles transformam adversários em inimigos, bodes expiatórios.

Há ainda um outro elemento da história recente que explica a identificação da nova direita com o verde e amarelo, segundo Schwarcz: o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, que, segundo a historiadora, marca o início da polarização política de hoje.
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